terça-feira, 22 de maio de 2018

Depois da tempestade, a bonança

Depois do furacão da semama passada, eis que começou a soprar sobre Alvalade uma amena brisa de bonança. Não houve a tão temida debandada de jogadores (salvo os que vão jogar o Mundial) e a próxima pré-época começou a ser calendarizada, dando um sinal de que o mundo continua pulando e girando como sempre.
Com Raphinha já garantido, com Rui Patrício a caminho de Itália para a mais que esperada transferência para o Nápoles, resta começar a arrumar internamente uma casa que se desfez em cacos nos últimos dias. Espera-se nos próximos dias uma definição do futuro de Jorge Jesus no Sporting, que pessoalmente acredito que passará pela sua transferência. Quando à saída litigiosa de jogadores, além das diversas opiniões jurídicas que invariavelmente desaguam na ideia de que tal é forçado e até prejudicial para os atletas, além de ainda não se terem verificado, assistimos espantados à notícia da possível renovação do empréstimo de Fábio Coentrão ao Sporting. Se esta notícia se confirmasse, matávamos dois coelhos com uma só cajadada. Não só calávamos as vozes que teimam em vender a ideia de que nenhum jogador quer continuar em Alvalade, como também as vozes que imputam ao caxineiro a origem da instigação de revolta no plantel sportinguista. Como em tantas outras paragonas que surgiram nestes dias, também esta merece que seja digerida com a devida precaução, tal é a falta de acerto da comunicação social nos temas que dizem respeito ao nosso clube.
Gosto deste clima de paz no Sporting. Ainda estamos muito longe de uma "reconciliação", mas registo o facto das entidades envolvidas terem finalmente demonstrado maior respeito pelo Sporting, preferindo dar tempo à actual direcção para organizar minimamente a próxima época. A reunião prevista para quinta-feira pode nem sequer ser decisiva, isto se continuarem pendentes alguns dossies de resolução urgente: falo obviamente da questão do treinador para a próxima época, mas também do avanço da restruturação da nossa dívida. A entrada directa na Liga Europa aliviou o nosso calendário, pelo que temos de aproveitar esse balão de oxigénio para prepararmos a equipa e não para continuarmos a guerra civil entre sportinguistas. Primeiro o Sporting, dar condições à equipa de futebol para fazer uma pré-época concentrada no plano desportivo e um inicio de temporada com o pé direito. Depois sim, avancemos então para a questão directiva.

domingo, 20 de maio de 2018

Desolação final e os tempos difíceis que aí vem

Hoje seria a derradeira oportunidade para levarmos algo de positivo desta época, mas os acontecimentos dos últimos dias tornaram esse aspecto irrelevante. A derrota de hoje é o corolário de um desabamento que começou há duas semanas em Alvalade, quando ainda tínhamos algumas aspirações a acabar positivamente a temporada. É um final de época parecido com o de José Peseiro em 2005. Se bem que aqui com consequências mais gravosas.
O balanço de 2017/2018 é necessariamente negativo. A época começou tremida, mas a certa altura pareceu que tínhamos um plantel capaz de bater-se até ao fim nas quatro frentes em que jogávamos, com boas exibições pelo meio. Um empate em Setúbal e uma derrota no Estoril deixaram-nos prematuramente fora da luta pelo campeonato. A conquista da taça da Liga foi um feito importante, até porque foi a primeira vez que ganhámos esse troféu, mas foi muito pouco. Perder o segundo lugar e a taça de Portugal da forma como se perdeu, é imperdoável para uma equipa que até meio da época tinha aspirações a ser campeã.
O modelo de Jorge Jesus esgotou-se completamente em Alvalade. Hoje voltou a cometer os mesmos equívocos dos últimos jogos, lançando em jogo um William completamente sem ritmo nem cabeça para competir nesta fase da época. Fábio Coentrão arrastou-se em campo praticamente desde o início da partida. A perder, não queimámos a última substituição para, sei lá, lançar mais uma torre para o chuveirinho final. Uma supertaça e uma taça da liga em três épocas é muito pouco para um treinador que chegou ao Sporting com os pergaminhos que JJ trazia. Cada vez mais é evidente que sem o "Estado Lampiânico", JJ é a versão "made in Amadora" de José Peseiro.
Para alguns jogadores também chegou ao fim o seu tempo. Seja porque foram empurrados para a porta da saída, seja porque eles mesmos se alhearam do clube, é tempo de dizermos adeus a jogadores como Rui Patrício ou William. Aqui só espero que ambas as entidades (jogadores, agentes e clube) mantenham a dignidade até ao fim e evitem a vergonha de arrastar pela rua um processo litigioso. E que os sportinguistas lhes prestem a homenagem que creio que lhes é merecida.
Bruno de Carvalho também terá de tirar as devidas ilações de tudo o que se passou nos últimos dias. A sua falha de liderança atingiu o cúmulo do ridículo de o clube não ter estado hoje representado oficialmente na tribuna. Pelo que disse ontem, parece que o presidente levará às últimas consequências a sua saída do Sporting, que passa por enfrentar os sócios em AG. É a continuação da guerra civil entre sportinguistas.
Adivinham-se tempos conturbados em Alvalade nas próximas semanas. Isto tudo quando se deveria começar a preparar uma época que deveria ser de reset, com uma nova equipa técnica e de renovação do plantel. Com um presidente a dirigir o clube a partir de uma trincheira, sem team manager, com um treinador que agora não saberemos se sai ou não, com jogadores que não saberemos se vão rescindir com o Sporting ou não, com a comunicação social diariamente a meter carvão... 
Só peço uma coisa a quem ficar. Que a próxima temporada seja preparada e iniciada com o mínimo de dignidade que esta instituição centenária, os seus sócios e simpatizantes merecem. E que não se esqueçam que em primeiro lugar estão sempre os interesses do Sporting Clube de Portugal.

