quinta-feira, 19 de abril de 2018

Demasiado coração para tão pouca inspiração

Há noites assim.
Tudo parecia encaminhar-se para mais um final de época perdido. Aquela velha máxima de que "jogamos como nunca, perdemos como sempre", vinha à cabeça de cada um dos sportinguistas que no estádio ou em casa ansiavam por um abanão que inclinasse o jogo para o nosso lado. E logo nesta época, onde tudo parecia encaminhar-se para um final feliz, com a Taça da Liga conquistada, a Taça de Portugal ali em frente, o sonho bem real de sermos campeões e aquele bichinho de que, se calhar, este ano vingariamos a derrota europeia de 2005.
Do campeonato já pouco poderiamos esperar além de um merecido segundo lugar. A Liga Europa quedou-se por uma participação satisfatória, traída por erros infantis em Madrid. Faltava a Taça de Portugal, conquistando para já um lugar no Jamor. As coisas não estiveram fáceis, bem pelo contrário. O início empolgado do jogo parecia adivinhar um Sporting esmagador em busca da remontada, mas foi sol de pouca dura. Passados os primeiros dez minutos, os nossos jogadores enrredaram-se na rede tecida pelo meio-campo adversário e teimaram em não sacudir aquele atavismo que por vezes (vezes demais) nos tem prendido esta época. Brian era só um corpo presente, Bruno Fernandes não acertava uma jogada, Bataglia ia tentando empurrar a equipa para a frente mas esbarrava no muro portista. Gelson procurava agitar o jogo, mas com o apoio de um encolhido Picinni pouco mais conseguiu do que fazer cócegas no adversário.
Não sei se é exagero meu, mas creio que o nosso primeiro remate que acertou na baliza foi um chuto fraco de Bataglia(?) perto do minuto 80. Os sportinguistas desesperavam perante a incapacidade da equipa em criar perigo na área portista. Mas eis que, de repente e quando tudo já parecia perdido, na sequência de um canto, Marcano faz um disparate (incrível como uma equipa com este jogador a central pode vir a ser campeã em Portugal!!!!) e Coates (só podia ser ele) envia uma biqueirada para onde estava virado, acertando na baliza. 
O resto do jogo foi uma demonstração de querer, de garra, de um enorme coração de leão. Perante um adversário galvanizado pela conquista da liderança do campeonato e acomodado num jogo que lhe corria de feição, os nossos jogadores nunca desistiram de correr, de tentar, de se esforçar. Não sei se é para chatear Bruno de Carvalho ou se esta é afinal a tão famigerada "ideia de jogo" de JJ, mas o certo é que este leão demonstrou ontem coração, muito coração, demasiado coração para tão pouca inspiração.
Se cumprirmos a nossa obrigação, a Taça de Portugal não fugirá das nossoas mãos. No fim de jogos como o de ontem, por muita alegria que tenha sentido e ainda sinta, não posso contudo de deixar de sentir uma certa amargura. Cinco pontos em quatro jornadas, não são impossíveis de recuperar. Mas como tudo seria hoje mais fácil se tivéssemos tido todo aquele coração de ontem naqueles jogos onde nos faltou inspiração. 

terça-feira, 17 de abril de 2018

Enjoy the silence

Hoje deu-me para plagiar a Tasca do Cherba, pelo que o título do meu post é o nome de uma música que se adapta ao actual estado do Sporting e do futebol português.
Esta semana começou estranhamente silenciosa. É digno de se ver como uma simples mudança de líder do campeonato, altera por completo o alinhamento de telejornais e dos temas em discussão nos canais noticiosos. De um dia para o outro deixou de se falar de futebol. Bruno de Carvalho e a sua sucessão já não justificam "praças públicas" e outros programas de debate. As agressões a jornalistas, após um jogo de futebol, deveu-se ao clima e não à cultura totalitária do clube envolvido. Rui Vitória, que em tempos chegou a ser o Sun Tzu da nossa bola, parece que afinal não passa de um nabo com olhos.
