sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Os brunistas, os anti-brunistas e os sportinguistas que só querem um pouco de paz

Neste momento o Sporting Clube de Portugal é um clube minado e completamente partido, graças a dois grupos de autistas que teimam em digladiar-se numa luta sem fim.
De um lado estão os chamados "anti-brunistas", "croquetes" ou "sportinguenses", cujo único objectivo da sua luta é a de negar a história do clube nos últimos 6 anos, nem que para isso tenham de deturpar os factos. Para estes, Bruno de Carvalho deixou um legado destrutivo e catastrófico, quer do ponto de vista desportivo, quer financeiro. Todas as conquistas desportivas, títulos nacionais e internacionais conquistados, a recuperação da imagem de clube grande, tudo isto foi embrulhado e majestosamente ignorado. A época de 2018/19 foi a melhor dos últimos 17 anos, esquecendo as épocas de 2004/05, 2006/07 ou 2015/16, onde só não fomos campeões porque não nos deixaram. O "legado" de BdC continua a servir para desculpar uma das mais incompetentes direcções da história deste clube. Aos anti-brunistas não lhes bastou o auto-de-fé em que expulsaram de sócio o seu ódio de estimação. São os próprios que com a sua tendência natural para atacar BdC, alimentam o seu fantasma. São eles que ao falar da "pesada herança" não deixam os seus apoiantes fazer o luto e seguir em frente. São os primeiros a puxar-nos pela memória e a fazer-nos lembrar de como tudo era diferente (para melhor) há uns 2 ou 3 anos.
Do outro lado estão os "letais", "leais" ou "brunistas", cujo único clube que conhecem é o Sporting Clube do Bruno. Para estes, os 71% que votaram pela destituição são rabolhos travestidos de croquetes, com algum desequilíbrio mental. Não lhes passa pela cabeça que a larga maioria dos 71% que votou pela destituição, não votou contra o legado do BdC ou até contra o BdC. A larga maioria votou porque já estava enjoada, farta, nauseada, do massacre diário que se assistia na televisão ao nosso clube. Os 71 só queriam que o pesadelo acabasse, que se voltasse a discutir de bola, do jogador que sai ou entra. Sim, porque nem todos temos estofo de soldados, quanto mais aguentar um estado de guerra permanente. Para os "leais", essa guerra é a sua razão de existência. Para todos os outros não. Os 71% acreditavam que haveria tempos de guerra e tempos de paz. E por agora queriam a paz, a bem do clube e da sanidade da sua militância.
Para bem do Sporting Clube de Portugal, pela manutenção da saúde mental dos sportinguistas, peço aos dois grupos que abandonem o seu autismo suicida. Aos anti-brunistas peço-lhes que não nos façam de parvos nem nos tomem por crianças. Não tentem passar uma borracha e escrever por cima da história, porque nós não somos burros. Nem temos má memória, lembramo-nos muito bem de como estava o clube em 2013. E onde ele chegou nos anos seguintes. Vimos o caminho de pedras que foi palmilhado. Ignorar ou esconder isso chega a ser insultuoso. É infame e ultrajante.
Aos brunistas peço que não caiam no erro da luta suicida. Os kamikazes, por muita honra e bravura que tiveram, perderam a guerra. Tenham o bom senso de perceber que há um tempo para tudo. Há um tempo para a guerra e um tempo para a paz. Há alturas em que antes de darmos dois passos em frente, temos de dar um para trás. Se os anti-brunistas nos tratam como parvos, não é por vocês nos chamarem de parvos que serão melhores do que eles. Deixem de lado o insulto fácil, baixem a guarda. Se querem mesmo recuperar o legado que tanto defendem, comecem por fazê-lo nas instâncias legais. É preciso marcar uma AG para revogar a expulsão do BdC? Façam-no! Querem promover uma AG para destituir o Varandas? Avancem! Se o BdC, mesmo voltando a ser sócio, não quiser voltar à presidência? Organizem-se e arranjem alguém capaz de continuar o que de bom ele fez! Sem insultar, sem agredir, sem cuspir no vosso consócio. Bruno de Carvalho chegou lá assim, outros também o conseguirão, decerto.
Até que essa paz surja, não exijam resultados a jogadores ou equipas técnicas. Não é possível exigir compromisso e foco a um grupo, quando na bancada os adeptos andam à estalada.
Não tornemos Alvalade num inferno, pelos piores motivos.
Saudações leoninas!

