domingo, 13 de maio de 2018

Um soco no estômago

Os números.
78 pontos, 63 golos marcados e 24 sofridos. 24 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Ficámos a 10 pontos do campeão, a três do segundo e com mais três do que o quarto classificado. Em golos marcados ficámos muito àquem das restantes três equipas que acabaram nos quatro primeiros lugares. 19 golos a menos do que o porto ou a 9 golos do braga. Fomos a terceira defesa menos batida do campeonato, com mais seis golos consentidos do que a melhor, do porto. 
Os números não enganam. Numa época em que sabíamos que tinha de ser quase perfeita para podermos alcançar o título de campeão, estivemos muito longe da perfeição que se impunha. As nossas quatro derrotas foram em braga, porto, Estoril e Marítimo. Se as duas primeiras até são aceitáveis, já as duas últimas não. Até poderíamos conseguir ser campeões com os 4 pontos em 12 que somámos nos confrontos com porto, benfica e braga. Mas perder sete pontos com os últimos cinco classificados é que não. 

O campeonato
Dizem que os extremos se tocam e esta época foi um ponto assim. Perdemos quase tantos pontos com os cinco primeiros classificados como com os cinco últimos. Acabámos o campeonato a jogar tão mal e com tantas dúvidas da nossa qualidade como quando o começámos. Pelo meio chegámos a liderar a prova e tivemos jogos onde mostrámos muito bom futebol. Mas após um empate desastroso em Setúbal, nunca mais nos conseguimos endireitar. Contra o Marítimo tínhamos a oportunidade derradeira de ainda podermos dizer que este campeonato, não tendo sido bom, tinha sido razoável. Fazer mais de oitenta pontos e conseguir o segundo posto seria sempre algo satisfatório. Depois da derrota da Madeira, não há retórica que nos valha. O campeonato correu-nos mal e numa época onde ambicionávamos o título de campeão, acabar em terceiro como acabámos é um soco no estômago.

O treinador
Jorge Jesus fez uma boa época de estreia, a segunda correu mal e esta seria a do tira-teimas. E tinha tudo para correr bem. O planeamento da pré-época foi exemplar, as contratações quase todas asseguradas a tempo de preparar calmamente a época. Tirando talvez o ataque, onde Doumbia não correspondeu às expectativas, todas as contratações foram autenticos reforços para a equipa principal. Jorge Jesus começou, como de costume, por dispensar os mais novos. Matheus Pereira e Francisco Geraldes tiveram guia de marcha e Iuri teria alguns meses mais tarde. Alan Ruiz foi aposta recorrente até se tornar insustentável justificar a sua utilização. Brian Ruiz, incompreensivelmente posto de lado, foi mais incompreensivelmente ainda repescado e transformado em pedra nuclear da equipa. Salvo alguns períodos na primeira volta, o nosso futebol foi sempre previsível, empastelado, pouco dinâmico e pouco audacioso.
Não há como não o dizer, mas de um treinador que ganha milhões esperava-se outro tipo de futebol. Empatámos 6 jogos mas podíamos ter empatado mais, se não tivéssemos tido a sorte de ganhar inúmeros jogos em cima da hora, em partidas onde a qualidade do nosso futebol praticado variava do sofrível ao desastroso. Tondela, Moreirense, Portimonense, Estoril (em Alvalade), Rio Ave, etc., demasiados jogos onde jogámos muitíssimo pouco e ganhamos com lances fortuitos. 
Jorge Jesus tem mais um ano de contrato e o meu feeling é que o cumpra atá ao fim. Não há nenhum clube que o queira agora (sem estar livre) e o Sporting, sem Champions, não se pode dar ao luxo de gastar dinheiro para o mandar embora. Mas já percebemos que com JJ a nossa equipa não passa disto. Em primeiro lugar, não aposta em jogadores novos em crescendo. Não tem paciência ou não os sabe trabalhar. Prefere que eles venham já feitos, de um qualquer campeonato sul-americano ou do Leste. Depois é o seu próprio futebol, onde passa por utilizar até à exaustão os seus jogadores fetiche, nem que para isso empenhe a qualidade de jogo. Com JJ conseguimos realmente exponenciar alguns jogadores, que conseguem reencarnar aquilo que o treinador lhes pede. São os tais que rendem milhões em vendas fabulosas. Mas pelo caminho ficam demasiados jogadores a quem não lhes foi dada uma oportunidade ou que estoiraram face à pressão e exaustão que lhes era exigida.
Uma nova época com Jorge Jesus a treinador será algo de penoso para os sportinguistas. Eu pessoalmente já não tenho paciência para tudo aquilo que descrevi, mais os jogos que perdemos por culpa do vento ou do calor. 