sábado, 19 de maio de 2018

Bruno contra o mundo

Sem querer, Bruno de Carvalho descaiu-se e mostrou a fragilidade da sua actual posição enquanto presidente do Sporting Clube de Portugal.
Quando na segunda-feira questionou os jogadores se tinha havido algum problema na véspera com o Fernando Mendes, todos lhe responderam evasivamente. Nenhum demonstrou confiança no seu líder para desabafar sobre o sucedido. Ser líder também é isso, saber merecer e manter a confiança daqueles que trabalham consigo. O que resulta deste episódio? BdC já não tem capacidade de liderança sobre os seus homens.
Depois, a ideia de que ao enfrentar um ex-líder de claque, actual líder de facção, os jogadores "puseram-se a jeito", pois Fernando Mendes e a sua gente são malta perigosa. Esta assumpção subliminar de fraqueza, do homem que dava a vida para defender os seus jogadores se estivesse em Alcochete, é-lhe fatal. Significa que o presidente-adepto não tem mão naqueles que lhe deviam ser mais próximos: os adeptos e, especialmente, uma franja destes.
Falta de liderança sobre os jogadores e sobre os adeptos. Esta é a actual, e concerteza fatal, fraqueza de Bruno de Carvalho.
De resto, não podia estar mais de acordo com Bruno de Carvalho: o arraso a Ricciardi, Sobrinho, Marta Soares, Rui Pedro Braz, Luís Nazaré, TVI, Correio da Manhã, o jornalixo em geral, é mais que justificado. A certeza e insistência de que as rescisões não tem fundamento jurídico, leva-me a concluir que ele sabe que há jogadores em vias de entrar por esse caminho e já está a preparar os adeptos.
Não concordo com a forma como a cabeça de Rui Patrício foi oferecida aos adeptos. Estará já a fazer uma gestão de danos face a uma eventual tentativa de rescisão do nosso capitão? De qualquer forma não gostei de como foi destratado. Podem-se ter já esquecido, mas eu ainda me lembro de em 2011, 2012 ou 2013 mandarem o Rui Patrício para as flash-interviews dizer que "ia levantar a cabeça". Por muito difícil que esteja a sua relação com BdC, Rui Patrício a sair, deveria fazê-lo pela porta grande.  
Continua a fuga para frente. Por um lado Bruno de Carvalho demonstra ter um arcaboiço digno de um herói solitário, qual Soldado Milhões sozinho na sua trincheira a enfrentar a avalanche de alemães. Por outro lado, a sua conversa assemelha-se ao delírio daquele General que, já sem homens, ainda fazia mover exércitos imaginários no mapa de batalha, acreditando que a vitória estava para breve. Como o captomente muito bem disse, tudo isto é uma valente merda!

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O povo é sereno

Corria o ano de 1975. Em pleno PREC, durante uma das dezenas de manifestações que se faziam nas ruas, o então primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo proferiu a célebre frase "o povo é sereno, é só fumaça", quando tentava acalmar a turba exaltada pelo rebentar de um petardo.
Não vivi o chamado "verão quente" de 1975, mas ouvi e li relatos suficientes para ter uma ideia do que foram aqueles meses. Boatos e rumores de revoluções e contra-revoluções, manifestações diárias, um misto de loucura romântica com alucinação revolucionária. Enquanto Portugal se preparava para entrar num turbilhão que se previa fatal, falaram mais alto as vozes do bom senso. A serenidade conseguiu impor-se ao frenesim revolucionário. A acalmia permitiu que não se perdesse o que de melhor se conquistara nesses meses, não permitindo que atracção coletiva pelo abismo deitasse tudo a perder.
Hoje, o Sporting parece o Portugal de 1975. A frenética roda dos acontecimentos gira perdida e livre, ameaçando esmagar tudo que se lhe intrometa pelo caminho. A contestação de alguma massa adepta desembocou na mais infâme acção que um "sportinguista" poderia alguma vez praticar: a destruição daquilo que é nosso, um ataque ao nosso coração. As notícias, essas, circulam também sofregamente pelos murais das redes sociais, anunciado um desencadeamento de acontecimentos espantosos posteriormente desmentidos. O que é verdade às 11h23, é mentira às 18h45. Nas mesas redondas televisivas, os "especialistas", os "ilustres" e os "notáveis" entretem-se duas, três, quatro horas ou mais, a masturbar-se sobre temas que já não existem, seja porque foram desmentidos ou porque estão enterrados e exorcizados desde 2013. Nunca, como neste momento, houve tanta necessidade de serenidade nas acções, nas palavras e até mesmo no silêncio. Estamos todos como aqueles manifestantes em 1975, atordoados pelo estoiro das últimas bombas, desorientados pela cortina de fumo levantada, completamente em pânico sem saber o que se estava a passar. Precisamos de vozes que nos acalmem, que nos guiem, que sirvam de farol e apontem "é este o caminho!". Vozes firmes que gritem "o povo é sereno, é só fumaça!!!!", em quem nós reconheçamos capacidade e confiança suficiente para nos conduzir.
Pela primeira vez desde Domingo, hoje acordei bem disposto. Tinha um certo receio de ligar a TV de manhã, mas depois de um curto período de indecisão terminado com um "Que sa foda!", lá a liguei. Respirei fundo, hoje ainda não tinha caído uma bomba nova. Passei uma vista de olhos pela TL do Twitter e ri-me. Era a rescisão da NOS, a rescisão dos jogadores, a implicação do Bruno pelo Fernando Mendes, o doping do Coentrão, os NN infiltrados no ataque a Alcochete, o ex-SIS do benfica, o Geraldes em preventiva, a detenção iminente do BdC.... Calma rapazes! Respiremos fundo! Já perdemos muito nestes dias, não deitemos a perder o resto que falta. Aguardemos. Nervosos, mas aguardemos. Que tenhamos a cabeça limpa e a alma preparada para enfrentarmos com coragem e dignidade as más notícias que tivermos de enfrentar. Sim, porque nós somos o Sporting. Somos diferentes. E é nestas alturas que temos de recorrer a essa diferença que nos distingue dos outros. Termos coragem de aceitar o mau, mas com a dignidade de limparmos a cara porque sportinguista que é sportinguista anda de cara limpa. Mas tudo a seu tempo. Quando chegar a altura de limparmos a cara - se ela estiver suja - limparemos. Agora relaxemos para passar o atordoado das bomba. E aguardemos pelas certezas, quando elas se revelarem. E ouçamos com muita atenção as vozes ao nosso redor.
Por estes dias tenho ouvido e continuarei a ouvir vozes a chamar-nos, tal como as sereias cantavam aos marinheiros para eles despedaçarem os seus barcos contra as pedras. Ouço muito lobo com pele de cordeiro a balir pela nossa atenção. Vejo as hienas do costume a acercarem-se da carcaça moribunda em que o Sporting se transformou hoje. Olho conformado para os ratos que já desataram a saltar borda fora do navio. Conheço-os a todos de ginjeira, os lobos, as hienas e os ratos, e a mim não me enganam eles outra vez. Mas também anotei o nome daqueles que, num momento onde é fácil achincalhar e pontapear quem está no chão, preferiram falar em defesa do Sporting Clube de Portugal, recusando-se a humilhar e a sovar quem já está desvanecido na lama. 
Bruno de Carvalho é hoje um corpo desmaiado no chão à beira de colapsar. Espancado, cuspido, arrastado e pontapeado, resta-lhe usar as últimas forças para levantar a mão e render-se ao inevitável. Merece de mim o mais sincero respeito, pelo muito que fez desde 2013. Mas perdeu-se no turbilhão frenético em que transformou o Sporting nos últimos tempos, tendo sido arrastado por ele. É irónico, mas Bruno de Carvalho foi engolido pela própria revolução que conduziu. Sobra-lhe sair de cena. Não sei se algum dia o futuro lhe irá dar razão. Queria muito que sim. E se isso acontecer, cá estaremos para lhe prestar o devido tributo.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Dia da Infâmia