terça-feira, 24 de setembro de 2019

A bazófia varandense ou como pela boca morre o peixe

Regra de ouro: se não queres ser lobo, não lhe vistas a pele. Também não a vistas se não tens arcaboiço para tal. Podes dar-te mal.
Vem esta introdução a propósito do presidente do nosso clube, o tal que me disse a mim, em Agosto, para não estar preocupado. Sim, esse mesmo. Aquele que diziam que futebol era "fácil, fácil". 
Começo por dizer que Frederico Varandas, enquanto médico do nosso clube, sempre me mereceu a mais elevada consideração. Depois de um inenarrável Gomes Pereira, onde tudo o que era aleijado e perneta passava nos testes médicos, sem falar as lesões crónicas que se arrastavam pelos corredores, Varandas surgiu como uma lufada de ar fresco no departamento médico. Como ele apareceu lá, não vou comentar. Com ou sem cunha, Varandas foi um excelente profissional e por isso merecedor de toda a estima do universo leonino.
Diz também outro ditado que "em arca aberta, o justo peca" ou "a ocasião faz o ladrão". Trocado por miúdos, diria que o sempre sábio povo quis assim caracterizar aquela coisa tão humana que é de ceder às tentações, quando elas nos aparecem à frente. E essas tentações surgem no futebol de diversas maneiras, todas elas muito apelativas: sob a forma de um contrato chorudo que lhe acenam de um campeonato mais competitivo, ou aquele reconhecimento público em festas e saraus, só ao alcance das personagens mais mediáticas. Enfim, lá saberão porque dizem que as luzes da ribalta são intensas e ofuscam quem delas se aproxima. 
Foi o que aconteceu em Maio de 2018 com Frederico Varandas. No meio de uma das tempestades mais violentas que assolou o território leonino, alguém soprou ao ouvido do respeitado e consagrado médico que estava ali uma oportunidade de ouro. Varandas, é fácil de imaginar, terá numa primeira fase afastado essa voz sussurrante, tal o temor que lhe inspiraria a ideia de tomar conta de um clube em cacos. Mas da mesma forma que o canto sussurrante das sereias guiavam os barcos dos inauditos viajantes contra as pedras, também o nosso consagrado médico se deixou hipnotizar perante outros "cantos de sereia". Viu ali a "arca aberta" da oportunidade de ascender a presidente do seu clube. De repente, todo aquele temor inicial se desvaneceu, os seus olhos arregalaram-se perante a prespectiva de se sentar na cadeira presencial, sentindo uma leve tesão com a ideia de deixar de ser tratado como "senhor doutor" e passar a ser o "senhor presidente". E foi assim que, ainda a poeira em torno de Alcochete andava pelo ar, surgiu-nos pela frente o doutor Varandas, qual Dom Sebastião a atravessar o nevoeiro, recebido logo pela comunicação social maldosa como herói providencial da nação leonina. Quando o leão deveria estar recolhido no seu covil a lamber as feridas, Varandas preferiu romper com tudo e declarar guerra. Foi o primeiro a mandar às malvas a tal "união" que agora defende, apresentando-se como candidato de umas eleições que nem sequer estavam cogitadas. Marcou um passo claramente maior que a sua perna.
O jovem médico, quiçá para demonstrar a sua faceta de herói duro e único com estofo capaz de reerguer a nação leonina, uma espécie de Churchill do Sporting, resolveu vestir a sua pele de lobo. O problema, logo para começar, é que Varandas não é "lobo". Não tem estrutura mental, arcaboiço intelectual ou conhecimentos empíricos de futebol para ser um "lobo". Ao contrário de Bruno de Carvalho, com quem Varandas se queria equiparar, o ex-médico não tem dom de palavra nem de oratória, não tem estofo para tomar uma decisão da qual possa resultar uma crise contra meio mundo desportivo. Varandas não despediu Keizer no final da época passada porque não tinha estômago para enfrentar as indignações dos Abrantes Mendes desta vida. Não foi até às últimas consequências com os processos de rescisão porque teve medo de perder a acção, mesmo sabendo que também a poderia ganhar. Preferiu aproximar-se de Jorge Mendes do que manter os princípios do Sporting. Nos momentos decisivos, Varandas encolhe-se. Tal como ontem Leonel Pontes se encolheu e tirou Vietto da equipa. Neste momento temos um clube que é o espelho de quem o dirige, isso é inegável.
Pelo meio, para dar mais crédito à sua pele de lobo, o cordeiro Varandas enveredou naquele caminho patético que encontra respaldo em muita "elite" croqueteira: aquela bazófia bacoca, importada do outro lado da segunda circular, que não é mais do que uma tentativa de infantilizar os sócios leoninos. Essa bazófia do "fácil, fácil", "não estou preocupado" ou "temos uma grande equipa", mais não serviu do que atirar areia para os olhos de todos aqueles que assistem espantados e consternados à queda abrupta da qualidade da nossa equipa de futebol. Há dois anos ombreavamos em Alvalade contra Juventus ou Barcelona. Hoje somos trucidados em casa por qualquer clube que saiba circular a bola e explore as nossas fragilidades defensivas. Fácil, não é?
Mas se a bazófia croquete de um Pedro Madeira Rodrigues foi facilmente desmascarada e ridicularizada pelo universo leonino, já a de Varandas custou-me que tenha sido aceite e engolida pelos sócios, pois um olhar atento pela campanha eleitoral já deixava adivinhar essas fragilidades no ex-médico. Por isso defendo que o mandato de Varandas seja levado até ao fim, para todos aqueles que o apoiaram e nele votaram sintam bem as consequências dos seus actos.
Quanto à presente época, onde à sexta jornada já estamos a 8 pontos do primeiro lugar, só peço uma coisa: um treinador competente e de renome, com pulso forte, para impedir que aquele balneário fique mais estraçalhado que a cidade da Kandahar.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Varandas e a ética merdosa, da elite merdosa

Na vida deparamo-nos com vários tipo de situações: as chatas, as tristes, as alegres ou as efusivas. Também há outro tipo de situação que não consigo nomear, mas que posso descrever: é aquele misto de sensação em que estamos de tal modo amedrontados com o que possa acontecer, que ao mais pequeno brilho de sol quase que rebentamos de euforia. É uma espécie de síndrome de Estocolmo, mas amplificado a uma escala quase infinita.
O Sporting tem-me proporcionado momentos em que passo por esse tipo de situações. Fico alegre com cada vitória nossa e um dos momentos mais efusivos da minha vida terá sido com o golo do Miguel Garcia ao Az Alkmaar ou do André Cruz ao Salgueiros, a 14 de Maio de 2000. Também me proporcionou coisas chatas, como aquele empate em Setúbal há dois anos, nos últimos minutos. Mas ultimamente tem-se aprimorado em proporcionar momentos tristes aos seus adeptos. O jogo contra o Boavista foi de uma tristeza sem fim, como tantos outros jogos que fizemos nestas últimas semanas. Quanto à situação de Síndrome de Estocolmo elevada à décima potência, passei por ela ontem. Dei por mim a ouvir deliciado o comentário cândido e simpático do comentador de serviço da SIC, relatando coisas como "até nem estão a jogar mal", "bom inicio de jogo", "controlo sobre o campo", quando o que eu via na TV era o Sporting a jogar contra um banal PSV, que sem grande esforço marcou 3 golos em jogadas que pareciam saídas de jogos de treino contra equipas inferiores. Cheguei ao ponto de exuberar com a exibição de uma equipa só porque ela conseguia transportar a bola da defesa para o ataque em 3 ou 4 toques de bola. Rejubilei de satisfação por ver que o nosso meio-campo conseguiu ontem falhar menos saídas para o ataque do que tem sido costume. E a cereja em cima do bolo, que foi a entrada de um avançado jovem, que por razões que se desconhecem não foi inscrito na Liga, mas que ao fim de 70 segundos em campo fez o que mais ninguém em campo estava a conseguir fazer: marcar um golo.
Hoje, encaro um jogo do Sporting assim mesmo. Só espero que façam umas jogadas bonitas ao longo dos 90 minutos, que falhem poucos passes e que tenham vontade em contrariar a tendência negativa dos jogos. Mas só isso não chega. Acho que ontem até jogámos um poquito melhor que no Bessa (ou menos mal, se preferirem), mas só isso não chegou para impedir a derrota diante de um adversário que jogou a passo a maior parte do tempo.
As coisas poderiam ter sido muito diferentes se quem comanda o clube percebesse que no futebol não ganham as boas intenções, nem aquela ética bacoca que uma determinada elite ainda hoje defende para o nosso clube. Quem ganha é quem tem os profissionais mais competentes, mais sabedores e mais trabalhadores, sejam eles os directores, os médicos, os treinadores ou os jogadores. Logo à cabeça surge-nos a questão do treinador, cuja (falta de) competência para treinar o Sporting já havia sido demonstrada na época passada. Justificar a sua continuidade com a desculpa de que não se deveria despedir alguém que ganhou duas taças, é um argumento cobarde e intelectualmente indigente. Cobarde, porque revela falta de coragem que quem decide em assumir o óbvio. Intelectualmente indigente, porque revela a fraqueza de espírito desta gente, que preferiu esconder-se atrás de uma ética duvidosa do que assumir a vontade em ter uma equipa ganhadora. A mesma ética duvidosa que muitos defenderam, em 2015, para não se despedir Marco Silva, que havia ganho sofrivelmente uma taça, coroando uma época onde a produção desportiva foi pouco mais que medíocre. A mesma ética que impediu o Sporting de ter procurado treinador mais capaz do que o sofrível Paulo Bento e os seus meritórios segundos lugares ou que defendia a continuidade de Peseiro na época passada, porque ele era uma pessoa simpática e coiso.
Será que esse tipo de decisões, tomadas contra essa ética merdosa do nosso clube e alimentada por uma elite não menos merdosa, só poderão ser tomadas por presidentes "aditivados" e mentalmente desequilibrado? Será muito pedir um presidente com personalidade forte, que saiba o que quer e não tenha medo de pensar e tomar decisões pela sua própria cabeça?
Não sei o que o nosso departamento de futebol pensa neste momento. Mas há um pensamento que me invade e me prende os movimentos, tal o pânico que me inspira. Leonel Pontes, já se viu, não tem arcaboiço para estas andanças. Mas se por ventura tiver a sorte de lhe cair um ou duas taças no colo, arriscava-se a continuar treinador para a próxima época. Pelo sim, pelo não, aconselho Hugo Viana e companhia a procurarem um excelente treinador para pegar na equipa já durante esta época, não vá o Leonel ganhar mesmo as taças e depois, lá está, terem de o manter para a próxima época, porque despedir um treinador assim não é "bonito".
Já não peço contratações de bons jogadores, nem inscrição dos nossos jovens na Liga. Só peço um bom, excelente treinador para disputar o que falta desta época com a dignidade que o nosso emblema merece. Temo muito que se isso não acontecer, Varandas dificilmente terá oportunidade em preparar mais épocas, enquanto presidente.

