terça-feira, 17 de julho de 2018

Eleições 2018: Ponto de situação das candidaturas

Ando há vários dias a tentar escrever aqui um balanço das várias candidaturas que até hoje se apresentaram. Mas tal tarefa revela-se sempre infrutífera, pois todos os dias temos novidades que nos obrigam a refazer o plano que já tínhamos delineado. Por isso, enquanto Benedito não oficializa a sua candidatura e Bruno de Carvalho não responde a Elsa Judas, vou tentar fazer aqui um ponto de situação.
Neste momento temos sete (espero ter contado bem) candidatos anunciados, sendo que é expectável que em breve este número mude. Primeiro, porque ainda não sabemos se será autorizada a candidatura de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira. Segundo, porque da mesma forma que em 2011 alguns candidatos lowprofile desistiram, também me parece pouco provável que outros nomes menos conhecidos arrisquem ir em frente até ao dia da votação. Aqui incluo Fernando Tavares Pereira, que arrisco dizer que será um ilustre desconhecido para a grande maioria dos sócios do Sporting, bem como Zeferino Boal que é o eterno candidato desistente. Depois há a eternamente anunciada candidatura de Benedito, cujo anuncio finalmente deverá ocorrer na quinta-feira.
Sobre a esperada candidatura de João Benedito, tenho alguma curiosidade em saber onde é que o ex-guarda-redes de futsal vai fazer vincar a diferença para outros candidatos, nomeadamente Frederico Varandas. Estas duas candidaturas vem de dentro ou seja, são de duas pessoas que há bem pouco tempo participavam de forma activa na vida do clube, sendo bastante acarinhadas até ao momento em que decidiram romper ou afastar-se de Bruno de Carvalho. Benedito entrou em rota de colisão com o ex-presidente em 2016 e chegou a ser visto como candidato a disputar as eleições de 2017 contra BdC. Varandas rompeu com BdC há pouco mais de um mês e numa fase onde o clube estava muito fragilizado com a invasão de Alcochete. Ao contrário de Benedito, o timing escolhido por Varandas para romper com a direcção não foi propriamente feliz, tonando praticamente impossível de descolar o rótulo de oportunista à postura do médico. De resto, a postura de Benedito ao longo dos últimos dois anos foi sóbria. Não aderiu à moda de criticar a torto e a direito BdC antes do acto eleitoral de 2017, ao contrário da maioria dos seus críticos. Pelo contrário, preferiu manter a distância do então presidente, mas sem perder a postura. A decisão de não avançar em 2017 pode ser vista como cínica, mas também revelou realismo, pois reconheceu ser impossível destronar Bruno de Carvalho no auge da sua popularidade. Mesmo quando se tornou fácil bater em Bruno de Carvalho, Benedito preferiu resguardar a sua imagem, criticando o indispensável.
Varandas tem a grande vantagem de ter partido na frente e da sua candidatura já levar algumas semanas de avanço face a Benedito. Mas parece-me que tem vindo a perder o elãn inicialmente criado à sua volta. O destaque que a sua candidatura deu a figuras do croquetismo, desperta bastantes dúvidas e receios nos sportinguistas. Depois, a denotada impreparação do médico também não tem ajudado à sua afirmação. Varandas está longe de ser um orador arrebatador, o seu discurso é muito mastigado e a gaffe da secção de Padel é arrepiante. Quanto a Benedito, arrancando nesta altura onde Varandas começa a ganhar desgaste e tornando-se evidente que Bruno e Vieira serão impedidos de se candidatar, até que ponto não irá capitalizar os votos dos antigos apoiantes do CD deposto ou dos desiludidos com Varandas? Vamos esperar pelos seu programa, pelos seus projectos, pela sua equipa, para então sim, sabermos se esta candidatura tem hipóteses para se destacar das restantes.
Quanto às candidaturas de Pedro Madeira Rodrigues e Dias Ferreira, são regressos de figuras já conhecidas do universo sportinguista, sem grandes novidades do que já sabíamos. Pedro Madeira Rodrigues continua no seu registo pedante de "somos muita bons" e "temos uma granda equipa". Ranieri é um trunfo, apesar de me parecer algo extemporâneo. Se por acaso Peseiro fizer um excelente arranque de época, inclusive com um resultado positivo na Luz, será justo despedi-lo para lá colocar Ranieri? Não que Ranieri não seja superior a Peseiro, mas também não me parece um nome tão forte como PMR quer fazer passar. Dias Ferreira, que pelos anos que aturou e enfrentou Rui Gomes da Silva e Paulo Garcia merece todo o respeito e reconhecimento dos sportinguistas, parece-me um nome já sem espaço no espectro eleitoral leonino. Demasiado queimado pelo episódio dos "charteres" do Futre, não consigo descortinar que espaço poderá ocupar nas próximas eleições. Não o  vejo capaz de ombrear contra a máquina que suporta Varandas nem contra o prestígio que Benedito traz consigo. Ao mesmo tempo não o vejo com capacidade para captar os eleitores brunistas, que sem dúvida acredito que prefiram um candidato mais novo e menos comprometido com o pré-2013.
Hoje, perante o panorama de candidatos, aposto numa corrida a 3 ou 4 candidatos, entre Varandas, Benedito, Pedro Madeira Rodrigues e Dias Ferreira (se eventualmente não desistir). Com Bruno de Carvalho e Carlos Vieira de fora da corrida, em qual destes candidatos votarão os 29% de sócios que estavam contra a destituição do anterior CD? Ou ainda aparecerá outra candidatura, completamente conotada com o brunismo?