Acabava eu de escrever e publicar o meu último post, quando comecei a receber notificações dos vários sites de notícias dando conta de uma invasão de adeptos a Alcochete, culminada com agressões a vários jogadores e técnicos, além do vandalismo perpetrado contra as instalações da Academia.
O ataque de ontem encerra em si o mais negro episódio da centenária história do nosso clube. Bate a derrota de Salzburgo, as pedradas do Jamor em 1994, o "buraco" de Jorge Gonçalves, o sétimo lugar de 2013, os 12-1 do Bayern de Munique e tantos outras passagens que em tempos achamos que seriam as mais tristes do nosso clube.
O ataque terrorista foi feito ao coração do Sportinguismo, precisamente a nossa amada Academia, uma obra de que todos nós nos orgulhamos imenso e onde depositamos o maior carinho, quiçá mais ainda que no nosso estádio. 
Enquanto cidadão de Portugal, sinto-me perplexo por ver a facilidade com que 40/50 mânfios, muitos deles referenciados por violência e radicalismo clubístico, se organizam entre si e munidos de bastões de ferro e outros apetrechos invadem uma propriedade alheia e aí lançam o caos. Numa era em que tanto se fala de segurança global, de técnicas contra-terroristas, de serviços secretos, etc., é possível que no Portugal de 2018 estes grupos circulem impunemente à nossa frente, mesmo debaixo dos narizes de que nos devia proteger. Isto não é um problema só do desporto, é também da segurança interna do país!
Quando ontem à noite ouvi Bruno de Carvalho na SportingTV, falando num tom sereno e tentanto desdramatizar uma tragédia - quero eu acreditar que o fez para lançar água na fervura dos ânimos exaltados - perguntei a mim próprio porque é que o discurso sereno e conciliador demorou tanto tempo a ser adoptado? Porque é que desde Março e até ontem à tarde, preferiu-se fazer um discurso de confronto, de trincheira, insultuoso até, sem se aperceber dos sinais cada vez mais evidentes de algo poderia correr mal? Quantas vezes teríamos de assistir a "espetáculos pirotécnicos" na baliza do Rui Patrício ou a apertões a jogadores para vislumbrarmos que o caminho que se estava a trilhar iria desembocar numa tragédia?
Quem frequenta a Superior Norte já reparou há muito que o constante discurso incendiário deu os seus frutos. Aquela que era uma bancada de adeptos ruidosos mas ordeiros transformou-se nos últimos meses num nicho de radicais cada vez mais numerosos e activos, que  hoje já nem tem pudor em confrontar outros sportinguistas quando estes não concordam com nas suas paranóias. Hoje a Superior Norte é o espelho do Sporting actual: um enorme fosso entre uma maioria de adeptos pacíficos e um conjunto cada vez mais numeroso de radicais "ultras". 
Sempre poderemos argumentar de que o mesmo se passa noutros clubes. Realmente não faltam histórias de violência nos estádios, agressões a árbitros e dirigentes. Vivemos no nosso futebol a cultura do "apertão", basta lermos alguns comentários nas redes sociais e ouvir algumas vozes à porta dos estádios. E apesar de só ontem o Governo ter acordado para o problema, é uma situação que se degradou especialmente no último ano. Mas ontem foi mais grave, porque houve premeditação e a invasão de um espaço sagrado, não só para os jogadores mas para todo o Universo Sporting. Entendo que o nosso Presidente relativize a tragédia de ontem numa lógica de serenar os ânimos. Mas não aceito que não tire as devidas ilações desta ocorrência para o futuro próximo.
Não sei como serão os próximos dias nem como irá decorrer a final da Taça de Portugal. Enquanto sportinguista que sofre pelo seu clube há mais de 30 anos, mas que sempre se pautou por princípios no desporto que rejeitam liminarmente acontecimentos como o de ontem, desejo ardentemente que os jogadores e técnicos sintam a força dos milhares que ontem à noite estiveram em Alvalade. Queria muito que o plantel senti-se a força desses milhares e que jogassem domingo para eles. Que a final da taça fosse uma oportunidade para pontapearmos os "ultras". Que o jogo fosse dedicado a mim e a ti, que também sofres como eu sofro. Queria que no final os adeptos, qualquer que fosse o desfecho, invadissem o campo e abraçassem cada jogador e o seu treinador, numa clara demonstração do que é a cultura desportiva "à Sporting". Infelizmente nem sei se chegaremos perto disso.
Os jogadores podem todos rescindir contratos unilateralmente, a equipa técnica pode ser despedida com justa causa e o presidente e restante direcção e órgãos sociais demitirem-se ou serem demitidos. Mas no final ficamos nós, os sócios e os adeptos. E se for preciso, cá estaremos, como sempre estivemos, para reerguermos novamente o Sporting Clube de Portugal.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Carven on Sardines