domingo, 1 de setembro de 2019

#XauKeizer e outras pérolas da estrutura fantástica

Quando no domingo passado chegou ao fim o nosso jogo com o Portimonense, ri que nem um desalmado. Acabávamos de chegar ao primeiro lugar, jogando um futebol miserável, previsível, onde a única táctica coerente é a de "passa ao Bruno que ele resolve enquanto corre com a bola".
Apesar de saber que aquela liderança era tão normal como a do Famalicão no final desta jornada, não pude deixar de sentir aquela sensação que o futebol ainda nos consegue ir dando. Aquela sensação de "então e se...". Imaginei um Keizer de mangas arregaçadas, a correr ao lado dos seus jogadores puxando por eles, enquanto lhes gritava "run, run motherfuckers, the title its in front of you, go catch it". Imaginei o Beto e o Hugo Viana a colar excertos das notícias da derrota da Supertaça ou excertos dos mails do benfica nos cacifos dos jogadores. Imaginei um leão a lamber as suas feridas, a olhar para si próprio e dizer "sim, eu quero, eu consigo, vamos lá".
Tudo não passou de um lindo sonho de verão. Keizer continuou preso na sua teia de autismo e apatia, demonstrando uma ambição digna de uma anémona ou de uma tulipa holandesa. Como se temia, bastou apanhar pela frente uma equipa minimamente organizada, com qualidade na circulação de bola e matreira o suficiente para explorar as costas da nossa defesa, para toda a nossa estratégia se desmoronar como um castelo de cartas.
A sorte de Keizer é que o Sporting ainda não conseguiu despachar todos os seus bons jogadores. Tem-se esforçado para isso, mas alguns ainda vão ficando e aguentando o barco. Ontem, mais uma vez, lá teve de vir o Bruno Fernandes rebentar a defesa vila-condense e empatar o jogo, enquanto na segunda parte, após um ressalto de bola, Luis Phellype só teve de encostar para o segundo golo. Estava consumada a reviravolta, mas no estádio pairava aquela ideia de que tudo tinha caído do céu aos trambolhões. Keizer parecia ofuscado com tanta felicidade e lá decidiu que o melhor seria reter a bola no meio-campo e tentar acalmar o jogo, em vez de aproveitar o embalo da equipa e tentar matar o jogo a trinta minutos do fim.
O resto é sabido. O Sporting decidiu continuar a deixar de jogar, entregando a posse de bola ao adversário. Pelo meio, Keizer não soube equilibrar a equipa de forma a ela não ficar em desvantagem nos duelos do meio campo. Carvalhal cheirou o medo do seu adversário e foi com tudo para disputar o resultado nos últimos minutos. Coates é tão somente o espelho deste Sporting: perdido, desorientado, animicamente quebrado. E éramos nós os lideres da liga.
Pelo caminho, o padre de serviço fez-lhe o que competia. Decidiu sempre contra os mesmos nos lances duvidosos. Mas fica por aqui a minha crítica à arbitragem. Não consigo falar de arbitragem quando esta derrota é fruto único e exclusivo da nossa (falta) de atitude. Fosse com ou sem penaltis, não conseguiríamos ganhar este jogo porque o nosso treinador não teve ambição para tal. Mesmo que o Acuña até conseguisse meter aquela bola dentro da baliza, cairíamos no próximo jogo pois este treinador simplesmente não tem mentalidade vencedora, não é um campeão.
E a nossa direcção, como fica no meio disto tudo? Fica mal, como é óbvio. Keizer foi uma escolha pessoal do presidente e anunciado como peça fundamental da sua estrutura para o futebol. Ao fim destes meses todos até dói pensar nisto. Acredito que Keizer, antes de chegar a Portugal, soubesse tanto do Sporting e do futebol português como eu sei do Ajax e do futebol holandês - Pouca coisa. Mas para isso mesmo é que serve uma estrutura para o futebol. Hugo Viana e Beto estão lá para, entre outras coisas, explicar que o Rio Ave faz-nos sempre a vida negra em Alvalade e que Carvalhal é dos treinadores mais experientes do futebol português. Estão lá para explicar que o Sporting joga sempre, SEMPRE, para ganhar. Para lhe dizer que em Portugal é demasiado fácil marcar-nos três penaltis contra, termos mais cartões amarelos e jogadores expulsos do que os nossos rivais directos. E se Hugo Viana ou Beto não servem para isso, bolas!!!!, está lá o Varandas, que assistiu a isto tudo durante anos a fio sentado no nosso banco de suplentes. 
E a cereja em cima do bolo, da nossa tal estrutura que Varandas prometia ser fantástica, é a incapacidade de conseguir contratar um trinco ou um ponta de lança com o mínimo de capacidade para jogar de inicio na nossa equipa. Pelo contrário, desbarataram os melhores que lá tínhamos: Nani, Montero, Bas Dost, agora Raphinha, e veremos como será com Bruno Fernandes. Pelo caminho ficou a prometida aposta nos jovens, que se esfumaçou assim que o estágio suíço terminou. 
A menos de cinco horas do fecho do mercado rezo à espera que a maravilhosa e ultra fantástica estrutura de futebol do Varandas desencante um ponta de lança e um trinco com capacidade para jogar no onze inicial. E que tenha a lucidez de perceber que com este treinador não vamos a lado nenhum, que temos de ir buscar outro com outro perfil.
Por fim uma palavra para o estado do nosso clube. Estamos compulsivamente a vender, em alguns casos mesmo em modo "saldos". Foi a venda de Bas Dost, com números ridículos, foram as saídas a custo zero de vários excedentários do plantel, é a tentativa quase desesperada de despachar Bruno Fernandes, foi agora este empréstimo de Bruno Gaspar a um clube com quem estamos em litígio, sem qualquer contrapartida financeira para o nosso lado. E agora parece que nos preparamos para vender aquele que tem sido o nosso melhor extremo no início do campeonato. Porquê esta postura frenética de vendedor compulsivo? Há alguma coisa nas contas do clube que não sabemos? O que é que mudou nas últimas semanas? Não concretizámos o empréstimo obrigacionista? Não conseguimos acordo com uma entidade bancária para fazer o factoring do contrato da NOS? Ou a direcção dá uma explicação cabal sobre esta loucura dos últimos dias ou então sinto-me tentado a acreditar que existe mesmo um plano para desfalcar o plantel, com o intuito de desvalorizar a SAD... e todos sabemos como terminaria essa história. 
Frederico Varandas cada vez mais se assemelha a um daqueles betos arrogantes e bazófias da Lapa, que acha que é o maior porque o pai lhe ofereceu um Maserati. O futebol era o mais fácil, a sua estrutura a melhor do mundo, ele o messias salvador do clube. Esperemos sinceramente que Varandas desça à terra nas próximas horas e perceba onde lançou o clube. A continuar desta maneira, não lhe auguro melhor destino do que Godinho Lopes em 2013. 

