sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O Debate


Ontem finalmente vimos a confrontação dos candidatos a presidente do Sporting. Entre surpresas ou confirmações, eis o que achei do debate:

Postura dos candidatos:
Uma das surpresas da noite. Quem esperava um Bruno esmagador, politicamente incorrecto, provocador e agressivo, certamente ficou estupefacto com a postura moderada do actual presidente. Ele raramente respondeu às provocações, mesmo as rasteiras, soube manter o foco no bom que fez desde 2013, manteve o trato cordial do debate e não enveredou pela provocação.
Pedro Madeira Rodrigues entrou no debate motivadíssimo. Sempre a atacar, procurou ser acutilante nas críticas a BdC. Da mesma forma que o presidente procurou focar os sucessos do seu mandato, PMR focou os aspectos negativos, como por exemplo a venda de Montero. A postura de PMR, claramente o mais "desesperado" para ganhar o debate de hoje, levou a que por alguns momentos despertasse o CityLion que há dentro dele, como quando aludiu à vida profissional de BdC antes de 2013 ou ao seu carácter enquanto lida com o plantel profissional ou os colaboradores do Sporting.

O que disse Pedro Madeira Rodrigues:
Tal como nos debates políticos, também não foi aqui que se discutiram os conteúdos programáticos das candidaturas. Pedro Madeira Rodrigues usou e abusou do futebol, que como o próprio referiu, era o seu grande trunfo para o debate. Enalteceu as suas escolhas para a estrutura do futebol, mas não conseguiu camuflar que a escolha de Boloni foi algo apressada. Também não convenceu quando afirmou não pretender desestabilizar o balneário  com o anúncio do treinador. A forma como depreciou a formação e as modalidades, além de injusta, demonstrou algum distanciamento seu. Principalmente no que às modalidades diz respeito.
Sobre a área financeira do clube, onde PMR estaria até mais à vontade do que o seu oponente, pareceu-me pouco preparado. Insistiu que a Academia era do BCP, sem o provar. Insinuou que as contas do clube, nomeadamente o rácio custos operacionais/receitas, estariam "martelados". Não explicou porque considerou as VMOCs passivo do clube. Considerou que o Sporting, com ele, faria um melhor negócio com a NOS, porque os sportinguistas tem um nível financeiro superior ao dos seus rivais(!!!!). Por fim, bateu na tecla de que o clube está hoje como estava em 2013, quando Godinho Lopes saiu. O que é absurdo. 

Bruno de Carvalho:
Menos efusivo do que o seu oponente, BdC optou por uma postura "Medina Carreira": exibiu um conjunto de gráficos para os telespectadores perceberem a evolução positiva das constas do clube nestes 4 anos. Foi suficientemente convincente, até porque PMR enveredou por lançar suspeitas sobre as credibilidades dos números apresentados. Sabendo-se o escrutínio a que as nossas contas tem sido sujeitos nestes últimos anos, pareceram-me descabidas as dúvidas do seu adversário.
Sobre o futebol, BdC não apresentou surpresas: ele será o homem forte do futebol profissional e da formação. Aqui PMR, como seria esperado, pegou nos aspectos de gestão criticáveis, como as várias contratações falhadas ou a venda de Montero. BdC terá tido aqui a sua pior prestação no debate: não fez a contrição pelas escolhas falhadas, preferindo destacar que no deve/haver de compras e vendas, estes últimos 4 anos foram positivos. Depois apresentou uma descabida estatística de taças e campeonatos ganhos. 
Defendeu bem a política do clube no que à formação e modalidades diz respeito, contrastando com a ligeireza com que PMR tratou destes temas. BdC teve ainda tempo para dar uma bicada no adversário sobre a questão do milhão e meio para o fosso, cadeiras e LEDs, sem que este tivesse capacidade para retorquir.

Resultado final:
Este debate assemelhava-se àqueles jogos de futebol já em fim de campeonato, onde o 2.º classificado vai a casa do líder tentar encurtar a sua desvantagem. O 2.º classificado, como sendo o que tem mais a ganhar, assume o jogo, a posse de bola e tenta carregar sobre o adversário. O líder, escudado por jogar em casa, consciente da sua vantagem e do seu valor, deixa o adversário jogar, cansar-se, procura explorar-lhe as fraquezas mas não arreda na defesa. O segundo bem que tenta, mas não conseguindo facturar tenta no final desestabilizar o adversário com sarrafadas na grande área e jogo agressivo. O líder, consciente que se cair no jogo do oponente pode enfraquecer a sua posição no jogo, prefere não responder e até fazer um pouco de anti-jogo. Sem golos, a partida chega ao fim empatada, com sabor a vitória para o líder e com sabor a derrota para o desafiante.
Foi assim que vi o debate de ontem. Um empate com consequências diferentes para os candidatos. Os apoiantes de BdC dirão que se limitou a focar o que de bom se fez sem sair beliscado, enquanto os adeptos de PMR falarão da maior presença em jogo do seu candidato mas sem tirar grande proveito disso.

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