Nos quase quarenta anos que levo como adepto e sócio do Sporting Clube de Portugal, tenho-me pautado sempre pela mesma máxima: prefiro perder bem a ganhar mal. Sou daqueles adeptos que fica irritado porque ganhamos aquele jogo com um golo fora do jogo ou com um penalti mal assinalado. No desporto, como na minha vida, sempre me conduzi pelos mais elevados valores morais e éticos. E sinto orgulho de pertencer a um clube que durante toda a sua história (salvo algumas excepções, felizmente raras) partilhou igualmente a defesa dos mesmos princípios.
Por tudo isto que escrevi, digo-o agora sem rodeios sem subterfúgios, que a ser verdade tudo aquilo que o "Pasquim da Manhã" publicou, não espero outra coisa que não a condenação judicial de quem transgrediu, bem como a expulsão do clube dos funcionários e dirigentes envolvidos. 
Isto é o Sporting, e tenho a certeza que 99,99% dos sportinguistas se revêm nesta postura.
Sobre a notícia em si, o carvão, ela entristece-me. E por vários motivos. Primeiro, porque arrasta para a lama o bom nome do meu clube. Segundo, porque põe em causa uma das mais importantes conquistas que se fizeram nestes últimos anos ao nível das modalidades. Terceiro, porque constato que por mais barulho ou boicotes que se façam, o nosso clube continua a ser facilmente sovado pela comunicação social do burgo. Desde a incrível "suspensão" de JJ ontem, até à divulgação destas mensagens, constato que é fácil criar horas a fio de frenesim em torno de algo que, até ver, é vago. E o quarto motivo, e mais importante, é sobre o conteúdo da notícia em si. É matéria grave, não o nego, mas vazia. Vazia, porque o que temos é alguém, um suposto criminoso, que diz ter contactado com um dirigente do Sporting por interposta pessoa, que por sua vez coordenaria um esquema de corrupção desportiva no andebol. 
Não sei que mais carvão irá o Pasquim da Manhã lançar nos próximos dias, nem sei o que é que vai ser revelado no "Mercado de Benfica" a 18 de Maio. Sei que o nome do meu clube vai ser arrastado na lama nos próximos dias. 
Repito-o, para que não haja dúvidas, a ser tudo verdade, que os culpados sejam exemplarmente punidos. Para já, tudo isto parece uma "história da carochinha". E se se confirmar que tudo isto não passa de mais uma mão cheia de nada, então parabéns aos pasquins. Conseguiram novamente colocar os sportinguistas a cerrar fileiras junto do seu presidente. Algo que já achava dificil de ocorrer.

domingo, 13 de maio de 2018

Um soco no estômago

Os números.
78 pontos, 63 golos marcados e 24 sofridos. 24 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Ficámos a 10 pontos do campeão, a três do segundo e com mais três do que o quarto classificado. Em golos marcados ficámos muito àquem das restantes três equipas que acabaram nos quatro primeiros lugares. 19 golos a menos do que o porto ou a 9 golos do braga. Fomos a terceira defesa menos batida do campeonato, com mais seis golos consentidos do que a melhor, do porto. 
Os números não enganam. Numa época em que sabíamos que tinha de ser quase perfeita para podermos alcançar o título de campeão, estivemos muito longe da perfeição que se impunha. As nossas quatro derrotas foram em braga, porto, Estoril e Marítimo. Se as duas primeiras até são aceitáveis, já as duas últimas não. Até poderíamos conseguir ser campeões com os 4 pontos em 12 que somámos nos confrontos com porto, benfica e braga. Mas perder sete pontos com os últimos cinco classificados é que não. 

