quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O pé frio e a cueca borrada de JJ

Não sei se isto é alguma dor de crescimento ou se é um simples mau perder. Mas fiquei fodido da minha vida com mais outra exibição onde "jogámos como nunca e perdemos como sempre". Sim, eu sei que Real Madrid, Dortmund, Barcelona, Chelsea e Juventus são tubarões e tal, muita fortes. Aqui há quatro/cinco anos atrás jogar contra eles na Champions era uma miragem e acabar o jogo sem ser cilindrado, como contra o Bayern, era muito bom. Mas está na altura dos sportinguistas exigirem um pouco mais. Como deixar de perder jogos nos minutos finais, em lances perfeitamente infantis. 
Que Jorge Jesus é um excelente treinador, não tenho dúvidas e sempre o defendi. Em 2015/16 não foi campeão no seu ano de estreia porque, como se lembrarão, a equipa campeã foi literalmente puxada para cima quando estava no fundo do poço. No ano passado a coisa correu mal, mas este ano, pelo menos até agora, a nossa prestação tem sido prometedora. Nos jogos para a Liga dos Campeões, Jesus tem posto a funcionar uma das suas principais virtudes: estuda bem a equipa adversária, explora as suas fraquezas e monta a equipa de forma a tirar o melhor partido do jogo. Foi assim no jogo de Madrid e de Dortmund, e foi assim ontem em Turim. Mas depois evidencia algo que começa a tornar-se uma característica sua nos jogos desta envergadura, que é a de não evitar o soçobrar da equipa nos minutos finais. JJ começa a lembrar aquele nosso amigo, bem parecido e bem falante, que quando sai à noite é incapaz de manter um diálogo com uma rapariga porque bloqueia... e tem azar com as miúdas. Um pé frio, portanto.
Chamem-lhe fado, destino, azar dos Távoras, whatever. Ontem, mais uma vez, JJ mostrou que "miúdas" (neste caso tubarões europeus) não é com ele. Começamos o jogo da melhor maneira, a marcar num lance em que - pasme-se!!! - tivémos sorte. Marcar golos de ressalto contra adversários desta dimensão, é obra. Depois veio a avalanche italiana. Basicamente fomos encostados, não conseguiamos sair a jogar, Rui Patrício ia adiando o empate, que acabou por chegar depois da meia-hora de jogo. A equipa aguentou a igualdade até ao intervalo, esperando-se uma segunda parte complicada para as nossas partes. Mas não, antes pelo contrário. O Sporting arrancou para a etapa complementar jogando o melhor que nos tem mostrado nesta prova. Dominou no meio-campo, fechou os espaços nas alas e foi lançando ataques que cheiravam a área da Juventus. É certo que não tivemos nenhuma oportunidade flagrante de golo, mas sentíamos que com um pouco mais de acerto e audácia, a coisa podia dar-se. O jogo começava a pedir Doumbia, a Juventus mostrava-se frágil à medida que William e Bataglia iam ganhando os confrontos no miolo. 
Foi então que JJ, quiçá escaldado por derrotas inglórias perto do fim, em vez de cavalgar para cima da Juventus em busca de uma vitória histórica, encolheu-se acagaçado, preferindo defender o empate. A cueca borrada do treinador valeu a estreia de Palhinha nestas andanças, para o lugar de um Gelson Martins que, não estando a fazer uma partida fulgorante, estava a ser uma peça importante na condução do jogo. A equipa ressentiu-se da falta de Gelson, perdendo algum fio de jogo e entregando o jogo à Juve, que ganhou forças para tentar o golpe final. O "pé frio" de JJ veio logo depois, quando decidiu retirar Fábio Coentrão por precaução (o desânimo do jogador parece indicar que ainda teria condições para acabar a partida), pondo no seu lugar Jonathan Silva, que desde a famosa "mão" em Gelsenkirchen aparece fatalmente ligado a desaires nossos na Champions. O jogador até entrou bem no jogo, com uma cavalgada até perto da área italiana, mas borrou a pintura pouco depois, quando permitiu o golo de Mandzukic. 
Não sei se o resultado seria diferente se JJ põe Doumbia no lugar de Gelson Martins. Doumbia, que até é um jogador de "pé quente" na Champions, acabou por protagonizar a melhor oportunidade de golo do Sporting na segunda parte, a fechar a partida (a reacção de Buffon ao falhanço diz tudo). Mas este foi (mais) um jogo onde tivemos "pés frios" a mais e audácia a menos. Não sei se em Alvalade a Juventus nos permitirá ter a veleidade de discutir o resultado do jogo até ao fim, mas parece-me que a oportunidade de ontem é daquelas que tão cedo não se repetirá. Agora é descer á terra, mandar as "vitórias morais" às urtigas e lamber as feridas, porque domingo vem aí um daqueles adversários chatos, que costumam comer a relva quando jogam contra nós. 
Chaves é para vencer, categoricamente.

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