Voltando novamente ao silêncio, começo por aquele que me é mais querido: o silêncio do nosso presidente. A acalmia dos últimos dias serviu para recuperar alguma normalidade no reino do leão, com os jogadores a fazer aquilo que é suposto fazer, jogar à bola e vencer os jogos. De repente, a brigada do reumático como que meteu a viola no saco e desampararam a loja por estes dias. É certo que para isso também contribuíram outros silêncios, como de Rogério Alves ou João Benedito, que ter-se-ão lembrado daquele velho adágio popular, de que "quem com ferros mata, com ferros morre". E vai daí mostraram alguma dignidade em não pontapear o moribundo no chão, ao contrário dos patetas do costume que já ninguém leva a sério, como Severinos, Abrantes e companhias.
E como o silêncio costuma ser bom conselheiro, aposto que muitos sportinguistas terão feito uma profunda introspecção quando viram a primeira parte do jogo de Belém. "Onde é que andava esta equipa quando fomos a Setúbal ou Estoril?", perguntavam muitos. No Restelo, onde perdeu o porto e ia perdendo o benfica, conseguimos virar um mau inicio de jogo e marcámos 3 excelentes golos. Aos poucos, sem Bruno de Carvalho abrir a boca, os adeptos vão pensando em como esta época teria sido diferente se o presidente tivesse apertado com os "meninos mimados" depois do empate de Setúbal. Mas mesmo tarde, pode ser que o puxão de orelhas ainda tenha vindo a tempo. O segundo lugar voltou a ficar á nossa mercê e na quarta-feira, uma exibição ao nível da última quinta poderá abrir-nos as portas do Jamor. Até lá é aproveitar o silêncio e não fazer (nem dizer) mais asneiras.
Sobre o clássico entre o Estado Lampiânico e o Sistema, tenho pouca coisa para dizer. Rui Vitória mostrou mais uma vez que não passa de um treinador mediano. Que sobrevive numa equipa "grande" apenas porque ela é amparada nos momentos complicados. Sem rasgo táctico, com o seu carisma típico de um vegetal, sem aquele élan que ameaça tudo e todos quando não o carregam ao colo. Lembra-me muito Fernando Santos quando treinou o porto nos anos 90, outro treinador mediano que conseguiu ser "penta" sabe lá ele como. No domingo não sobreviveu a mais um jogo paupérrimo por azar. Aquele lance do Zivkovic, no final do jogo, só não deu penalti porque do outro lado estava o Sistema e Artur Soares Dias não é propriamente anti-Sistema. Fosse contra um dos Tondelas do campeonato e aquele lance patético era transformado numa penalidade salvadora, tal como em Setúbal. 
Mas ainda não é tempo para Rui Vitória atirar a toalha ao chão. Ainda faltam quatro jornadas e cheira-me que ainda o vão tentar salvar. Tanto contra o de cima, como contra o de baixo. Quanto a nós, além de estarmos atentos, lembremo-nos também que o silêncio não é eterno. E que passando estas ondas de choque do míssil do Herrera, irão chegar pazadas fresquinhas de carvão para nos tentar distrair do objectivo final.
Por enquanto "enjoy the silence". E que eliminemos o porto!

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Recordar é viver: De João Rocha até aos dias de hoje

Diz-se que o homem é ele e a sua circunstância. Mas para que o imediato não nos tolde o discernimento, também se diz que a vida é uma constante aprendizagem. Daí que tenha sentido a necessidade de escrever este post, pois se há coisa que os meus quase 40 anos de sportinguismo me ensinaram, é que nem sempre aquilo que parece, é.
Sendo este post uma espécie de desfile de memórias minhas, não me vou perder com muitos preciosismos. Vou relatar as coisas tal e qual como me lembro delas, por isso espero que me desculpem se falhar nalgum pormenor.
Por estes dias, anos até, um dos nomes que mais se fala é o de João Rocha. O mítico presidente é uma espécie de "Sá Carneiro" sportinguista, alguém cuja memória é invocada sempre que queremos demonstrar sportinguismo. Roquetistas, croquetes, brunistas, todos choram por João Rocha. Mas ao contrário de Sá Carneiro, que acabou a sua carreira política de forma abrupta e involuntária, João Rocha foi "corrido" de Alvalade. Não conseguiu o apoio necessário para travar uma guerra sem tréguas com a então figura ascendente do futebol português, Pinto da Costa. Agastado com as punhaladas nas costas dos "notáveis" do costume, alegou problemas de saúde e bateu com a porta algures em 1985 ou 86. Há sobretudo duas coisas que todos associamos a João Rocha: ecletismo e património. Não deixa de ser interessante ouvir sportinguistas ligados a direcções que rebentaram literalmente com as modalidades e o nosso património, virem chorar pelo legado de João Rocha.