O campeonato
Dizem que os extremos se tocam e esta época foi um ponto assim. Perdemos quase tantos pontos com os cinco primeiros classificados como com os cinco últimos. Acabámos o campeonato a jogar tão mal e com tantas dúvidas da nossa qualidade como quando o começámos. Pelo meio chegámos a liderar a prova e tivemos jogos onde mostrámos muito bom futebol. Mas após um empate desastroso em Setúbal, nunca mais nos conseguimos endireitar. Contra o Marítimo tínhamos a oportunidade derradeira de ainda podermos dizer que este campeonato, não tendo sido bom, tinha sido razoável. Fazer mais de oitenta pontos e conseguir o segundo posto seria sempre algo satisfatório. Depois da derrota da Madeira, não há retórica que nos valha. O campeonato correu-nos mal e numa época onde ambicionávamos o título de campeão, acabar em terceiro como acabámos é um soco no estômago.

O treinador
Jorge Jesus fez uma boa época de estreia, a segunda correu mal e esta seria a do tira-teimas. E tinha tudo para correr bem. O planeamento da pré-época foi exemplar, as contratações quase todas asseguradas a tempo de preparar calmamente a época. Tirando talvez o ataque, onde Doumbia não correspondeu às expectativas, todas as contratações foram autenticos reforços para a equipa principal. Jorge Jesus começou, como de costume, por dispensar os mais novos. Matheus Pereira e Francisco Geraldes tiveram guia de marcha e Iuri teria alguns meses mais tarde. Alan Ruiz foi aposta recorrente até se tornar insustentável justificar a sua utilização. Brian Ruiz, incompreensivelmente posto de lado, foi mais incompreensivelmente ainda repescado e transformado em pedra nuclear da equipa. Salvo alguns períodos na primeira volta, o nosso futebol foi sempre previsível, empastelado, pouco dinâmico e pouco audacioso.
Não há como não o dizer, mas de um treinador que ganha milhões esperava-se outro tipo de futebol. Empatámos 6 jogos mas podíamos ter empatado mais, se não tivéssemos tido a sorte de ganhar inúmeros jogos em cima da hora, em partidas onde a qualidade do nosso futebol praticado variava do sofrível ao desastroso. Tondela, Moreirense, Portimonense, Estoril (em Alvalade), Rio Ave, etc., demasiados jogos onde jogámos muitíssimo pouco e ganhamos com lances fortuitos. 
Jorge Jesus tem mais um ano de contrato e o meu feeling é que o cumpra atá ao fim. Não há nenhum clube que o queira agora (sem estar livre) e o Sporting, sem Champions, não se pode dar ao luxo de gastar dinheiro para o mandar embora. Mas já percebemos que com JJ a nossa equipa não passa disto. Em primeiro lugar, não aposta em jogadores novos em crescendo. Não tem paciência ou não os sabe trabalhar. Prefere que eles venham já feitos, de um qualquer campeonato sul-americano ou do Leste. Depois é o seu próprio futebol, onde passa por utilizar até à exaustão os seus jogadores fetiche, nem que para isso empenhe a qualidade de jogo. Com JJ conseguimos realmente exponenciar alguns jogadores, que conseguem reencarnar aquilo que o treinador lhes pede. São os tais que rendem milhões em vendas fabulosas. Mas pelo caminho ficam demasiados jogadores a quem não lhes foi dada uma oportunidade ou que estoiraram face à pressão e exaustão que lhes era exigida.
Uma nova época com Jorge Jesus a treinador será algo de penoso para os sportinguistas. Eu pessoalmente já não tenho paciência para tudo aquilo que descrevi, mais os jogos que perdemos por culpa do vento ou do calor. 

A equipa
Em termos individuais, terá sido o melhor plantel desde 2002. Mas seja porque o treinador não aproveitou tudo o que cada jogador lhe poderia oferecer, ou porque a cabeça dos jogadores fraquejou quando a pressão aumentou, a equipa acabou por não corresponder as expectativas criadas à sua volta. Já falei na gestão patética de Brian Ruiz. Falo de Wendel, um jogador caro que deveria reforçar uma das zonas onde os índices físicos eram mais críticos, mas que quase nunca foi aproveitado. O lançamento de William num derby após uma ausência prolongada. A birra em torno de Lumor. O desaparecimento de Bas Dost nos jogos grandes. A gestão de Rúben Ribeiro.
Entretanto, o episódio da "revolta do balneário", uma passagem marcante da nossa época, onde o plantel, com os capitães à cabeça, decidiram entrar em guerra com o presidente. Naquele jogo com o Paços de Ferreira vimos finalmente os nossos capitães a assumirem uma atitude guerreira, de raiva e revolta. Sem por em causa o mérito desportivo de Rui Patrício ou William Carvalho, creio que uma das nossas maiores falhas nestes últimos anos prende-se com a falta de perfil de líder dos nossos capitães de equipa. Falta-lhes mais carisma, raiva, empenho. Não o empenho profissional de aparecer, treinar e jogar, mas aquele empenho de sofrer pelo Sporting, ir ver jogos das modalidades ou usar as redes sociais para criticarem a arbitragem. Empenho em chegar ao balneário ao intervalo e mandar umas valentes caralhadas aos seus colegas. Falar grosso. Infelizmente faltam-nos capitães como Manuel Fernandes, Oceano ou Sá Pinto. E aqui, sinceramente, não sei se para a próxima época conseguiremos resolver este problema.