sábado, 6 de julho de 2019

As coincidências desta vidas

Não quero saber de nada e tenho raiva de quem sabe. Não, para mim chega. É demais.
Estou farto de lutas fratricidas, de guerras de trincheira, daquele maniqueísmo destrutivo que "ou és brunista ou és croquete", como se pelo meio não houvesse mais nada senão terra queimada. Mas há. No meio está o clube, o nosso clube, o Sporting Clube de Portugal. Enquanto toda esta lama se continuar a arrastar, quem sofre é o clube. E são aqueles adeptos que, como eu, só querem que o Sporting ganhe o próximo jogo.
Jurei para mim próprio que não veria um minuto de um noticiário, nem iria ler uma palavra de um jornal. Mas a realidade tem essa faceta que detestamos, mas que existe. Por muito que queiramos, a realidade esmaga-nos. E, ironia das ironias, esmaga-nos sempre pela forma que menos esperamos.
A mim esmagou-me pela forma de um programa televisivo chamado "Alta definição", um programa brilhantemente conduzido por Daniel Oliveira, cujo único objectivo é por o entrevistado a chorar e a lançá-lo aos espectadores com uma aura de empatia. Lembro-me de diversas entrevistas de Daniel Oliveira com diversas figuras da nossa vida pública, desde actores, políticos, jornalistas e desportistas. Lembro-me de Patrícia Mamona ter lá ido, assim como me lembro da excelente entrevista que conduziu com o Éder. Esta em especial, ao patinho feio da selecção, foi das mais brilhantes, pela forma como apresentou ao país o lado humano de um jogador de futebol que é constantemente gozado mas que se transformou no herói de uma nação.
A história do Éder não é muito diferente de um outro futebolista, que até há bem pouco tempo era conhecido pelo "franguício". O "franguício" que mal sabia falar mas cujo clube o obrigava àquela humilhação pública de ter de dizer ao país que "paciência, perdemos outra vez, mas vamos levantar a cabeça". Sim, aquele "franguício" a quem a Sagres chegou a fazer uma célebre publicidade, onde o punha no grelhador "a virar frangos". Já te lembras de quem estou a falar? Sim, esse mesmo "franguício", que depois passou a ser o melhor guarda-redes dos campeonatos que se seguiram, foi um dos salvadores da nossa selecção na final do Europeu de França, que preferiu esconder-se nos festejos a ter de assumir um protagonismo que deveria ser seu por direito. Esse mesmo, o tal que quando a selecção foi recebida em Belém, o Presidente se referiu como "tão importante como quem marca o golo decisivo, é quem não deixa que nos marquem golos decisivos". Ah, o velho Marcelo, naquela pose de bom cristão, a dar o foco da celebridade a quem sempre se escondeu.
Franguício, aliás Rui Patrício, merecia esta entrevista há pelo menos 3 anos. Não só esta, mas várias. Merecia que lhe perguntassem como aguentou toda a pressão de, ao mesmo tempo ser um dos melhores jogadores do seu clube, mas ao mesmo tempo ser alvo da chacota dos rivais e dos canais de propaganda dos rivais. Foi preciso que tivesse saído do Sporting Clube de Portugal para que, finalmente, tivesse o palco à sua medida. Se o preço que tivemos de pagar pela sua deserção se consubstanciasse na concretização do seu reconhecimento enquanto grande futebolista e pessoa capaz de ter atravessado constantes ataques à sua pessoa, então valeu a pena que tivesse rescindido. Por isso já fiquei feliz.
O facto desta entrevista ter ocorrido no dia que ocorreu, apenas me leva a pensar numa palavra: coincidência. Tudo coincidência. Deixamos de ser um clube que se bate em campo e que fora dele defende acerrimamente os seus interesses, para um clube simpático, de jogadores simpáticos, de gente simpática, mas que desportivamente está ao nível de disputar o terceiro lugar com os Bragas desta vida. 
Diz que hoje vai haver uma assembleia geral importante para o clube. Parecem que querem expulsar uns sócios, que mandavam no clube no tempo em que aquele que é hoje o grande jogador Rui Patrício era o triste "Franguício". Coincidência, certamente. E logo obra de gente simpática. E todos sabemos que gente simpática não expulsa ninguém, pois não?

quarta-feira, 1 de maio de 2019

De manhã começa o dia...