Quem sucedeu a João Rocha foi Amado de Freitas, indicado pelos "notáveis" do Conselho Leonino, cujo mandato pouco serviu além de antecâmara de Jorge Gonçalves. O "bigodes", que pouco depois fugia para Angola depois de nos deixar com uma dívida brutal. Quem pegou então no barco foi Sousa Cintra, o famoso presidente que quando questionado se gostava de Mark Knopfler (os Dire Straits iam actuar em Alvalade daí a uns dias) disse que era um bom jogador para a nossa equipa. Sousa Cintra era assim, uma figura algo parola, careca, com acentuado sotaque algarvio (o "Figue"), pato-bravo e arrivista social, que fizera fortuna com o comércio de águas engarrafadas. Era tudo o que não estavamos habituados a ver, ou a imaginar, á frente do Sporting. Daí que os seus 5 ou 6 anos de presidência tenham sido sempre de constante bombardeamento dos "notáveis" sportinguistas do costume, além dos nossos rivais. Efectivamente, o Sporting construiu nesses anos boas equipas, com muita juventude a que se juntaram jogadores experientes e treinadores consagrados. Foram dados alguns tiros nos pés, como a demissão de Bobby Robson, a telenovela em torno de Figo ou a compra desastrosa de Paulo Sousa, mas em contrapartida lutavamos pelos campeonatos e estivemos muito perto de ser campeões, em 1994 e 1995. Sousa Cintra acabou também por sair, pressionado pelos "notáveis" e pelos adeptos. Na altura, dizia-se que tínhamos uma dívida insustentável, pelo que urgia arranjar soluções para a pagar.
Entra então em cena José Roquete e o seu famosíssimo projecto para o Sporting. Roquete pode-se gabar de ter conseguido ganhar um campeonato ao fim de 18 anos (2000) e ter dado condições para se conquistar outro (2002, já com Dias da Cunha presidente). Em traços gerais, o projecto Roquete serviu para introduzir no clube uma filosofia economicista e de alta finança onde só havia paixão e amor à camisola. Em troca da "sustentabilidade" das contas do clube, livramo-nos de "desperdícios" como as modalidades de pavilhão, "rentabilizámos" o nosso património e acabámos a hipotecar a nossa competitividade desportiva a troco de uma "aliança" com o porto, onde ficamos com a parte de gatinho. 
Em 2013, os nossos "notáveis", curiosamente muitos do que ainda por estes dias continuam a opinar sobre o Sporting, falavam abertamente da possibilidade do clube fechar portas e abrir-se outro, que começaria a competir na III divisão. Falavam na inevitabilidade da bipolarização do futebol português, cujo mercado era incapaz de sustentar três equipas "grandes". Por fim a "belenização" do Sporting, apontado com destino mais que provável das nossas coisas. Entretanto, em 2018, já ouvi alguns desses "notáveis" dizer que afinal a restruturação da banca, bem como o projecto do pavilhão, já estavam prontos em 2013. E que esta crise ainda é maior do que a desse ano. Oiço isto e penso que se calhar não é só Bruno de Carvalho que deveria estar num manicómio.
Mas não é só sobre João Rocha, Sousa Cintra e os "notáveis" que eu vos queria aqui falar. Gostaria de falar de Paulo Futre, o meu primeiro e último ídolo jogador do Sporting, que saiu de sua casa em direcção à terra cintilante do dinheirinho (e contribuiu para afundar a imagem de João Rocha). Luis Figo, outro dos nossos "meninos de ouro", que saiu em 1995 amuado. Falar de Sá Pinto, grande sportinguista, que não tolerou a falta de respeito de um jogador do Sporting (outro menino querido na altura, Liedson) e saiu corrido de Alvalade. Costinha, que lhe cheirou a "esturro" a "lesão" de Izmailov, mas cuja corda partiu para o lado dele. Augusto Inácio, entalado por Pedro Barbosa. José Peseiro, que viu o seu balneário amotinado ao intervalo de uma final europeia, que estava a ganhar. Pensem nestes episódios todos da vida do nosso clube e tentem lembrar-se de quem foram os maus da fita, quem é que os "notáveis" se apressaram a cruxificar na praça pública.