O presidente
Bruno de Carvalho começou a época em silêncio, fruto de um castigo federativo que o suspendeu. Enquanto esteve calado fez aquilo que lhe competia e bem. Dotou o plantel de bons jogadores e deu as melhores condições possíveis ao seu treinador. No entanto, quando abriu a boca deitou tudo a perder. Primeiro foram os estatutos, depois o post da auto-estrada, o post pós-Madrid e agora a entrevista ao Expresso. BdC continua a gerir o Sporting com o mesmo frenesim com que o fazia em 2013. O problema é que já não estamos em 2013. Felizmente, e por mérito seu, o Sporting estabilizou. Mas o clube continua a ser gerido como se estivéssemos numa trincheira. Onde estamos nós contra o mundo. Depois dos tempos negros de 2013 e 2014, os sportinguistas desejavam estabilidade. Deram-na no ano passado e repetiram-na em março deste ano. Mas começa a ser demais. O Sporting assemelha-se hoje a um manicómio, onde já não sabemos se quem fala está bom da cabeça, se está mau da cabeça ou se só está a fingir. Um clube onde quando tudo está bem, de um momento para o outro fica tudo de pernas para o ar e andamos a apanhar e colar os cacos que sobram. Cada vez há menos paciência para esta "Casa dos segredos" em que Bruno de Carvalho transformou o Sporting, ainda para mais quando esta gestão frenética põe em causa a coesão do clube, lançando uns contra os outros, obrigando os adeptos a escolher entre os jogadores e o presidente, esquecendo que o que verdadeiramente importa é o Sporting.

Os adeptos
Por último, aqueles que são os mais importantes: os adeptos. Sejam eles sócios, simpatizantes, daqueles que vão a todos os jogos fora de casa, que se sentam religiosamente em Alvalade, que aturam as troladas da lampionagem nas redes sociais. Os sportinguistas que continuam crentes a bater recordes de assistência em Alvalade e nos jogos fora. Impacientes por vezes, de assobio fácil. Bipolares, que à sexta-feira ganhamos tudo mas à segunda-feira já não valemos nada. Os sportinguistas que tanto se empenharam nestes últimos anos em prol do apoio à sua equipa. Nós, todos.
E somos os que verdadeiramente sofrem, quando empatamos em Setúbal no último minuto, perdemos no Estoril por causa do vento ou como hoje, em que na derradeira oportunidade de conseguirmos alguma coisa boa deste campeonato, assistimos incrédulos e estupefactos a um exercício de falta de empenho, compromisso e ganas de ganhar um jogo que deveria ser o jogo das nossas vidas. 
Entre exibições paupérrimas da nossa equipa seguidas de explicações patéticas do nosso treinador, posts ridículos do Facebook do presidente e de toda a sua família e resposta não menos ridícula da equipa de futebol, cuja cereja em cima do bolo foi aquele frango do Rui Patrício, todo este campeonato resume-se para mim e para todos os sportinguistas nisto: foi um soco no estômago. 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Última jornada: Jorge Jesus contra os padres e as missas

No dia 22 de maio de 2005, a nossa equipa subia ao relvado para disputar o último jogo de um campeonato muito amargo. Uma semana antes estávamos a uma vitória de sermos campeões, num jogo onde até o empate não era mau de todo, pois continuávamos a depender só de nós para sermos campeões. Quis o destino que Luisão nos marcasse um golo aos 83 minutos, num lance muito duvidoso mas onde o nosso guarda-redes também pareceu mal batido. Terminado abruptamente o nosso sonho de sermos campeões, restava-nos o consolo de alcançar o segundo lugar da prova, onde concorríamos com o porto.
Nesse dia jogámos em Alvalade contra o Nacional da Madeira. Além de termos perdido o campeonato na semana anterior, também tínhamos perdido a final da Taça UEFA uns dias antes, naquele mesmo estádio. O estado anímico dos jogadores estaria no mínimo, mas ainda tínhamos aquele ponto de honra que era o segundo lugar e, consequentemente, o apuramento para a Liga dos Campeões. Mesmo com a nossa equipa em frangalhos, o Sistema decidiu jogar pelo seguro, pelo que garantiu que não atrapalhássemos as contas finais. Até porque o Nacional andava então pelo 12.º lugar, pelo que nada fazia prever um mau resultado do Sporting naquela tarde. Mas aconteceu. Aos 24 minutos já perdíamos por 0-3, com todos os golos dos visitantes a serem marcados em clara posição de fora-do-jogo, a que se juntaram duas grandes penalidades indiscutíveis a nosso favor que não foram assinaladas. O jogo acabaria em 2-4. Uma vitória teria-nos garantido o segundo lugar, pois o porto empatou o seu jogo.
Treze anos depois, o VAR impossibilitaria (teoricamente, pelo menos) que aquela arbitragem se repetisse no próximo dia 13 de Maio. Mas não estamos livres de sofrer um contratempo igual ao que sofremos contra o Nacional. Afinal, há uma equipa que pode ficar privada de umas boas dezenas de milhões de euros, caso consigamos vencer na Madeira. Não podemos esquecer a forma como este mesmo Marítimo facilitou quando visitou a Luz para o campeonato. 
Contra 11, 12, 15 ou 17, não deixamos contudo de sermos mais que favoritos a ganhar na Madeira. Não podemos ter receio de jogar contra a equipa que, por mais "aditivada" que esteja, está em sétimo lugar, com 44 pontos (menos 34 que nós), que marcou 34 golos e sofreu 48 ao longo da prova. O melhor Sporting, com inspiração normal, é suficiente para levar de vencida a partida. Mas lá está, como não podemos correr riscos como os que corremos, por exemplo, em Setúbal, impõe-se que o Sporting seja no domingo aquilo que não foi no passado sábado: uma equipa motivada na procura da vitória, mandona em campo, cerrada na defesa, habilidosa no meio-campo, inspirada na finalização. E se assim for, não haverá padre ou missa que nos desvie do objectivo final.
Chegados à última jornada, ainda não podemos analisar com precisão a época de Jorge Jesus à frente do Sporting, pelo menos no que ao campeonato dis respeito. Uma vitória na Madeira assegura o segundo lugar e 81 pontos, o que não se coaduna com a noção de "época má". Já uma derrota ou empate, que implique a perda do segundo posto, não terá outra consequência senão a admissão de que este campeonato foi negativo. O próprio Jorge Jesus, mais do que ninguém dentro do Sporting, sabe o quanto vale a vitória na Madeira. Vale a diferença entre uma época razoável ou (mais uma) para esquecer.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Desilusão de um sábado à noite

