sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quatro sentimentos de um sportinguista

Estou triste. Amargurado. Desiludido. E fodido da vida.
Estou triste porque ainda sou de um tempo em que o futebol, mesmo aquele disputado acerrimamente por Sporting, benfica e porto era algo saudável. Os jogos eram às 15 horas da tarde, nas bancadas havia verdadeiro convívio entre adeptos, mesmo de clubes rivais, sendo as crianças presença assídua e normal nos jogos. As claques serviam para apoiar os clubes. Apesar de um ou outro cântico mais ríspido, ou de uma ou outra palavra de ordem mais ordinária, as claques pertenciam à parte bonita do futebol. Quem não se lembra de como era a curva sul do velhinho Alvalade? Lindo! Nesses tempos, princípios dos anos 80, era impensável imaginar que algum adepto poderia ser assassinado por delito de opção futebolística. Não havia mil e tal comentadores facciosos e tendenciosos a minar a opinião pública. O jornalismo desportivo, consignado ao canal público e a três jornais tri-semanais, falava de futebol, não de "tendências". Vejam o que começou a mudar em meados de 80 e como foi possível chegarmos ao estado em que o futebol chegou hoje.
Estou amargurado porque não prevejo melhoria a este futebol nacional. A última semana foi exemplar: o presidente do benfica teve uma atitude desprezível e completamente descabida perante a gravidade de ter morrido um adepto às portas do seu estádio. Comparem o que se escreveu quando os super-dragões cantaram a música do Chapecoense com o que se escreveu após a morte do Ficcini. Como é possível ignorar as ligações mais que evidentes entre a claque "ilegal" No Name Boys e o benfica? Vivemos num país onde quase metade da população é simpatizante de um clube de futebol, pelo que a comunicação social está constantemente embrulhada nesse dilema entre desmascarar o presidente sonso do clube com mais adeptos e perder audiências ou então ignorar os gritos à sua volta e agradar ao adeptos do clube do regime. Nós, Sporting, enquanto andarmos a batalhar contra toda a sujidade que vem do outro lado da 2.ª circular, seremos sempre os maus da fita, os desestabilizadores, os incendiários. Quando a abertura de um restaurante é mais importante que um seminário onde se debate o futuro do futebol, está tudo dito.
Estou desiludido porque há uma verdade insofismável nisto tudo. É que para continuarmos a ter razão e moral para criticarmos o que se passa no futebol, também temos de mostrar um futebol com mais qualidade e resultados do que este que temos mostrado. Precisamos do Sporting da época passada, para que todos vejam e reflictam como é possível aquela equipa ter perdido o campeonato para a que o ganhou. Sem esse "moral" de mostrarmos que os outros só nos ganham com artimanhas e jogo baixo, também nos começam a faltar forças para lutar contra o Estado Lampiânico. Tínhamos de incutir na equipa precisamente aquela raiva, que todos os sportinguistas sentiram quando o último campeonato acabou e viram a tremenda injustiça que se passou. Os jogadores tinham de rasgar o equipamento, bater com os punhos cerrados no chão, gritar de raiva, como muitos de nós fizemos. Deviam entrar em cada jogo deste campeonato com ganas de demonstrar, em 34 passos, o embuste que foi a época de 2015/2016. O jogo do passado sábado, poderia ter sido preparado psicologicamente para explorar essa "raiva" contida nos jogadores. E estou desiludido porque, claramente, e como nos outros jogos da época, essa "raiva" não foi incutida. Ou se foi, a mensagem não passou.
E por isso estou fodido da vida. Li aqui há tempos que o André Villas-Boas, quando chegou ao porto no verão de 2010, a primeira coisa que fez foi colar fotos no balneário de jogadores do benfica a festejar o título da época anterior. Quis incutir precisamente aquela "raiva" que falei atrás. Todos sabemos como foi essa época de 2010/2011, mesmo com os empurrões azuis no inicio da época. Estou fodido da vida porque tenho de recuar quase até à década de 80 para me lembrar de equipas do Sporting aguerridas, agressivas, viris, que entravam em campo com tudo. Temos um presidente que se atira de cabeça contra tudo que seja contra nós, temos uma massa associativa e adepta que está com o presidente, que puxa pela equipa, que está sedenta de justiça. Estava na altura de termos uma equipa que fosse o espelho do presidente e dos sportinguistas, com jogadores que em campo fossem uns verdadeiros leões! E nem eu, nem nenhum outro sportinguista, depois do fracasso que foi esta época, admitiremos algo pró ano que não seja assim.

3 comentários:

  1. Atitude desprezível é o comportamento de um certo presidente e sua corte ao longo deste últimos 3-4 anos, o resto apenas ajuda à festa lamentável que o futebol português se tornou. Não ganhar nada à décadas tolda a razão e bom senso e vê-se na rivalidade clubistica um inimigo que apenas assume formas de tudo o que é mau. Lamentável a continuidade destes pontos de vista que sinceramente me parecem apenas e só (a curto-médio prazo) prejudicar o sporting e acima de tudo o nosso campeonato nacional. Temo que seja irreversível um regresso aos tempos saudáveis que recorda no início desta crónica

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    1. Uma mentira, mesmo que repetida até à exaustão, não se transforma em verdade. O futebol português não se tornou nada nestes últimos 4 anos. Já o era há pelo menos 20 anos e o actual presidente do Sporting, neste aspecto concreto, em nada contribuiu para o seu agravamento. Veja-se a rivalidade benfica/porto desta época com benfica/Sporting do ano passado. Este ano as coisas estão muito piores, mais extremadas. E não foi por culpa de BdC. A violência no futebol português é algo que está directamente ligado e implicado a benfica e porto e à guerra que estes dois clubes travam pela hegemonia no desporto-rei.

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