Foram dois grandes jogos. Primeiro contra a nossa besta negra do futsal, o Inter Movistar. Não nos debatíamos só contra o campeão europeu, também lutávamos contra aquela fatalidade que atinge sempre o nosso clube nos momentos decisivos. Ou "À terceira era de vez" ou "Não há duas sem três". E nisto dos adágios populares, sai-nos sempre o pior na rifa. Quis a História (e o empenho dos jogadores e equipa técnica) que passássemos esse Bojador que é a equipa de Ricardinho. Faltava-nos passar o cabo das Tormentas e transformá-lo na nossa Boa Esperança. E se há clube no mundo que consegue passar o difícil para se estatelar no fácil, esse clube é o Sporting. Mas os nossos não tremeram. Mandaram às malvas todo o fatalismo e maus presságios que nestas alturas se levantam e arrancaram para uma vitória épica e histórica.
A festa no Cazaquistão foi bonita, assim como foi a sua continuação em Lisboa, mesmo sem espera no aeroporto. Foi uma tremenda manifestação de sportinguismo, que não se via desde sei lá quando. Numa altura em que o clube vive uma guerra fratricida, a falta que faz uma festa destas. Foi bonita, linda, espetacular e tantos outros adjectivos que me faltam para caracterizar aquela grande festa.
Parece no entanto que no meio de tanta hora de festa, algures no turbilhão de alegria e excitação que estas celebrações demonstram, alguém decidiu cantar uma música que fala de foder lampiões logo pela manhã. Foi o suficiente para lá termos de levar com aquela até então silenciosa mas ressabiada mancha negra do nosso vizinho da segunda circular. Lampiões indignados com aquele cântico, rasgavam as suas vestes como o Macaco em Vila do Conde. Clamavam por ouvir uma condenação da nossa parte, ao mesmo tempo que nos chamavam pequeninos por não nos esquecermos deles no momento dos festejos.
Se há coisa que os nossos vizinhos detestam, é ver os outros festejar seja o que for. O episódio de ligar o sistema de rega do relvado enquanto o porto festejava a vitória é paradigmático. As capas dos jornais desportivos afectos ao benfica, no dia seguinte a vitórias europeias de outros clubes, também é disso um bom exemplo. No final de contas, a sua postura não é muito diferente dos adversários, que também ficam azeados quando é o benfica que ganha. A diferença é que uns assumem a rivalidade, enquanto outros atiram-nos com a treta dos dois clubes de Portugal, o benfica e o anti-benfica, preferindo vomitar a sua bílis escondidos, ficando à espera de uma qualquer pretexto para sair do seu esconderijo e impingir-nos a sua pseudo-moralidade falsa e arrogante.
O clube cujos adeptos imitam constantemente o som do very-light, cantam com alegria "a cabeça do Ficcini" ou "deixem a lagarta morrer", está indignado por uns minutos de música numa festa só nossa. Dizem-me que é diferente, que o very-light ou a cabeça do Ficcini só são entoados nos jogos contra nós, enquanto nós cantamos "quem não salta é lampião" até quando jogamos contra o Oleiros. Como se fosse atenuante cuspir-nos na nossa cara, em vez de nas nossas costas. Ou, mais gritante ainda, se "foder lampiões pela manhã" fosse tão grave como cantar sobre mortes que ocorreram. "Ah e tal, mas foi o vosso speaker que começou, logo é uma posição oficial do clube!". Perante este argumento lampiónico, digo apenas que João Gabriel e o Folclore se estarão a rir às gargalhadas.
Fico incomodado quando oiço cânticos a chamar macaco ao Eusébio ou quando vieram com a Chapecoense num jogo de hóquei contra o porto, porque estamos a insultar uma pessoa directamente de forma ignóbil ou porque estamos a trazer à baila uma tragédia que aconteceu. Agora, num meio onde é usual ouvir-se e gritar-se palavrões, ter de levar com gente indignada por causa duma música onde está um "foder", é caso para se dizer: Bardamerda para vocês todos.
Quanto ao facto de cantarmos "quem não salta é lampião" ou "de manhã começa o dia, a foder os lampiões", tenham paciência. Vocês são nossos rivais e não gostamos de vocês. Assumimos isso há muito tempo. Rivalidade é isto, é picarmos os outros, sem termos de ser rasteiros. Porque depois, ao final do dia, lá estaremos todos juntos a beber minis no café da esquina. 
Não somos hipócritas para dizer que não falamos dos outros. Somos sinceros.
Não somos sobranceiros para dizer que estamos acima das rivalidades. Assumimos essa rivalidade.
Não somos arrogantes ao ponto de afirmarmos que não ligamos aos rivais. Sem rivalidades o futebol teria tanta paixão como o campeonato nacional de mini-golf.
Somos nós. Somos sportinguistas.

domingo, 31 de março de 2019

E novidades, há?