Por estes dias, estejam atentos a tudo o que se passa à vossa volta. Desconfiem daquele discurso, que agora também virou moda, de que "nestes últimos cinco anos foram feitas coisas boas" mas que tudo não passou de uma deriva face ao "verdadeiro Sporting". Isto é conversa de "croquete bom", que como na história do "polícia bom e polícia mau", apenas nos tenta conquistar a empatia para que depois o "croquete mau" venha fazer o "trabalho sujo". E que trabalho é esse? O mesmo que se fez depois de João Rocha e Sousa Cintra terem saído, que é tornar o Sporting "propriedade" de uma elite social e desportiva, onde o interesse sobre o futebol (exclusivo) acaba quando começa o interesse dessa elite sobre o clube. Um clube onde o "glamour" e o "parecer bem" se sobreponham ao "Esforço, dedicação, devoção e glória". Onde o "Campo Grande Sport Club" se sobrepõe ao Sporting Clube de Portugal.
É a minha convicção que Bruno de Carvalho não sobreviverá a esta crise. Mas estou certo que o espírito de tudo o que representa continuará bem presente. O Sporting eclético, zelador do seu património, inconformado com a derrota, com garra e uma tremenda sede de vitória, socialmente transversal do topo sul à central poente, desalinhado com "esquemas" de polvos e frutas. Está na hora de enterrarmos de vez o "Campo Grande Sport Club". 

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A queda de um anjo

Desde as 20 horas e 05 minutos da passada quinta-feira que eu sinto-me como se estivesse num sonho. Daqueles sonhos onde toda a realidade aparece distorcida, nada faz sentido, tudo está ao contrário. A diferença para outro sonho qualquer é que neste, por mais que queiramos acordar, não conseguimos. Por fim conseguimos ultrapassar a fase da negação e aceitamos a triste realidade, de que nada disto é sonhado. Aconteceu mesmo e continua a acontecer. 
Passadas mais de 80 horas desde que tudo começou, consigo finalmente ter a serenidade suficiente para me sentar em frente ao computador e escrever estas palavras, tentando arranjar a mim próprio e a quem me lê uma explicação que me ajude a entender como foi possível termos chegado a este ponto.
Tudo começou em 2013. Algures durante a nossa pior época futebolística de sempre, alguns sócios decidiram forçar o clube a ir a eleições antecipadas, num último esforço de evitar que o Sporting se afogasse na lama onde se foi enterrando ao longo dos anos anteriores. Como era mais do que esperado, Bruno de Carvalho ganharia o acto eleitoral que se seguiu, não porque os seus oponentes fossem fracos, mas porque estava escrito que a vitória seria sempre sua, fosse contra quem fosse. 
Bruno de Carvalho ainda teve a infelicidade de suportar a humilhação de presidir o clube naquele final de época terrível de 2012/13. Mas teve forças para ultrapassar essa humilhação, até porque não seria a única. Juntou-se a questão do debate público em relação às dívidas do Sporting, bem como a telenovela Bruma. O nosso presidente revelou então uma característica que marcaria a sua função, a sua profunda obstinação para conseguir o melhor negócio possível para o Sporting. Os resultados a curto prazo foram positivos: a dívida foi renegociada em termos favoráveis para o clube, Bruma não saiu a custo zero para nenhum rival e ainda rendeu mais de uma dezena de milhão de euros e a época de 2013/14, apesar da frugalidade com que foi preparada, revelou-se bem melhor que as 3 ou 4 temporadas anteriores. De resto, mesmo com um plantel curto para sermos campeões, tivemos de ser roubados em Setúbal (curioso, não é?) para nos afastarem da luta pelo título dessa época, como havíamos sido também roubados na Luz para nos eliminarem da Taça de Portugal.
Bruno de Carvalho cedo percebeu que tinha de arrepiar caminho se queria ser levado a sério no panorama futebolístico português. As expoliações de 2013/14 (ainda assistiu, no final da época de 2012/13 à "capelada" na Luz) levaram-no a falar grosso para dentro e fora do clube. Veio o discurso das nádegas, que funcionou como uma pedrada no futebol nacional. Notava-se já um desvio na forma como as declarações de BdC se sobressaiam face ao establishment, mas nesse tempo ainda se conseguia olhar mais para o conteúdo do discurso de um presidente que todos elegiavam pela irreverência. 