Desilusão.
Depois do empate do Braga no dia anterior, uma vitória no derby encerraria em definitivo a questão do segundo lugar, com a agravante de que chutaríamos para o dia seguinte a festa de consagração do porto. Mas tudo isto seria demasiado fácil e se há coisa a que nós, sportinguistas, não estamos habituados, é a coisas fáceis.
Jorge Jesus fez a sua parte e lançou no onze inicial William e Picinni, claramente sem ritmo para um jogo desta envergadura. Rafa fez o que quis pela direita e William, ainda por cima fora de posição, andava perdido no meio-campo. Gastámos milhões de euros para comprar médios, mas chegamos a um jogo desta importância e lançamos um jogador acabado de recuperar de uma longa lesão. Não compreendo estas "embicações" do nosso treinador, onde por mais extenso que seja o plantel, acabam sempre por ser os mesmos a ser chamados a resolver os jogos. 
Já o disse aqui, e mantenho-o, que o nosso plantel desta época seria o melhor desde 2002. Também o disse, e continuo convencido disso, que esta equipa do benfica não está 6 ou 7 pontos atrás de nós porque é protegida pelos agentes desportivos, sejam eles árbitros, clubes pequenos ou dirigentes federativos. Por isso não compreendo como é que contra uma equipa onde Samaris, Douglas ou Rafa foram titulares, tenhamos feito uma das piores primeiras partes que já fizémos esta época. E mesmo que tenhamos equilibrado as coisas na segunda, nunca fomos uma equipa dominadora e avassaladora. E tínhamos de o fazer, porque somos melhores e a vitória resolveria tudo para o nosso lado. 
Para me recordar do último derby ou clássico onde tenhamos sido claramente superiores ao adversário, tenho de recuar pelo menos duas épocas. Causa-me algum prurido esta nossa queda de qualidade nos jogos grandes. Mas não deixa de ser curioso que o jogo grande onde jogamos melhor esta época tenha sido o único que perdemos (para o campeonato). 

Xistra como ele próprio é
O nosso jogo foi tão fraco, tão mau, tão decepcionante, que sinceramente nem sinto conforto em ter de referir que, mesmo jogando mal, tiveram de nos negar duas grandes penalidades óbvias, além da possibilidade de jogarmos os últimos minutos em superioridade numérica. E falo-o apenas por despeito à absurda argumentação de Rui Vitória, que atribuiu ao árbitro a sua incompetência para vencer um jogo onde conseguiu ser superior.
Carlos Xistra, que em 2015/2016 salvou literalmente o benfica em Guimarães, voltou novamente a ser como sempre foi. Prejudicou-nos sempre que pôde. No final da primeira parte viu uma falta sobre Rafa num desarme limpo de William, de onde resultou uma série de jogadas perigosas para a nossa baliza. Na segunda parte mostrou o amarelo a Jardel quase por favor, tal foi o tempo de levou a puxar o cartão do bolso. Perdoou a expulsão a Bruno Fernandes, mas antes disso fez vista grossa a uma cotovelada de Rúben Dias sobre Gelson.

Falta de killer instinct
Já perdi a conta às inúmeras situações onde Bas Dost, em frente à baliza, prefere passar a bola ao lado e perde uma excelente ocasião para desatar um jogo a nosso favor. Gosto do nosso matador holandês, mas a sua dificuldade em se assumir neste tipo de jogos (lembro-me de um lance semelhante contra o Barcelona) só me leva a ter saudades de... Slimani. Não estará ele por aí disponível para vir fazer uma perninha a Alvalade???

Rúben Dias: um case study à portuguesa
No inicio da década de 90, quando o Sistema estava no seu auge, havia um jovem e promissor jogador a despontar nos relvados portugueses. O seu nome era Fernando Couto, o homem da cabeleira "à Serafim Saudade", um touro de força, que tinha tanto de talentoso como de rude trauliteiro. Fernando Couto passeava-se impune pelos campos, agredindo uma série de jogadores adversários sem a devida punição disciplinar, salvo num jogo na Luz onde enfiou uma cotovelada no Moser.
Tal como Fernando Couto, Rúben Dias é o exemplo da impunidade do clube que domina os bastidores do futebol português. Um jovem jogador de vinte anos, acabado de chegar a titular da equipa sénior do benfica, mas que revela a mesma falta de decoro de Fernando Couto para agredir grosseiramente colegas de profissão. O que se passou no derby com Gelson não foi uma situação isolada, como a entrada dura de Bruno Fernandes sobre Cervi. Foi sim o repetir de um comportamento que, face á impunidade que é demonstrada, já decorre de forma reiterada. É ridículo pensarmos que Rúben Semedo, sem metade da agressividade de Rúben Dias, foi mais reprimido disciplinarmente pelos árbitros.

Última jornada
A deslocação à casa do Marítimo insere-se naquelas deslocações tipicamente dificeis para nós. Sendo o derradeiro jogo do campeonato e significando a vitória a possibilidade de aceder à milionária Liga dos Campeões, só espero que façamos ali o grande jogo que devíamos ter feito no sábado. E que tenhamos muito cuidado para não nos acontecer o mesmo que em 2005, onde na última jornada, também contra uma equipa madeirense, fomos grosseiramente espoliados do segundo lugar.

terça-feira, 1 de maio de 2018

O ressurgimento do Sistema?

