terça-feira, 10 de outubro de 2017

A utópica ideia da "festa da taça"

Enquanto esperamos que a nossa selecção carimbe mais uma passagem à fase final de um Mundial, analisemos o actual estado do Sporting.
No campeonato, apesar do pessimismo endémico dos sportinguistas que se nota bem na blogosfera ou nas redes sociais, estamos na luta. É certo que perdemos uma boa oportunidade para nos isolarmos na frente, mas perante o estado físico com que nos apresentámos no último jogo, acabámos por fazer o resultado possível. Por vezes também é preciso ter esse tipo de discernimento, saber esperar pela altura certa, não correr riscos desvairados. Ter a maturidade suficiente para sabermos que há mais marés que marinheiros, e que se desperdiçámos a oportunidade no passado dia 01 de Outubro, outras mais surgirão no futuro. Basta que encaremos com o devido foco os Moreirenses deste campeonato, que chegará a altura em que passaremos para a frente. E de resto, como eu li algures por aí, o porto na sua melhor fase não conseguiu vencer o Sporting na sua pior fase e num pico de cansaço. O futuro é, se não risonho, pelo menos de esperança. 
Passados estes dias para esticar pernas e respirar fundo, eis que no dia 12 estaremos de volta, e logo na simpática vila de Oleiros, no centro do país. Esta partida ficou inicialmente marcada por mais uma investida do Estado Lampiânico sobre o nosso clube. Por razões que permanecem no mais profundo desconhecimento do comum dos mortais, na semana passada começou-se a falar num hipotético boicote do Sporting ao jogo da taça, devido à falta de condições do recinto onde o mesmo iria decorrer. De boicote ao jogo rapidamente se passou para um ataque aos habitantes de Oleiros perpetrado por essa entidade diabólica que é o nosso clube. Infelizmente para a cartilha, Bruno de carvalho saiu de forma airosa - diria mesmo que levado em ombros! - desta triste história. Não só revelou o prazer de ir jogar numa região do país geralmente arredada destes grandes palcos futebolísticos, como ainda ofereceu a receita do jogo aos bombeiros locais, sabendo-se que esta é uma zona sempre muito fustigada pelos incêndios florestais. E tanta coisa se escreveu sobre este jogo que se "esqueceu" que o Sporting será a única equipa a jogar "mesmo" no campo do seu adversário. O benfica, que deveria jogar em Olhão, vai afinal fazê-lo no Estádio do Algarve. Já o porto, em vez de Évora, jogará no confortável estádio do Restelo. O caso do benfica é compreensível, pois os estádio do Algarve é porto de Olhão. Já o porto....
A FPF quando teve a ideia de por as equipas primodivisionárias a jogar nestes campos secundários, fê-lo para ressuscitar aquela velha ideia da "festa da taça". Lembro-me perfeitamente, de nos anos 80 e 90, jogarmos em campos tão distantes e desconhecidos como em Porto Santo ou Ponte-de-Sôr, do benfica ir a Macedo de Cavaleiros ou o porto a Moura. As vilas do interior paravam quase uma semana para preparar a recepção aos grandes e os jogos decorriam sempre em clima de festa. Os campos de futebol, muitas das vezes ainda pelados, a forma aguerrida como os jogadores da casa se esforçavam nesses jogos, o apoio do público à equipa da sua terra, contribuiam para jogos empolgantes e emotivos, que não raramente terminavam com invasões de campo e com os jogadores levados em ombros pelo público em delírio. Os bilhetes custavam 100, 200, 500 escudos no máximo, fora as borlas que os porteiros davam sempre à miudagem e aquelas árvores em volta dos campos, onde em cada galho se sentavam mais 3 ou 4 espectadores. O negócio era coisa para os cafés e restaurantes da terra, porque o mais importante neste jogos era mesmo a festa do futebol.
Entretanto o futebol nacional foi perdendo esses resquícios de amadorismo e no final dos anos 90, mais do que a emoção do jogo, importava a parte do negócio e do lucro. Foi assim que também as equipas mais pequenas, em vez de aproveitarem as visitas de equipas grandes para fazer a "festa da taça", trocavam os seus pequenos campos "infernais" por estádios maiores, tendo em vista o lucro imediato da bilheteira ou a transmissão televisiva. O Lusitano de Évora prefere jogar a mais de 100 Km longe de casa e fazer um bom lucro, assim como o Vilafranquense também preferiu jogar contra nós no Estoril. Por outro lado, o actual estado profissional do nosso futebol não se compatibiliza com equipas grandes a jogar em pelados. Os campos, relvados ou sintécticos, tem de ter um mínimo de qualidade para assegurar que nenhum jogador fique em risco de contrair lesões por jogar ali.
Acho louvável a atitude da FPF de recuperar a "festa da taça", mas como se está a ver nesta eliminatória, tirando o Oleiros que receberá o adversário no seu estádio, há outros clubes que se estão a marimbar para a festa e querem é fazer o seu negócio. Ora, aqui a FPF terá de tirar as devidas ilações para o futuro, que creio que terão de ser as seguintes: os clubes pequenos terão obrigatoriamente de jogar no seu estádio contra as equipas grandes. Se esses estádios não tem condições para receber um jogo da taça (pergunto-me como conseguem jogar ali para o Campeonato Nacional de Séniores), então se calhar é melhor ponderar se não é preferível deixarmo-nos de utopias românticas, voltando ao figurino anterior. Pelo menos por enquanto.
E que no dia 12 de Outubro façamos do jogo em Oleiros uma enorme festa ao futebol. Se possível com uma grande exibição da nossa parte, coroada por uma vitória. A Juventus virá depois.

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