quinta-feira, 22 de junho de 2017

Tâmaras do Estado Lampiânico

Uma coisa é dizer aquilo que achamos ser assim. Outra coisa é dizermos o que realmente é. E quando aquilo que achamos se vai confirmando, o nosso ego sente-se mais elevado. Hoje, eu e mais uns quanto sportinguistas, estamos assim, de ego bem levantado.
Em primeiro lugar, o aperitivo: o nosso pavilhão. Falha incrível na construção do novo estádio, não se ter logo previsto a construção de uma casa para as nossas modalidades de pavilhão, devido a situações que todos sabemos quais foram e que por isso não irei perder tempo a enumerar. Com 13 anos de atraso foi finalmente suprimido este colossal erro, bem como o outro erro menor, aquele de deixar esquecida e a ganhar pó a estátua do leão, finalmente exposta num lugar digno.
Depois veio a refeição, estragada pelo meio com uma derrota no futsal. O prato principal, servido pelo porto canal, revela-nos mais um pouco sobre onde chegou o polvo. SMSs do presidente da FPF interceptadas e guardadas por alguém a mando do presidente da assembleia geral da Liga, para posterior envio a Pedro Guerra. O segundo prato parecia suculento, versando sobre a arte de bem fazer pressão sobre o conselho de disciplina. Mas a vista do prato foi muito melhor que o seu sabor insosso, não saindo daqui nada de espetacular face ao que já foi revelado. E ao que falta revelar.
Por fim, não há jantar que não acabe numa bela sobremesa. Como estamos às portas do verão, o que sabe mesmo bem é fruta, para não perdermos a linha antes de ir à praia. E que fruta nos saiu ontem! Uma fruta especialmente confeccionada pelo Estado Lampiânico, fazendo jus às suas origens no deserto, onde o Kadhafi dos pneus fez a sua primeira fortuna. Nada mais, nada menos que umas deliciosas, suculentas, vermelhas e doces tâmaras! E que tãmaras são essas? Pois bem, relatos minuciosos sobre a vida íntima dos árbitros, alguns até apimentados com fotografias da amante. E se achamos que essas tãmaras sabem a pouco, parece que por 400 euros podemos comer mais algumas...
O que foi revelado ontem demonstra que a tese do lume brando continua a ser seguida por Francico J. Marques. Todas as semanas vai saindo mais qualquer coisa, mais grave que na anterior, como que levantando o véu um pouquinho mais de cada vez. Neste momento não há lampião que não trema como varas verdes cada vez que é anunciado mais um episódio das conversas de FJM. E não há sportinguista que não se ria com o que vai sendo revelado, principalmente quando nos lembramos daquele vizinho lampião que no elevador atira-nos sempre com aquela "Ah e tal, quando o Bruno sair de lá vão ver que é pior que o Vale e Azevedo!".
Que o EL tem o futebol todo na mão, não era surpresa nenhuma. Mas sinceramente que não esperava ver o EL utilizar as mesmas armas usadas pelo Sistema. Pensei que putaria e chantagem já estava fora de moda, primeiro pela diferenciação que o EL queria fazer, segundo pelos próprios árbitros, que pensei terem ficado escaldados após a fruta e o café com leite. Por um lado era fácil de mais, mas por outro lado é de uma eficácia terrível. É a melhor forma de ter ascendente sobre alguém, usar episódios da vida íntima como forma de chantagem. A simplicidade como estas coisas são feitas continua a surpreender-me.
E o mundo jornalístico, como fica? O que foi ontem divulgado é demasiado grave para continuarmos a ouvir desculpas como as escutadas nas últimas semanas. Actualmente a coisa já não está se o e-mail queria dizer isto ou aquilo. Foram feitas acusações muito sérias e gravíssimas, algumas roçando o crime. A ser verdade que foram interceptadas as mensagens de Fernando Gomes, que um clube espia e tem ficheiros detalhados sobre a vida privada de árbitros, bem como pagará umas tâmaras a quem lhe consiga servir os interesses, estamos perante um caso de adulteração de resultados desportivos ao nível do Apito Dourado. Quer-me parecer que as revelações continuarão a surgir nas próximas semanas, pelo que é expectável que a gravidade do Apito Abençoado ultrapasse a do Dourado.
Enquanto aguardo o próximo número de contorcionismo que o Al-Carnidão divulgará pelos seus fieis Ayatolas, deixo-vos esta curiosidade: hoje ainda não escutei conversas sobre futebol na rua, nos transportes públicos, no café ou no trabalho. Impera um silêncio confrangedor, intercalado por rostos preocupados e sôfregos. O que é revelador.

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