A equipa
Em termos individuais, terá sido o melhor plantel desde 2002. Mas seja porque o treinador não aproveitou tudo o que cada jogador lhe poderia oferecer, ou porque a cabeça dos jogadores fraquejou quando a pressão aumentou, a equipa acabou por não corresponder as expectativas criadas à sua volta. Já falei na gestão patética de Brian Ruiz. Falo de Wendel, um jogador caro que deveria reforçar uma das zonas onde os índices físicos eram mais críticos, mas que quase nunca foi aproveitado. O lançamento de William num derby após uma ausência prolongada. A birra em torno de Lumor. O desaparecimento de Bas Dost nos jogos grandes. A gestão de Rúben Ribeiro.
Entretanto, o episódio da "revolta do balneário", uma passagem marcante da nossa época, onde o plantel, com os capitães à cabeça, decidiram entrar em guerra com o presidente. Naquele jogo com o Paços de Ferreira vimos finalmente os nossos capitães a assumirem uma atitude guerreira, de raiva e revolta. Sem por em causa o mérito desportivo de Rui Patrício ou William Carvalho, creio que uma das nossas maiores falhas nestes últimos anos prende-se com a falta de perfil de líder dos nossos capitães de equipa. Falta-lhes mais carisma, raiva, empenho. Não o empenho profissional de aparecer, treinar e jogar, mas aquele empenho de sofrer pelo Sporting, ir ver jogos das modalidades ou usar as redes sociais para criticarem a arbitragem. Empenho em chegar ao balneário ao intervalo e mandar umas valentes caralhadas aos seus colegas. Falar grosso. Infelizmente faltam-nos capitães como Manuel Fernandes, Oceano ou Sá Pinto. E aqui, sinceramente, não sei se para a próxima época conseguiremos resolver este problema.

O presidente
Bruno de Carvalho começou a época em silêncio, fruto de um castigo federativo que o suspendeu. Enquanto esteve calado fez aquilo que lhe competia e bem. Dotou o plantel de bons jogadores e deu as melhores condições possíveis ao seu treinador. No entanto, quando abriu a boca deitou tudo a perder. Primeiro foram os estatutos, depois o post da auto-estrada, o post pós-Madrid e agora a entrevista ao Expresso. BdC continua a gerir o Sporting com o mesmo frenesim com que o fazia em 2013. O problema é que já não estamos em 2013. Felizmente, e por mérito seu, o Sporting estabilizou. Mas o clube continua a ser gerido como se estivéssemos numa trincheira. Onde estamos nós contra o mundo. Depois dos tempos negros de 2013 e 2014, os sportinguistas desejavam estabilidade. Deram-na no ano passado e repetiram-na em março deste ano. Mas começa a ser demais. O Sporting assemelha-se hoje a um manicómio, onde já não sabemos se quem fala está bom da cabeça, se está mau da cabeça ou se só está a fingir. Um clube onde quando tudo está bem, de um momento para o outro fica tudo de pernas para o ar e andamos a apanhar e colar os cacos que sobram. Cada vez há menos paciência para esta "Casa dos segredos" em que Bruno de Carvalho transformou o Sporting, ainda para mais quando esta gestão frenética põe em causa a coesão do clube, lançando uns contra os outros, obrigando os adeptos a escolher entre os jogadores e o presidente, esquecendo que o que verdadeiramente importa é o Sporting.

Os adeptos
Por último, aqueles que são os mais importantes: os adeptos. Sejam eles sócios, simpatizantes, daqueles que vão a todos os jogos fora de casa, que se sentam religiosamente em Alvalade, que aturam as troladas da lampionagem nas redes sociais. Os sportinguistas que continuam crentes a bater recordes de assistência em Alvalade e nos jogos fora. Impacientes por vezes, de assobio fácil. Bipolares, que à sexta-feira ganhamos tudo mas à segunda-feira já não valemos nada. Os sportinguistas que tanto se empenharam nestes últimos anos em prol do apoio à sua equipa. Nós, todos.
E somos os que verdadeiramente sofrem, quando empatamos em Setúbal no último minuto, perdemos no Estoril por causa do vento ou como hoje, em que na derradeira oportunidade de conseguirmos alguma coisa boa deste campeonato, assistimos incrédulos e estupefactos a um exercício de falta de empenho, compromisso e ganas de ganhar um jogo que deveria ser o jogo das nossas vidas. 
Entre exibições paupérrimas da nossa equipa seguidas de explicações patéticas do nosso treinador, posts ridículos do Facebook do presidente e de toda a sua família e resposta não menos ridícula da equipa de futebol, cuja cereja em cima do bolo foi aquele frango do Rui Patrício, todo este campeonato resume-se para mim e para todos os sportinguistas nisto: foi um soco no estômago. 

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