quarta-feira, 16 de maio de 2018

Dia da Infâmia

Acabava eu de escrever e publicar o meu último post, quando comecei a receber notificações dos vários sites de notícias dando conta de uma invasão de adeptos a Alcochete, culminada com agressões a vários jogadores e técnicos, além do vandalismo perpetrado contra as instalações da Academia.
O ataque de ontem encerra em si o mais negro episódio da centenária história do nosso clube. Bate a derrota de Salzburgo, as pedradas do Jamor em 1994, o "buraco" de Jorge Gonçalves, o sétimo lugar de 2013, os 12-1 do Bayern de Munique e tantos outras passagens que em tempos achamos que seriam as mais tristes do nosso clube.
O ataque terrorista foi feito ao coração do Sportinguismo, precisamente a nossa amada Academia, uma obra de que todos nós nos orgulhamos imenso e onde depositamos o maior carinho, quiçá mais ainda que no nosso estádio. 
Enquanto cidadão de Portugal, sinto-me perplexo por ver a facilidade com que 40/50 mânfios, muitos deles referenciados por violência e radicalismo clubístico, se organizam entre si e munidos de bastões de ferro e outros apetrechos invadem uma propriedade alheia e aí lançam o caos. Numa era em que tanto se fala de segurança global, de técnicas contra-terroristas, de serviços secretos, etc., é possível que no Portugal de 2018 estes grupos circulem impunemente à nossa frente, mesmo debaixo dos narizes de que nos devia proteger. Isto não é um problema só do desporto, é também da segurança interna do país!
Quando ontem à noite ouvi Bruno de Carvalho na SportingTV, falando num tom sereno e tentanto desdramatizar uma tragédia - quero eu acreditar que o fez para lançar água na fervura dos ânimos exaltados - perguntei a mim próprio porque é que o discurso sereno e conciliador demorou tanto tempo a ser adoptado? Porque é que desde Março e até ontem à tarde, preferiu-se fazer um discurso de confronto, de trincheira, insultuoso até, sem se aperceber dos sinais cada vez mais evidentes de algo poderia correr mal? Quantas vezes teríamos de assistir a "espetáculos pirotécnicos" na baliza do Rui Patrício ou a apertões a jogadores para vislumbrarmos que o caminho que se estava a trilhar iria desembocar numa tragédia?
Quem frequenta a Superior Norte já reparou há muito que o constante discurso incendiário deu os seus frutos. Aquela que era uma bancada de adeptos ruidosos mas ordeiros transformou-se nos últimos meses num nicho de radicais cada vez mais numerosos e activos, que  hoje já nem tem pudor em confrontar outros sportinguistas quando estes não concordam com nas suas paranóias. Hoje a Superior Norte é o espelho do Sporting actual: um enorme fosso entre uma maioria de adeptos pacíficos e um conjunto cada vez mais numeroso de radicais "ultras". 
Sempre poderemos argumentar de que o mesmo se passa noutros clubes. Realmente não faltam histórias de violência nos estádios, agressões a árbitros e dirigentes. Vivemos no nosso futebol a cultura do "apertão", basta lermos alguns comentários nas redes sociais e ouvir algumas vozes à porta dos estádios. E apesar de só ontem o Governo ter acordado para o problema, é uma situação que se degradou especialmente no último ano. Mas ontem foi mais grave, porque houve premeditação e a invasão de um espaço sagrado, não só para os jogadores mas para todo o Universo Sporting. Entendo que o nosso Presidente relativize a tragédia de ontem numa lógica de serenar os ânimos. Mas não aceito que não tire as devidas ilações desta ocorrência para o futuro próximo.
Não sei como serão os próximos dias nem como irá decorrer a final da Taça de Portugal. Enquanto sportinguista que sofre pelo seu clube há mais de 30 anos, mas que sempre se pautou por princípios no desporto que rejeitam liminarmente acontecimentos como o de ontem, desejo ardentemente que os jogadores e técnicos sintam a força dos milhares que ontem à noite estiveram em Alvalade. Queria muito que o plantel senti-se a força desses milhares e que jogassem domingo para eles. Que a final da taça fosse uma oportunidade para pontapearmos os "ultras". Que o jogo fosse dedicado a mim e a ti, que também sofres como eu sofro. Queria que no final os adeptos, qualquer que fosse o desfecho, invadissem o campo e abraçassem cada jogador e o seu treinador, numa clara demonstração do que é a cultura desportiva "à Sporting". Infelizmente nem sei se chegaremos perto disso.
Os jogadores podem todos rescindir contratos unilateralmente, a equipa técnica pode ser despedida com justa causa e o presidente e restante direcção e órgãos sociais demitirem-se ou serem demitidos. Mas no final ficamos nós, os sócios e os adeptos. E se for preciso, cá estaremos, como sempre estivemos, para reerguermos novamente o Sporting Clube de Portugal.

5 comentários:

  1. Partilho a dor e a tristeza, caro Billy.
    Prevejo um longo caminho para recuperarmos do prejuízo causado nestes últimos dias. Foi um ataque ao coração do sportinguismo.
    SL

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  2. mais um dia triste no nosso sporting.

    triste pelos atletas e staff..

    triste pelo aproveitamento deste dia por parte de algumas pessoas para destilarem o seu odio em relaçao ao sporting..

    triste pelo aproveitamento da comunicaçao social para fazer deste acto terrorista (mais uma vez) campanha contra o sporting..

    triste pelo aproveitamento de alguns socios e adeptos que aperecem sempre nestas situaçoes para dizer presente (contra BDC) esperando possivelmente algum tacho futuro..

    triste por nao ter visto em lado nenhum sequer porem as seguintes hipoteses:
    – um grupo de adeptos frustados c a exibiçao agridem jogadores..
    – um grupo de adeptos chateados com as sussevivas noticias “falsas” q jogadores querem sair q n querem treinar q n querem jogar a final… etc.. e por isso agridem jogadores..
    bem.. estas e mts outras explicaçoes poderiam ser alvo de debate, mas parece q a unica explicaçao encontrada nos paineis de debate parece ser Bruno Carvalho..

    muita pena por ver esta direçao estar a ser empurrada aos poucos para fora do sporting e alguns sportinguistas ainda ajudam, mais pena tenho do futuro do sporting se isto acontecer..

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    1. Companheiro, há muito já passamos a fase de «triste por nao ter visto em lado nenhum sequer porem as seguintes hipoteses».
      Vai ver um jogo na curva Norte e verás o que te digo.

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  3. https://www.sabado.pt/portugal/seguranca/detalhe/quem-sao-os-agressores-da-equipa-do-sporting-em-alcochete

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