Penso na magnífica equipa do Benfica que foi campeã em 2015/2016 e 2016/2017 e lembro-me de jogadores tremendos, como Jardel, Samaris, André Almeida, Pizzi, Eliseu, Renato Sanches, Jimenez, Carcela, Lisandro, Rafa ou André Horta. E olho agora para esta equipa do Porto, a apenas um ponto de ser campeã, onde demonstram talento jogadores como José Sá, Marcano, Maxi, Herrera, Danilo ou Marega (!!!). Penso nisto tudo e só me dá vontade de chorar...
Do campeonato de 2015/2016, já fui dizendo por aqui tudo o que haveria para dizer. A equipa cujo meio-campo proporcionou uma conquista europeia à selecção portuguesa, que acabou esse campeonato com 86 pontos, foi batida por outra equipa onde pontificavam os jogadores que em cima escrevi. Em 2016/2017 tivemos longe na performance do ano anterior, acusámos em demasia as ausências e não soubemos responder em jogos onde fomos "puxados" para trás. Os 70 pontos conquistados resumem o fracasso, onde nem as outras competições escaparam. Esta época, na melhor das hipóteses, chegaremos aos 83 pontos. E o Porto de Marcano ou Herrera pode fazer 88 pontos. Ou seja, nem com os pontos de 2015/2016 lá chegaríamos. A equipa de João Mário, Adrien e William Carvalho ficaria atrás de Herrera, Sérgio Oliveira e Oliver. É isto.
Perante os impressionantes recordes de pontos alcançados por equipas pouco acima de medianas, treinadas por treinadores que alternam entre o carisma de uma alface ou a esquizofrenia frenética de um Dr. Jekyll/Mr. Hyde, o que é que nos resta a nós, sportinguistas, esperar dos próximos tempos?
Para já, atendendo à corrente noticiosa que vai circulando, mau grado os esforços hercúleos de gabinetes anti-paródia, resta-nos a ténue esperança que o braço judicial deste país encontre e prove tudo aquilo que nós assistimos em campo nos últimos anos contra um clube: jogadores macios, treinadores receosos, árbitros amblíopes e uma "estrutura" de bastidores que trata das pontas soltas.
Quanto à presente época, verdade seja dita que quem vai na frente pode dizer que não precisou do mesmo expediente que o campeão da treta nestes últimos anos. Salvo uma ou outra situação onde claramente foram muito más as explicações, como a bancada do Estoril e a dívida saldada antes da segunda parte, admito que ficou muito àquem do expediente utilizado pelo Estado Lampiânico. Mas é preciso termos calma. É que eu ainda me lembro do que é que aqueles meninos de riscas verticais azuis e brancas andavam a fazer há bem pouco tempo. Virá aí a ressurreição do Sistema?
Muito da próxima época dependerá do que fizermos nos últimos jogos deste campeonato. É fundamental conquistar o segundo lugar e consequentemente a possibilidade de aceder à Liga dos Campeões. Quem ficar de fora do bolo de receitas da LC terá uma vida muito complicada na próxima época. O benfica está à beira de iniciar um processo eleitoral antecipado, como comprovam as últimas intervenções de Rui Gomes da Silva. Junte-se a isto a decrescente investimento dos encarnados na sua equipa, que tenderá a agravar-se sem as receitas da UEFA. E poderemos ter aqui o inicio de uma crise do outro lado da segunda circular. Sem esquecer nos casos criminais que estão pendentes na justiça e que poderão ser despoletados a todo o momento. Se formos nós a ficar de fora da LC, o cenário não será muito diferente. Inevitavelmente virão os inimigos de Bruno de Carvalho atacá-lo e tentar provocar a sua destituição. A nossa reestruturação financeira, sumarizada ontem pelo presidente, poderá ser afectada e ficar em causa. Muito provavelmente teremos de desinvestir no plantel, provocando algumas saídas.
Enquanto o cenário sobre o segundo lugar não se revela, podemos já falar do que significa o porto ser campeão. A equipa portista, arredada há 4 anos de qualquer título de futebol, intervencionada pela UEFA, cumprindo um rigoroso plano de austeridade, ultrapassado pelo benfica na influência atrás dos bastidores, recebe assim um tremendo balão de oxigénio. O porto pode preparar a sua nova época com alguma tranquilidade e folga, podendo recuperar alguma capacidade de investimento que perdera nestes últimos meses. Fora do campo, com a estrutura do benfica a desmoronar-se, o Sistema tem campo aberto para reaparecer. Não tenhamos ilusões. Todos os actores que contribuíram para a manutenção do Sistema, continuam aí. Desde Pinto da Costa, passando pelos seus acessores e vice-presidentes, até à estrutura federativa e da Liga (Fernando Gomes portista e Proença sempre pró-Porto), são todos sobreviventes do passado.
Nos próximos tempos teremos de andar com um olho no burro e outro no cigano. Por um lado, temos de desconfiar das notícias que dão o Estado Lampiânico em queda, que para já me parecem exageradas. Mas por outro, não poderemos ignorar o mais que provável regresso do Sistema. No meio de tudo, estamos nós. Se nos choca ver opositores de BdC de braço dado com Luis Filipe Vieira, já não poderemos dizer o mesmo se os virmos abraçados a PdC. É que se há coisa que o roquetismo demonstrou nos seus anos, é a facilidade com que se pode ignorar ou mandar às malvas os melhores princípios éticos do desporto, por troca de um prato cheio de croquetes.