segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Depois da azia

Não está fácil...
Pelas 21 horas de Sexta-feira, aquele que podia ter sido mais uma vitória gorda do Sporting, transformou-se num tremendo pesadelo, seguida de uma não menos tremenda azia para toda a nação sportinguista.
Por vezes chego a imaginar que o Sporting não existe, é apenas fruto da imaginação de um Shakespeare ou de um Camilo Castelo Branco, tal é a nossa apetência para as tragédias. Não há época em que não nos aconteça aquele momento que todos nos lembramos da Lei de Murphy, de que se algo pode correr mal ao Sporting, então vai mesmo correr mal. Desde o Wilson Eduardo a marcar-nos golos, a cedermos empates quando ganhamos por 3 golos de diferença, sermos eliminados de provas da UEFA após levarmos dois golos de avanço na primeira mão, perdermos um campeonato em casa por 3-6, onde o melhor jogador adversário não se tinha transferido por uma unha negra para o nosso clube... etc. etc. São quase 40 anos em que me lembro de como este clube é permissivo a essa coisa que o povo chama de "ironias do destino". Com o resultado em 0-1, perante a parcimónia demonstrada pelos nossos jogadores na hora de matar o jogo, a entrada do Edinho em campo fez logo soar em mim aquele pressentimento de que a coisa não ia correr bem. Quem melhor para nos encavar, senão um jogador que já o tinha feito no ano passado na taça da carica? E como tantas vezes acontece ao Sporting, o que tinha para correr mal, correu mal. 
Na sexta-feira à noite tive a reacção que 95% dos sportinguistas tiveram: amaldiçoei os jogadores, o treinador, o presidente, o visconde de Alvalade, o Peyroteo (o verdadeiro, não o Peyroteo Couceiro) e o meu pai por me ter feito sportinguista. Vi neste empate a mesma tragédia com que vi o empate contra o Tondela há dois anos, a mão do Ronny em 2006/07, a derrota na Luz em 2005, a derrota com o Estrela da Amadora em 1995 ou o golo do Pedro Estrela em 1996. Tudo resultados que irremediavelmente contribuíram para nos tirar campeonatos que foram decididos por uma unha negra. Quis atirar a toalha ao chão, rasgar o cartão de sócio, queimar o cachecol e a gamebox, desligar-me para sempre do futebol. No sábado ainda não conseguia falar de futebol, sem antes balbuciar umas quantas caralhadas. Domingo já consegui ver futebol e ler as gordas dos jornais deportivos. Aos poucos a azia ia desaparecendo, o sentimento derrotista ia-se transformando naquele véu de esperança verde e branca que tanto dos caracteriza.
Hoje já consigo (pelo menos tento) fazer uma análise mais fria aos acontecimentos de Setúbal, sem ter de despedir o treinador e metade da equipa de futebol. Mas há certas coisas que me continuam encravadas na garganta. Para simplificar, vou directo a duas ocasiões do jogo que julgo ser a imagem daquilo que é hoje o Sporting: o passe de Bas Dost a Bruno Fernandes, quando tinha a baliza à frente para fazer o 0-2, e o desespero de Fábio Coentrão quando o penalti foi assinalado.
Bas Dost é sem dúvida dos melhores avançados que passou pelo nosso clube nos últimos 30 anos. De Manuel Fernandes e Jordão pouco me lembro, excepto a exibição do primeiro no jogo dos 7-1. Depois passaram Paulinho Cascavel, Fernando Gomes, Jorge Cadete, Juskowiak, Acosta, Jardel, Liedson... Tirando estes dois últimos, principalmente Jardel, creio que não houve melhor que o holandês voador. Por isso dizer que Bas Dost não serve ao Sporting, é uma asneira, para não dizer alucinação. Mas isso não implica que desistamos de tentar compreender o que leva o nosso "matador" preferir passar a bola ao companheiro de equipa, que estava tapado por dois adversários, em vez de fazer aquilo em que é bom, que seria encher o pé e rebentar com a baliza, fazendo o 0-2.
Mas quem diz Bas Dost, diz praticamente o resto da equipa. A forma como na segunda parte não matámos o jogo, nos vários momentos em que chegámos à área adversária em superioridade numérica ou em lances de bola parada, bem como a permissividade com que deixámos que Edinho se isolasse após uma charutada da defesa sadina, é inadmissível numa equipa onde a qualidade é inquestionável. E é essa qualidade que nos tem valido em outros jogos onde o desleixo por vezes atinge níveis preocupantes, como na primeira volta contra este mesmo Setúbal, ou nos jogos contra Estoril e Feirense, por exemplo.
No plano oposto temos Fábio Coentrão. A sua reacção ao penalti e já depois no banco de suplentes, foi a reacção que todos os sportinguistas tiveram com aquilo que lhes estava a acontecer, lembrando Sá Pinto há mais de vinte anos em Viena. O nosso caxineiro chegou no verão a Alvalade com o rótulo de jogador acabado. Teve um começo titubeante mas a meio da primeira volta agarrou em definitivo o lado esquerdo da defesa, ultrapassando uma milagrosa recuperação. Tudo isto no clube do seu coração, coisa que actuamente tem um valor relativo no futebol profissional, mas que se calhar tocou mais fundo em Coentrão. Mais do que a reacção de um sportinguista, a reacção de Coentrão é de alguém que já pisou grandes palcos, conquistou títulos, que entretanto foi afastado e humilhado e que nesta sua "segunda vida" depositou todas as esperanças e forças para recuperar um espaço que já foi seu. E sentiu a displicência da equipa no lance do penalti como uma facada nas suas costas. Daí a sua explosão de raiva.
Este Sporting versão 2017/18 é possivelmente dos melhores planteis das últimas décadas, seguramente o melhor desde 2002. Tem qualidade individual e de conjunto. O treinador é experiente. O presidente é um apaixonado e faz de tudo para proporcionar aos sócios e adeptos o gosto de ver o seu clube campeão nacional. Os adeptos são excedíveis no apoio incondicional à equipa. O que falta então a este Sporting? Acredito que o que tem a mais em qualidade, falta-lhe por vezes em raiva, fúria de vencer. Lembro-me da entrevista de Jaime Pacheco a Rui Miguel Tovar, onde disse ter ficado chocado com a forma despreocupada como no nosso clube se viviam os maus resultados, em contraste com outras realidades que conhecia.
Ontem vi um suposto tweet oficial do benfica, que entretanto foi apagado, onde aparecia um ferrari vermelho visto por um espelho retrovisor. Junto isto às palavras de LFV, que garantiu que o Sporting não ganharia coisa nenhuma esta época. Peço que juntem isso tudo e colem nos cacifos dos jogadores. Mostrem-lhes os tweets e posts do Facebook dos benfiquistas e portistas a gozar connosco. Metam o vídeo com a reacção do Coentrão em loop, no balneário. Deem injecções de raiva aos jogadores.
Faltam 15 jogos para o campeonato, há uma taça de Portugal e uma taça da Liga para ganharmos e ainda temos a Liga Europa. Ainda tenho esperança para esta época. Deem-me essa esperança!

2 comentários:

  1. Grande post. Concordo com tudo e partilho das mesmas preocupações e conclusões. Enfim, parece um cliché e é-o na verdade, mas nada mais nos resta do que esperar que isto tenha sido "aquele" jogo que tenha servido de aviso e nada mais.

    SL

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    1. ...e só espero que este "aquele" jogo não tenha aparecido tarde demais.

      SL

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