Hoje resolvi sair da letargia a que me votei nestes últimos tempos, para tentar perceber se há novidades no mundo sportinguista.
Começamos pelo nosso treinador, o bem falante, bom desportista e entendedor Marcel Keizer. O holandês lembra-me aqueles professores do secundário, a quem reconhecemos qualidades comunicativas, que conseguem levar-nos a fazer introspecções para conhecermo-nos melhor a nós próprios. Ou seja, brilhantes académicos mas que nunca puderam os pés no mundo real. Keizer é isso mesmo, um académico cheio de grandes ideias e concepções utópicas do mundo futebolístico. Mas depois chega a hora de meter os pés na rua e é ver Gudelj a arrastar-se em campo, até que o mestre da tácita académica chegue à conclusão que já deu tempo a mais ao adversário (mais de 60 minutos) e lá lança Doumbia.
Mas nem tudo está mal com Keizer. Ontem voltou a lançar Jovane em campo, com tempo suficiente para o jovem conseguir fazer algo de útil no jogo e agitar as águas. Faltou lançar Geraldes aos 90 minutos, ficando aqui a dúvida se não o fez porque entretanto foi obrigado a meter Gaspar no jogo ou porque já nem para isso Geraldes conta. 
Quanto a voltarmos a ver Bruno Paz a jogar, ou até Pedro Marques, Joelson, Thierry, entre outros, parece-me que teremos de esperar por muito tempo. O discurso de Keizer até entusiasma, pois dá a ideia de que estes jogadores contam para o holandês. Mas lá está, no final é Gudelj e mais dez e o resto é conversa. Perante a expectativa de ver Keizer mais uma época no nosso banco, sinto a mesma alegria que sentiu Maria Antonieta a subir os degraus em direcção à guilhotina.
Durante o jogo, mais uma arbitragem inacreditável de um dos melhores representantes desta nova geração de árbitros. O lance sobre Raphinha é duvidoso, mas transformar um corte limpo de Ristovski numa agressão é estúpido, absurdo, indigente, idiota. Pegar num lance onde o jogador vai unicamente à bola, derrapando depois e acertando sem maldade no adversário, e transformá-lo numa agressão, quando no mesmo jogo há pelo menos duas sarrafadas às pernas de jogadores flavienses a Bruno Fernandes, é pura maldade.   
Mas isto é a posição que o poder instituído quer que seja a posição do Sporting. Quanto mais em baixo estamos, mais prazer tem em nos pisar. No ano do sétimo lugar, lembro-me de inúmeros lances parecidos com este, como aquela expulsão inacreditável de Dier em Vila do Conde, por exemplo. Pisam-nos com requintes de malvadez, mas depois assomarem às televisões e, com o ar mais hipócrita do mundo, dizerem que faz falta um Sporting forte ao campeonato português.
E perante isto, o que diz o nosso presidente? Nada. Não diz nada (é melhor assim) e nem faz nada. Na final-four da Taça da Liga teve um assomo de coragem e atacou (e bem) a hipocrisia bracarense, para depois meter o rabinho entre as pernas assim que Salvador subiu o tom da sua voz. Os acontecimentos de ontem mereciam uma veemente tomada de posição da nossa parte, daquelas que dão origem a castigos de um mês. Mas não, quem nos preside lá entende que é melhor assim, seguirmos o nosso caminho serenos e silenciosos, pois muito provavelmente saberá que o pior ainda estará para vir...
Ao fim deste tempo todo de silêncio pergunto-me "E novidades, há?".
E lá chegou à triste conclusão que mais vale recolher à minha triste letargia, restando-me cumprir com dignidade a minha anónima missão de apoiar o Sporting Clube de Portugal. Quando houver novidades, apitem.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Tragédia

A tragédia do passado domingo não começou naquele dia. Para contarmos a sua história, temos de recuar até ao Verão de 2018. Algures entre Junho e Agosto.
Em finais de Junho de 2018, estava a nação sportinguista empenhada na luta fratricida que resultou na destituição de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting Clube de Portugal. A comissão de gestão que assumiu transitoriamente a direcção do clube, bem como a administração da SAD que esta nomeou, tiveram em mãos a tarefa hercúlea de iniciar a preparação da época a mês e meio do seu inicio.
Com a maior parte dos melhores jogadores do plantel de abalada, com o despedimento do treinador contratado pela direcção anterior, com a tesouraria da SAD embargada devido ao adiamento do empréstimo obrigacionista, parecia estarem todas as condições reunidas para que esta época fosse uma época não de zero, mas de -1, como foi a de 2013/2014. Ninguém no seu perfeito juízo poderia exigir-nos a conquista do título de campeão nacional 2018/2019, pelo que poderíamos enfrentar toda a época sem essa constante pressão de sermos os melhores. Sem o chato do anterior presidente para apertar com os meninos, e com os candidatos a presidente a darem de barato esta época como perdida, parecia estar tudo preparado para um reset no Sporting.
Com JJ fora, havia condições para voltar a apostar na nossa miudagem, até porque as rescisões do verão criaram um imenso espaço para eles. A falta de folga na tesouraria era uma desculpa mais que aceitável para justificar um parco investimento do plantel. A contratação de Peseiro para treinador principal era o primeiro motivo de desconfiança, mas face à baixa fasquia com que iniciávamos a temporada, até era aceitável o seu regresso a Alvalade.
Durante o verão chegaram algumas boas notícias. Afinal Bruno Fernandes, Bas Dost e Bataglia voltaram atrás na sua decisão de rescindir unilateralmente, ajudando a emprestar alguma qualidade ao tal reset que teríamos de fazer este ano. Mas foi sol de pouca dura.
Incompreensivelmente, a SAD liderada por Sousa Cintra preferiu enveredar por outros caminhos. Dispensaram-se jogadores da casa e acarinhados, como Francisco Geraldes, Matheus Pereira, Demiral, Domingos Duarte, entre outros, para abrir espaço a Gudelj, Sturaro ou Diaby. Nani, apesar de pouco acrescentar à equipa, vale pelo facto de ser um dos nossos símbolos. 
Depois começaram os nós górdios. Primeiro a novela Sturaro, muito mal contada e que espero que não tenha nada a ver com a ida de Ronaldo para a Juventus. Depois as cegadas com o estágio da pré-época e os jogos de preparação. A novela Viviano logo no primeiro jogo oficial. Por fim, a fraca qualidade exibicional da equipa. Qualquer semelhança entre este Sporting e o de 2013/2014 era pura coincidência.  Coincidência mesmo era o facto de termos começado na frente, fruto das vitórias arrancadas a ferros nos primeiros jogos, bem como de um empate sufocante na Luz.
Diz a Lei de Murphy que se alguma coisa pode correr mal, então vai correr mal. E nunca um clube do mundo tem tanta apetência por comprovar as Leis de Murphy como o Sporting Clube de Portugal. O resto já todos sabem: um arrastar tenebroso ao longo da época, apenas intervalado pela leve esperança de um interlúdio holandês da nossa sina.
Marcel Keizer prometeu muito e ainda hoje choro baba e ranho quando tento saber do que foi feito daqueles jogadores que deram aquele recital de bola em Vila do Conde. Mas numa época marcada por equívocos, também Marcel Keizer se enrolou neles, ao ponto de hoje não sabermos o que é que quer para esta equipa. Não vou aqui analisar a sua abordagem ao nosso último jogo, pois não tenho paciência nem vontade para essa auto-mutilação. Dou apenas este exemplo: quando a perder por 1-4, Keizer decidiu-se a fazer a segunda substituição por volta dos 80 minutos, fazendo entrar Petrovic em jogo. Já o médio despia o fato de treino, quando Diaby marca o golo que lhe seria anulado. Keizer, desistiu de meter Petrovic, convencido que "só" teria de recuperar dois golos, quando se apercebe da decisão do VAR de anular o golo. Voltando à estaca zero, seria de esperar que Keizer recupera-se a ideia anterior de lançar Petrovic. Mas não, afinal parecia haver um plano B (ainda estou a tentar perceber como iria implantar o plano A), e aos 85 minutos lá resolveu lançar Jovane Cabral na equipa, para o lugar de... Raphinha.
Eis a tragédia.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