Depois do verão de 2014 aconteceu muita coisa que muitos pensavam que já não aconteceria ao nosso clube: voltámos á Liga dos Campeões, onde só uma roubalheira nos tirou dos oitavos-de-final, conquistámos uma taça de Portugal e uma supertaça, construímos o nosso pavilhão para as modalidades, batemos records de assistências anuais em Alvalade, de sócios, construímos equipas de futebol competitivas, contratámos o melhor treinador a treinar em Portugal, vendemos jogadores cirurgicamente e sempre por valores que jamais sonharíamos. Enfrentámos o Estado Lampiânico, a comunicação social tendenciosa, os interesses instalados no futebol, os croquetes. E em 2017 demos uma enorme prova de gratidão à pessoa que conseguiu dar tudo isto ao Sporting, reelegendo-o categoricamente para mais um mandato, através do acto eleitoral mais concorrido de sempre no nosso clube.
Entretanto a irreverência comunicacional de Bruno de Carvalho foi perdendo o seu brilho, transformando-se em incómodo e depois em embaraço. Foi a telenovela em torno de Marco Silva, foi o "olhem para cima", o discurso da bardamerda, era a saída anunciada do Facebook que afinal já não era. Os sportinguistas iam perdoando a forma como BdC comunicava porque o conteúdo ainda lhes dizia algo. A forma como perdemos o campeonato de 2015/16 e a roubalheira que sofremos na primeira volta de 2016/17 eram suficientes para manter-nos a nós, os adeptos, mobilizados. Apesar da forma, o conteúdo da mensagem presidencial era perceptível. 
Até que chegamos à presente temporada. Bruno de Carvalho, castigado pelas instâncias federativas, remeteu-se a um longo silêncio que marcou praticamente toda a primeira volta. O clube e a equipa de futebol pareciam ter lidado bem com esse silêncio. Nas modalidades comandávamos todos os campeonatos e no futebol, além da liderança, ainda estávamos presentes em todas as competições. Foi por isso que muitos de nós assistimos incrédulos à história da AG dos estatutos e a todo o reboliço que se seguiu. Pelo meio perdemos no Estoril e comprometemos as nossas aspirações ao título. Bruno de Carvalho exigiu as suas condições para continuar à frente do clube e os sócios deram-nas. Novo discurso de vitória, novo equívoco comunicacional, desta vez contra a imprensa em geral. Era perceptível que o discurso presidencial se degradava cada vez mais, tornando-se mais errático e insensato, até mesmo estapafúrdio.
A forma como Bruno de Carvalho decidiu abrir uma frente de guerra com a larga maioria do plantel principal do Sporting é um misto de desnorte com absurdez. Ocorreu depois de uma derrota patética, é certo, mas numa fase onde ainda temos muito para ganhar. E num momento onde todas as nossas baterias deviam estar apontadas á forma impune como os nossos adversários passeiam-se no campeonato. Gostava sinceramente que tudo isto acabasse com um abraço entre Bruno, os jogadores e os treinadores, debaixo dos aplausos de Alvalade, com a promessa do fim do Facebook presidencial. Mas isto é tão realista como acreditar que é possível a paz em todo o mundo. Primeiro, porque já se percebeu que BdC padece da patologia de utilizador compulsivo do Facebook. Segundo, porque mesmo que exista esse abandono da rede social, já foram ditas coisas entre jogadores e presidente que tornam impossível qualquer retorno ao pré-Atlético de Madrid. E infelizmente, como se constatou ontem, Bruno de Carvalho não percebeu o que lhe grita a maioria dos sportinguistas (sócios e não só), preferindo agravar a rotura com os jogadores em vez de procurar a reconciliação. 
