quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Ironias do destino "à Sporting". Ou como o nosso clube se assemelha a uma tragédia grega

Disse-o no meu último post e volto a reitera-lo: o nosso plantel para esta época é dos melhores dos últimos 30 anos e é, sem dúvida alguma, o melhor desde 2002. Em comparação com a recente época de 2015/16, onde batemos o recorde de pontos conquistados no campeonato, temos uma plantel mais maduro, com melhores opções em várias posições no terreno, com um conjunto de alternativas mais credíveis no banco. A época que vínhamos vindo a fazer, até empatar em Setúbal, refletia essa mesma qualidade: primeiro lugar do campeonato isolado (à condição, é certo), número de pontos amealhados ao nível das nossas melhores prestações em 18 jogos, invencibilidade interna, presença nas três competições internas e na competição europeia.
No entanto, quis o destino que num jogo que tinha tudo para ser fácil, acabássemos por ceder um empate comprometedor. De repente vimos o porto a fugir-nos e o benfica a aproximar-se. É certo que a 15 jogos do fim do campeonato, ainda estamos longe de entrar naquilo a que se chama de "fase decisiva da época". Mas o abalo psicológico do empate em Setúbal foi de tal ordem, que de repente aquela que era a equipa mais preparada, mais apetrechada e mais motivada para conquistar o título, se vê em janeiro a jogar já a sua sobrevivência para o resto da época. É exagero meu? Não, basta ver o que sportinguistas, portistas e benfiquistas escreveram nos últimos dias. Os sportinguistas, habituados a sofrer este tipo de harakiris, já perderam a conta aos campeonatos que se perderam por causa de tropeções como o de Setúbal. Nem mesmo a super-equipa que foi campeã em 2002 se safou deles, um deles na mesma cidade. Em sentido oposto, os nossos rivais conhecem a nossa fraqueza e fazem o seu jogo, pois acreditam que mais cedo ou mais tarde quebramos psicologicamente.
E o destino, este nosso fiel amigo, voltou-nos a pregar uma partida, como só ele nos sabe fazer. Eis que de repente estamos a jogar o resto da época precisamente na competição que sempre desprezámos. É como se a nossa sobrevivência dependesse daquela pessoa que detestamos. Eu faço parte do lote de adeptos que abomina a Taça da Liga. Acho-a desnecessária, sem nexo. Serve apenas para dar mais alguns trocos aos clubes a troco de direitos televisivos. A competição nem os adeptos respeita, pois marcar jogos para as 21 horas, em Dezembro, a meio da semana, não é de certeza a pensar neles. Quebra o ritmo do campeonato na altura do Natal, cansa os jogadores, etc. etc. Junto a isto os inenarráveis episódios da "mão" do Pedro Silva, do dolo sem intenção ou do penalti do Edinho, e tenho as cerejas em cima do bolo.
Se há clube onde destino e fatalidade assentam que nem uma luva, esse clube é o Sporting. 
Por vezes penso no Sporting como uma tragédia grega. Estamos como Sísifo, a carregar eternamente o pedregulho serra acima, sem nunca chegar ao topo. Andamos sempre com a espada suspensa sobre a nossa cabeça, como Dâmocles. Mas se até Ulisses, depois de muitos anos a vaguear pelo mar por maldição dos deuses, conseguiu chegar à sua ilha de Ítaca, espero também que nós um dia possamos derrotar e ultrapassar toda a fatalidade que nos assombra. 
E da mesma forma que os heróis da antiguidade, de uma forma ou outra, acabavam por ter de enfrentar e superar os seus medos para atingir a Glória, também o Sporting tem de percorrer o mesmo caminho. E que melhor forma de iniciarmos esta caminhada final, senão a de enfrentarmos a mais fatal das competições, saindo por cima?

Sem comentários:

Enviar um comentário