#NotKeizerBall

Poucochinho.
Antes do jogo, ouvi muito sportinguista a lamuriar-se da tragédia que estaria prestes a chegar. Sérgio Conceição iria entrar com tudo em jogo e só a ajuda divina nos poderia impedir de sermos goleados no nosso próprio estádio. O jogo em si não revelou a tão temida humilhação em casa. Pelo contrário, até foi equilibrado. Quem não soubesse da classificação das duas equipas até seria tentado em concordar que, pela forma como decorreu a partida, o empate satisfez as duas equipas. Aqui começaram os nossos problemas.
Tarde fantástica de Janeiro, com muito sol, muita gente, muitas famílias a deslocarem-se ao estádio, numa tarde onde revivi os clássicos vespertinos nos idos anos 80. A hora do jogo confirmou tudo aquilo que sempre soubemos mas que alguns teimam em ignorar: o futebol disputado à luz do sol faz toda a diferença. O ambiente estava propício a um grande espetáculo de futebol, com o estádio cheio e as claques a puxar pelos seus clubes. Infelizmente o futebol jogado não correspondeu à envolvência. Poucas oportunidades de golo, num jogo mais tático do que espetacular. No final o empate não nos serviu para nada que não a constatação do óbvio, de que este ano, em matéria de primeiro lugar, estamos conversados. O resto logo se verá.
Pedir a uma equipa onde Jefferson, Bruno Gaspar, Gudelj e Diaby são titulares, com duas substituições forçadas pelo meio, que ganhasse ao porto, já saberíamos que não seria tarefa fácil. Mas estando nós a uma distância já tão considerável da frente, e estando a jogar em casa, pedia-se mais à equipa que o mero controlo do seu adversário. Insistir na titularidade de Diaby com Raphinha já  recuperado, soa-nos pouco racional. Marcel Keizer teve um momento no jogo, já na segunda-parte, onde poderia ter arriscado e trocava o lesionado Wendel por Jovane ou Luiz Philippe, forçando um assalto final à baliza de Casillas. Arriscava dar espaço ao adversário e até a perder o jogo, mas para quem privilegia o futebol de ataque, não esperava outra coisa. Até porque, nesta altura estar a 8 ou a 11 pontos do primeiro seria quase a mesma coisa. Mas estar a 5 ou a 8 pontos faria muita diferença. Se Keizer espera mesmo que o porto perca 8 pontos nesta segunda volta (ou até 10 ou 12, vá) continua a demonstrar que não conhece a realidade do futebol tuga. Nem tem a seu lado que lhe explique.
Keizer não passou de treinador bestial para banal, mas tem havido nestes últimos jogos alguns equívocos da sua parte que me tem deixado com a pulga atrás da orelha. É certo que já as goleadas contra Aves e Nacional foram enganadoras, pois foram precedidas de entradas em falso da nossa equipa. Mas nestes dois casos houve força e engenho para dar a volta. Ver a incapacidade de criarmos situações de perigo em Guimarães e em Tondela, bem como o entorpecimento da equipa durante o jogo contra o porto, deixa-me derreado. O que mais me irrita nisto tudo, é que com tanta esperança na mudança da filosófica de jogo, chamando inclusivamente mais a jogo os nossos miúdos, voltamos a jogar o mesmo futebol que jogávamos quando Peseiro era o treinador. Keiser tem agora a oportunidade de ouro para demonstrar o que vale enquanto homem do futebol. Se tem capacidade para abanar os jogadores e voltar ao registo de quando entrou no clube. Se não conseguir cumprir esta tarefa, continuando a enrolar-se nos equívocos que se tem envolvido nos últimos jogos, não lhe auguro um grande futuro como treinador do Sporting.
Entretanto, bastou umas horas a navegar pelas redes sociais para descobrir (mais uma) polémica entre sportinguistas. Um grupo de miúdos resolveu tirar uma foto onde gozava com a velha máxima Rui-Patriciana de "levantar a cabeça" e com a dicção do nosso presidente. A enxurrada de posts indignados com o raio dos fedelhos, seguidos de outra não menor avalanche de posts enaltecedores dos novos libertadores do sportinguismo, levaram-me a pensar se, afinal, não é só o treinador mas todo o Sporting Clube de Portugal que está a viver um grande equívoco.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Como é que ao fim de quatro anos ainda nos deixamos surpreender em Tondela?

O jogo de ontem em Tondela trouxe-me à memória aquele velho Sporting, que muitos julgavam já morto e enterrado, incapaz de marcar mais de um golo contra uma equipa que luta pela manutenção, mesmo tendo a vantagem de jogar mais de meia-hora em superioridade numérica. E como foi que chegámos a este ponto de retrocesso?
Vários factores contribuíram para o desastre. Em primeiro lugar, a preparação do jogo. Ainda não sei porque motivo Jovane Cabral ficou de fora dos convocados, nem qual foi a razão de não ter chamado Luiz Phillype como segunda opção para o ataque. Além destes equívocos cuja responsabilidade só pode ser assacada a Keizer, descurou-se novamente outro aspecto que eu considero fulcral: o completo ignorar de que estes jogos são "diferentes". Qualquer adepto do Sporting sabe que o Tondela esfarrapa-se todo nos jogos contra nós. Qualquer adepto do Sporting deseja que nestes de jogos a equipa entre em campo raivosa e de orgulho ferido. Quatro épocas depois, continuamos a dar o flanco e a surpreendermo-nos com a forma como os tondelenses jogam contra nós. É demais, estou farto desta sina. Keizer pode ter a desculpa de ter chegado há pouco tempo e não conhecer estes minudências do futebol tuga mas, caramba, os jogadores que todas as épocas sabem como estas equipas se transfiguram contra nós, bem como os dirigentes, tão sportinguistas como nós, não tinham obrigação de preparar a sério este tipo de jogos?
Depois foi o desenrolar da partida. Como li por aí algures, não é possível esperar que a nossa equipa se superiorize ao Tondela quando temos jogadores no nosso plantel que estão ao nível de jogadores do Tondela. Bruno Gaspar não passa de uma cópia sombreada de Schelotto, Gudelj está ao nível de Zapater, Diaby tem momentos no jogo que fariam Djaló parecer um fora de série. Wendel não dá para mais do que uma promessa de jogador. Coates e Mathieu não conseguem fechar as brechas que se abrem nas alas e no meio-campo, acusando ao longo dos jogos demasiados momentos de desconcentração. A inspiração de Bruno Fernandes, Bas Dost, Acuña, Raphinha ou Jovane até pode chegar para mais de metade das equipas da Liga, mas é claramente insuficiente para algo mais do que o terceiro ou quarto lugar. 
No final do jogo, a cereja no topo do bolo: o tempo de desconto rídículo e o cartão amarelo a Acuña. Ano após ano, continuamos a enxovalhados pelas manigâncias destes árbitros.
Não quero começar já o discurso do "para o ano há mais", pelo menos antes de jogar com o porto em casa. Contudo, sou levado a admitir que vencer o actual líder será uma tarefa hercúlea, quase milagrosa. Resta-nos concluir a época da melhor forma possível (temos ainda mais três competições para disputar), mas começando a delinear com seriedade o que queremos destes jogadores nos próximos tempos.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Nós, as lampionices e as andradices