E os jogadores no meio disto tudo, como ficam? Desde que na minha infância vi o meu maior ídolo fugir para um clube rival (Paulo Futre), que adoptei aquela velha máxima de "ídolos zero", que agora muitos trazem na boca. Por muito sportinguistas que sejam, por muitos anos de Sporting que carreguem consigo, vejo os jogadores como profissionais pagos pelo clube para jogar à bola. E como profissionais que são, também anseiam por jogar noutros clubes que lhes paguem o dobro ou o triplo do que recebem hoje. É assim a vida. Não me emociono com juras de amor e murros no peito na hora de festejar golos. Se os jogadores estiveram bem neste episódio, claro que não estiveram. São profissionais, não podem entrar em debate público com a figura máxima da sua entidade patronal. Mas tem a seu favor o facto de terem agido em reacção a uma disparatada tomada de posição pública dessa figura máxima. E sinceramente, numa época onde foi batido o record de jogos disputados, com um treinador adverso à rotação da equipa, creio que os nossos jogadores estarão a jogar no limiar das suas capacidades físicas. E depois do que vimos sábado em Setúbal, facilmente chegamos á conclusão que não é pela falta de entrega dos nossos jogadores que estamos afastados da luta pelo título. Não foi mesmo isto que Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva andaram constantemente a dizer? Ontem via aquela fúria toda do Rui Patrício a mobilizar os seus colegas antes e depois do jogo e gostava de ver essa mesma fúria quando somos roubados ou vemos os nossos rivais a serem levados ao colo. Mas essa falta de fúria não será antes um fracasso de Bruno de Carvalho, que não soube mobilizar os seus jogadores para uma luta maior?
Entretanto Jaime Marta Soares resolveu, e bem, pôr fim a esta patética novela que se arrasta desde quinta-feira e vai convocar uma AG extraordinária que, no limite, provocará a destituição de Bruno de Carvalho (isto se ele não se demitir antes, o que eu não acredito). Não acredito que Bruno de Carvalho se recandidate, mas mesmo que o faça acho que é tão inevitável perder essas eleições como era inevitável te-las ganho em 2013. Espero e desejo apenas que as partes saibam honrar-se a si mesmas e sobretudo saibam honrar o Sporting Clube de Portugal. Bruno de Carvalho, porque queria recordá-lo como o homem que retirou o Sporting da lama e que por isso merecerá toda a minha consideração e admiração enquanto sportinguista. Os jogadores, porque ainda tem muito para ganhar até final da época (Atlético de Madrid, porto, 2.º lugar e, quiçá, até o 1.º).
Quanto aos sportinguistas, muito do que leio parece que nos empurra para uma escolha entre Bruno de Carvalho e o regresso dos croquetes. Não acredito que assim seja. Hoje os sportinguistas estão muito mais atentos e informados, pelo que não acredito que voltem a ser seduzidos pelo palavreado sonso dos croquetes desta vida. Temos blogues como o Artista do Dia ou o Mister do Café, paineleiros em diversos programas televisivos, até mesmo colunas de opinião nos jornais, que estarão prontos para desmascar a conversa fiada e bafienta da croquetada. Depois porque acredito que se consiga gerar consenso entre os brunistas para apoio de uma figura que consiga representar e continuar tudo o que de bom Bruno de Carvalho fez pelo nosso clube, mas sem cair nos seus erros.
Sporting Clube de Portugal, sempre!!!

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Não basta sermos bons ou sermos melhores. Temos de ser perfeitos.

O clima que se montou antes da nossa deslocação a Braga deixava adivinhar um jogo muito complicado para nós, onde só sairiamos vencedores se conseguissemos atingir o nosso melhor nível desta época. Apesar do inicio de jogo prometedor, cedo revelámos não ter arcaboiço para aguentar um benfica C mais moralizado e muito determinado em nos vencer. Deixámo-nos enredar nas vicissitudes do jogo, prejudicados por (mais um) equívoco de JJ ao montar a equipa. No final, quando tentávamos sacudir a pressão bracarense e começávamos a tentar jogar junto da área adversária, uma expulsão de Picinni dissipou qualquer tentativa de vencermos o jogo. O golo do benfica C era inevitável, tendo aparecido numa falha de marcação que permitiu, numa bola parada, deixarmos um jogador sozinho em frente à baliza e em jogo.
O resultado de Braga enterra-nos as possibilidades (ainda) realistas de podermos ser campeões, remetendo-a a uma mera hipótese matemática. Deixa-nos igualmente em situação muito difícil para atingir o segundo lugar, pois já não dependemos só de nós. E põe o benfica C a morder-nos os calcanhares, deixando-os com moral para tentarem uma ultrapassagem. A derrota do porto atenuou o desastre de Braga, mas não evita esta terrível constatação de que este campeonato, para nós, já era.