terça-feira, 3 de julho de 2018

Sporting Clube de Proscritos

Se pegássemos num qualquer livro sobre a história do Sporting e quiséssemos juntar todos os presidentes, treinadores e jogadores que ali estão referidos como proscritos do nosso clube, muito provavelmente juntaríamos um conjunto de pessoas que hoje estão ligadas ao clube. É como se de repente a História olhasse para trás e tentasse reescrever-se, quiçá dando-nos a oportunidade de a fazer a nosso contento.
Já escrevi sobre Sousa Cintra, o presidente que mais se aproximou do estilo e carisma de Bruno de Carvalho, numa época com metade do mediatismo de hoje. O homem das águas (a cerveja foi depois do Sporting), o algarvio que não queria contratar Mark Knofler, que despediu Robson e foi buscar o novo Eusébio ao Brasil (Careca, lembram-se?). Sousa Cintra, o presidente que quis trazer Pancev para juntar a um conjunto de estrelas onde brilhavam Ivkovic, Luisinho, Naybet, Valckx, Balakov, Iordanov, Juskowiak, Figo, Cherbakov, Capucho, Nelson, Carlos Xavier... Mas onde os resultados desportivos ficavam muito àquem da qualidade dos plantéis que se esforçava por construir, limitando-se a uma taça de Portugal e outra Supertaça (onde é que já vi isto?). Sousa Cintra, muito criticado pela elite do costume, daria em 1995 o lugar à "geração Roquete", com o resultado que se conhece. Apesar da aura "croquete" com que muitos agora decidem coroá-lo, Sousa Cintra é tudo menos croquete. É alguém que no passado sentiu muito (demasiado) o clube, muitas das vezes gerindo-o mais com o coração do que com a cabeça (soa-me familiar). Esta sua segunda passagem pelo clube é demasiado fugaz para que possa deixar uma marca diferente da deixada em 1995, mas suficiente para imprimir um cunho que irá marcar o desfecho final desta época... para o bem ou para o mal.
Para tal, Sousa Cintra foi buscar o treinador que mais se pareceu consigo nestes últimos anos. Alguém cuja equipa tenha decepcionado os adeptos na justa medida que os empolgou pelo futebol jogado em algumas partidas. Esquecendo Jorge Jesus, ainda demasiado quente nas nossas recordações, não restava outro nome que pudesse combinar com o antigo presidente que não José Peseiro. O homem que com um plantel onde reunia Nelson, Beto, Polga, carlos Martins, Hugo Viana, Moutinho, Liedson, Hugo, Miguel Veloso, Custódio, Tello, Rochemback, Saleiro, Danny, esteve perto de ser campeão e ganhar a taça UEFA, mas perdeu tudo numa semana. O treinador que tinha tanto de concepção atacante de jogo (as famosas "altas pressões"), como de fraco líder de balneário. José Peseiro ficaria irremediavelmente ligado ao medonho desfecho de 2004/2005, caindo logo no inicio da época seguinte. Seguir-se-ia Paulo "4ever" Bento, que apesar dos melhores resultados alcançados, preferia um tipo de jogo mais pautado e envolvente (o famoso losângulo), que ao longo dos anos tornaria o nosso futebol previsível e sonolento. Ainda hoje José Peseiro "paga as favas" da semana terrível de 2005 e basta ler os comentários dos sportinguistas nas redes sociais para concluirmos que esteve longe de ser uma contratação consensual. Valha-nos a memória de alguns jogos ganhos na raça (Newcastle ou Alkmaar, por exemplo), ou da forma de atacar desenfreada da sua equipa (e o reverso da medalha, que era a descompensação defensiva) e temos um cheirinho daquilo que pode ser o Sporting de 2018/19.
Para completar o ramalhete de proscritos, falta o principal, que são os jogadores. Salvo o regresso dos rescisores, que para já não passa de uma remota possibilidade, não se pode dizer que este plantel tenha jogadores mal amados pelos adeptos. A sua proscrição nos últimos anos deveu-se exclusivamente à opção técnica do nosso último treinador. Geraldes porque lia Saramago, Matheus, Gauld, Dala, por outros motivos que não passariam certamente pela sua falta de qualidade, irão juntar-se a Wendel que não percebe chinês ou a Lumor, o defesa esquerdo que se conseguiu arranjar. Acredito sinceramente que este conjunto de jogadores, mais as aquisições deste defeso, entrarão na próxima época com ganas para demonstrar que são muito melhores do que o nosso antigo treinador achava. 
Esta época do Sporting, que por estes dias se iniciou, lembra-me aqueles westerns, quando um conjunto de pistoleiros renegados se reúnem para levar a cabo uma missão que, à partida, se afigura impossível para o comum dos mortais. Invariavelmente, nesses filmes, vencem sempre os destemidos pistoleiros, emprestando à narrativa uma moral que passa sempre pela reabilitação dos heróis proscrito.
Será esse também o filme da época 2018/2019 deste Sporting Clube de Proscritos?