terça-feira, 18 de abril de 2017

O teu cântico é pior que o meu

A guerra dos cânticos é o novo episódio emergente do panorama futebolístico nacional. Podemos olhar para este fenómeno por dois lados: por um lado, parece-nos ser um bom exemplo daquela velha máxima que nos avisa que "por vezes, o feitiço vira-se contra o feiticeiro"; por outro lado, também é um bom fait-diver para não prestarmos muita atenção ao que de sério se vai passando pelo nosso futebol actual: agressões impunes, castigos absurdos, alegações de "desincentivos" a futebolistas, futebol medíocre.
O primeiro lado é o que nos agrada mais, pois traz consigo algo de justiça divina, "moral da história" e, até, uma ponta de romantismo. Tudo terá começado quando umas quaisquer cabeças pensantes do estado lampiânico, desejosas de acertar contas com o "macaco" desde o jogo da selecção e da visita do porto à Luz, decidiram empolar um cântico dos super-dragões. Inicialmente a coisa correu conforme o guião - ou a cartilha. O assunto foi falado e noticiado até à exaustão, os telejornais deram-lhe destaque no horário nobre, nem faltando sequer a reacção chocada dos adeptos brasileiros com a "torcida" portista. Mas como diz o povo sábio, isto de ter telhados de vidro e rabos de palha é o diabo. É certo que os deuses deviam estar para aqui virados, pois na semana seguinte a essa polémica puseram o Sporting a jogar duas vezes na Luz, em futsal e andebol. E eis então que o país assistiu, ainda com mais ondas de choque, a algo que anualmente se repete cada vez que as nossas equipas visitam Carnide: cânticos e assobios a celebrar o very-light. Só faltou a tarja exibida há dois anos. É certo que nas notícias ninguém referiu que esse é um cenário que se repete há já vários anos quando visitamos o benfica. Também é certo que quase ninguém se lembrou de ir buscar as imagens da tarja ou das declarações do porta-voz oficial do benfica sobre o assunto. Mas pronto, alguém meteu a viola no saco e o rabinho entre as pernas. Ainda tentaram comparar isto, ou até desculpar, com a exibição de uma tarja (infeliz) sobre um acidente na Croácia ou os assobios ao Eusébio no minuto de silêncio em sua memória. O problema é que aqui, como também no caso do cântico dos super-dragões, as direcções dos clubes demarcaram-se e repudiaram os actos, não tendo gozado ou tirado importância ao ocorrido. E é um fartote de riso ver as contorções intelectuais que a inteligência benfiquista usa para demonstrar que a sua massa adepta não é tão má ou pior que a de porto ou Sporting. Então esta que os assobios a imitir o very-light seriam afinal imitações do voo picada da águia.... lampions gonna lampionate 4ever!
O outro lado é o mais macabro, manipulador e sórdido desta história. É pensar que alguém lançou esta guerra dos cânticos tal como lança areia para o ar. É que enquanto o Billy Jigsaw andou a perder tempo a escrever sobre isto, não escreveu sobre o castigo ignóbil de 113 dias de suspensão de Bruno de Carvalho, na vergonhosa dupla "absolvição" de Samaris, nas declarações de Briguel antes do jogo contra o benfica, no que disse o presidente do Rio Ave sobre a abordagem do benfica a Gil Dias, curiosamente na mesma altura em que o director de comunicação do porto deixou algumas insinuações no ar sobre um César, na cartilha, etc. etc. etc.
Infelizmente este é o lado em que mais se revê o nosso futebol, não é com romantismos ou finais de história com moral.

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