Num ano onde se foi conhecendo a teia que o Estado Lampiânico teceu em todo o futebol português, não deixaria de ser irónico, cómico até, que o benfica conseguisse ser campeão. É como se voltássemos aos anos 90 e à primeira década desta século, quando perante as tentativas de desmascarar as engrenagens do Sistema, o porto respondia também com vitórias internas fulgorantes, incluíndo um penta-campeonato. E da mesma forma que o penta-campeonato dos andrades nos soou a trapaça e marosca, também nos soa este quase-penta dos lampiões.
Há nestes últimos campeonatos uma "curiosidade" que não deixa de ser estranha. Muito provavelmente, este será o quarto campeonato seguido onde o campeão somará mais de 80 pontos. Em termos de percetagem, para compararmos com os campeonatos anteriores a 2014 onde só se disputavam 30 jogos (90 pontos), significa mais de 80% dos pontos em disputa. Desde 2010 que o campeão português consegue somar mais do que 80% da pontuação. Admito que em campeonatos disputados em 30 jogos, seja mais fácil obter uma maior rácio de vitórias, pois as equipas campeãs não sofrem tanto desgaste como com 34 jogos. Para termos uma ideia, entre 1999/2000 (ano em que quebramos o jejum) e 2005/2006 (último ano com 34 jogos, até 2014), apenas em duas épocas um campeão conseguiu somar mais de 80% dos pontos: precisamente o porto de Mourinho. A essa boa performance interna, corresponderam iguais prestações europeias, com a conquista da taça UEFA e a Liga dos Campeões. Ora, desde 2014 que às excelentes performances internas, o campeão não consegue juntar igual performance externa. O benfica conseguiu atingir os quartos-de-final em 2016, mas foi uma excepção. Em 2018 pode-se dar o fenómeno dos quatro primeiros classificados ultrapassarem a meta dos 80 pontos. Tirando o Sporting, que até agora conseguiu atingir os quartos-de-final da Liga Europa, os restantes três clubes quedaram-se com participações paupérrimas nas competições europeias. E esta tem sido a regra nos últimos anos.
Ontem li num jornal que Bruno Varela poderá ser o melhor guarda-redes da Liga 2017/18. Arrisca-se a juntar-se a um lote de jogadores como Eliseu, André Almeida, Samaris, Pizzi, Jardel, Lisandro Lopez, Sílvio, Renato Sanches, etc. Tudo jogadores de "qualidade" que tiveram participação assídua nos últimos campeonatos conquistados com oitenta e tal porcento de pontos, mas que depois, por exemplo, não tem lugar na selecção nacional dos seus países.
Voltando à nossa derrota de Braga, por muito que nos tenha custado, temos de admitir que não é fora do normal perder pontos no terreno do quarto classificado. Como também não é fora do normal tropeçar em casa de um dos últimos classificados. Há dias maus, jogos que correm mal e equipas más a quem naquele dia tudo corre bem. Só uma super-equipa consegue superar isso. Em 2010/11, o porto de Vilas-Boas venceu 27 dos 30 jogos do campeonato. E venceu a Liga Europa. O estranho é ter sempre dias bons e o adversário dias maus. Ou o árbitro ou o VAR terem sempre dias bons para aquela equipa. Não é normal é ganhar ao quarto classificado 9 das últimas 10 partidas. Ou acabar campeonatos com quatro derrotas e só um empate.
O Sporting teve esta época perdas de pontos inadmissíveis, só contra os últimos classificados foram 7 pontos. Há dois anos perdemos em casa do União da Madeira, que viria a descer de divisão. É bom que o sportinguistas estejam mais exigentes com a sua equipa, mas neste momento já estamos a exigir mais de 83, 84 ou 85 pontos por época à nossa equipa. Como se num campeonato português, com 34 jogos, fosse normal ganhar 27 ou 28 partidas, fora as restantes competições. E veremos se chega, pois tenho para mim que, qualquer dia, o campeão atingirá os 90 pontos com facilidade. Esta é a dura realidade do nosso clube. Não basta sermos bons ou sermos melhores. Temos de ser perfeitos.