Lampionices.
Como seria de esperar, Rui Vitória lá teve de seguir o seu solitário caminho até à porta de saída do Seixal. O actual momento lampiónico precisava de um bode expiatório, papel esse que assenta que nem uma luva ao treinador entretanto despedido. Vitória, apesar dos títulos conquistados, estava completamente desacreditado junto da massa associativa encarnada. Não conheço nenhum benfiquista que, nesta altura, ousasse conceder uma ponta de benefício de dúvida ao treinador que conquistou o recorde de 88 pontos num campeonato. Isso diz muito do que os benfiquistas pensam do mérito da pessoa que treinava o seu clube nessa época. Sem carisma, sonso, com um discurso cheio de vacuidades, sem pinga de espontaneidade, certamente que Vitória irá desaparecer algures pelos desertos das arábias ou pelas estepes asiáticas, pois não acredito que algum clube europeu de topo o queira contratar. 
Apesar dos contratempos da nossa justiça, que não é propriamente conhecida pela sua celeridade, não há dúvida que o Estado Lampiânico ficou combalido com tudo o que saiu sobre o seu mecanismo. Os "padres", as "missas", o conluio com os "grupos de sócios organizados", as cartilhas com comentadores e jornalistas, as facilitações aos "clubes amigos" e, mais importante ainda, a queda de Paulo Gonçalves. Este rombo que o EL levou nos bastidores do futebol português acabou por se reflectir na performance da equipa no campeonato. A mediocridade do futebol lampiónico, que já era bem visível nas últimas campanhas europeias, ainda era por aqui disfarçada com a ajuda dos "padres", "missas", Bragas e Tondelas. Com o tempo, os "padres" foram-se afastando, chegando ao ponto "cereja em cima do bolo" de já expulsarem Jonas. Os clubes pequenos já vão batendo o pé ao clube DDT, pelo que se tornava cada vez mais difícil ao "Rei Midas" explicar aos seus sócios como é que a equipa que há duas épocas fez 88 pontos, apresenta hoje uma mediocridade de futebol (excepto com o Braga, claro está). Rui Vitória assumiu assim as vestes de "cordeiro pascal", sendo lançado aos lobos sem apelo nem agravo. Vieira ganha alguma margem de manobra, pois terá sempre a desculpa de ter de partir do zero a meio da época. Os adeptos, embalados pela mão presidencial e pela cartilha jornaleira, que ao contrário do que fizeram com Peseiro não perderam tempo em denegrir o trabalho do campino de Vila Franca de Xira, ficam assim com a sua atenção desviada do essencial. E o "essencial" desta história está bem à vista de todos: sem Paulo Gonçalves e os seus expedientes, este benfica é banal.

Andradices.
Com o ocaso do Estado Lampiânico, adivinhem quem é que voltou a aparecer? O Sistema, não ainda o velho Sistema da fruta e das viagens para o Brasil, mas que para lá caminhará se não lhe puserem a mão. Esta jornada mais uma vitória tangencial, mais uma ajudinha milagreira. Podem refilar que o protocolo do VAR não permitiria anular aquele lance, mas não é por isso que ele não deixa de ser ilegal. Já perdi a contagem aos lances duvidosos cuja avaliação, nesta época, descai sempre para o lado dos andrades. Os "padres", percebendo de que lado toca agora a música que embala as suas missas, lá se começaram a adaptar à nova realidade. É voltar a ver Maxi Pereira a passear incólume pelos relvados, acompanhado por Felipe.
Empurrados pelos seus novos amigos, os andrades lá vão conseguindo passar "à rasquinha" nos vários jogos que tem disputado. Por enquanto ainda conseguem disfarçar as suas limitações com a "garra" ou "força de vontade" com que conseguem entrar em jogo. O seu futebol é semelhante ao da última época, marcada pelas correrias dos seus avançados e constante bombeamento de bolas para a frente. Não é um futebol bonito mas é eficaz. Veremos até quando dura essa eficácia.

E nós.
O Sporting vai seguindo o seu caminho. A derrota de Guimarães foi justa, pois foi o espelho de uma exibição fraca frente a um Vitória que jogou muitíssimo bem. Foi este Vitória que ganhou no porto, virando um resultado de 2-0 para 2-3, e que perdeu pela margem mínima na Luz. Foi um tropeção desnecessário, pois vimos aumentar a distância para o primeiro classificado, mas foi justo. Entretanto conseguimos o apuramento para a final-four da Taça da Liga e voltámos às vitórias no campeonato, diante de um difícil Belenenses. As exibições continuam bem acima das do tempo de Peseiro, mas sentimos que ainda falta muita coisa para apurar. O ataque ao mercado de Inverno, onde até agora só se contratou um avançado e fez-se regressar Geraldes, ainda está longe de ter respondido aos nossos anseios. Continuo a achar que precisávamos de melhores defesas laterais, mais da direita do que da esquerda. E mais opções para o meio-campo, que como se viu nos últimos jogos, fica logo abalado com lesão ou castigo de um dos seus titulares. Aqui não compreendo como se possa considerar que um putativo empréstimo de Adrien não seja uma boa aquisição para a equipa. Adrien será sempre uma opção muito válida no nosso plantel, seja como titular ou como substituto, pelo que ficaria muito satisfeito com o seu regresso.
Quanto aos negócios mendianos que neste Inverno voltámos a fazer, falarei disso num outro post. Mas não posso deixar de expressar o meu desalento pelo facto de, mais uma vez, termos dado mostras de não ter memória, deixando entrar em nossa casa quem muito fez para a destruir.