quarta-feira, 27 de junho de 2018

Frederico Varandas

Ontem, no Twitter, tive a oportunidade de trocar algumas ideias com outros sportinguistas sobre a candidatura de Francisco Varandas, a primeira e até agora única candidatura para as eleições presidenciais de 08SET. Este meu post é apenas um resumo daquilo que hoje penso sobre a candidatura, ao mesmo tempo que tento desmistificar algumas coisas que foram sendo ditas sobre o antigo médico do Sporting.
Em primeiro lugar, devo dizer que o candidato em si não me entusiasma particularmente. Não possuiu a capacidade oratória do nosso antigo presidente, que era capaz de discursar ao longo de duas horas e deixar a audiência em êxtase. Sendo a presidência de um clube um cargo onde o carisma é uma das principais armas para mobilizar sócios e adeptos, creio que Varandas fica longe desse desígnio. Não deixa de ser curioso que uma das críticas mais recorrentes a Bruno de Carvalho era precisamente a "forma" da sua comunicação. O discurso carismático era frequentemente entendido como demagógico, além da recorrente acusação de que fomentava o "ódio" contra os rivais. Eu aqui acrescentaria que o que verdadeiramente incomodava era o facto desse tal discurso carismático vir do presidente de um clube cuja história recente desconhecia esse tipo de atributos. Se há aspecto que os presidentes do "roquetismo" tem em comum é que o seu carisma era o mesmo de uma couve. E se o Sporting hoje conseguiu recuperar muito do seu estatuto (financeiro, nas modalidades, até mesmo no futebol profissional onde se fez muito melhor do que nos anos anteriores), tal deveu-se ao carisma de Bruno de Carvalho, que conseguiu mobilizar os sportinguistas para as grandes realizações do seu mandato. Poderá o Sporting, num momento onde se instalou uma crise, conseguir recuperar o seu estatuto sem um presidente carismático?
Em segundo lugar, não posso deixar de demonstrar bastante tristeza com a forma como esta candidatura foi imediatamente lançada para a fogueira. Enquanto chefe do departamento médico do futebol profissional do Sporting, Frederico Varandas sempre se pautou por uma postura de grande profissionalismo e jamais permitiu que outros interesses se superiorizassem ao interesse do Sporting. Deixámos de contratar jogadores em estado físico duvidoso, como Jeffrén. Pelo contrário, houve coragem para reprovar nos exames médicos Boateng ou Sandro, por exemplo. E mesmo aqueles que mais reservas apresentavam no plano físico, como Fábio Coentrão, viram a sua carreira regenerada no Sporting, graças ao seu departamento médico. Resumir a sua passagem pelo departamento médico do Sporting a uma cunha metida pelo irmão, parece-me redutor e pernicioso. Dizer que Varandas é uma cópia de Pedro Madeira Rodrigues... é intelectualmente desonesto.
Em terceiro lugar, os seus apoiantes. E foi aqui, confesso, que fiquei mais surpreendido. Não esperava ver uma quantidade tão grande de antigos apoiantes de Bruno de Carvalho em torno desta candidatura, pelo menos enquanto não surgissem outras. Figuras como Daniel Oliveira, Pedro Boucherie Mendes, Manuel Moura dos Santos, Daniel Sampaio ou Eduardo Barroso. Por outro lado, não vi ali nenhum nome conotado com o croquetismo (está lá o Luís Paixão Martins, mas já vamos). Acho sintomático que alguns dos mais mediáticos apoiantes de BdC tenham aderido ao Varandas. 
Dos apoiantes de Varandas passo para o seu próprio discurso de apresentação, que considerei positivo. Pese embora as questões da "forma" que já abordei anteriormente, creio que o conteúdo merece a nossa atenção. Valorizou o legado de Bruno de Carvalho, do pavilhão, das modalidades e suas conquistas, da importância do clube manter a maioria na SAD, deixou uma mensagem de união aos adeptos. Sobre as rescisões preferiu ser comedido, o que foi logo entendido como uma predisposição para ceder aos jogadores. Veremos como as suas ideias evoluem ao longo da campanha eleitoral.
Por fim, a sua equipa propriamente dita. Do homem da parte financeira, Salgado Zenha, apenas reconheço a familiaridade com o falecido político. Não faço a mínima ideia se é competente, para que banco trabalha, qual a sua opinião sobre a reestruturação da SAD. Sobre o seu gabinete de marketing e comunicação, tenho algumas reservas. Não gostei da forma intelectualmente desonesta com que Luís Paixão Martins abordou os últimos dias da crise no Sporting. A preferência clubística de alguns membros da sua equipa não é problemática, na estrita medida de que tal não interfira no seu profissionalismo. É o mesmo que dizermos que alguém não serve para treinador do Sporting se tiver outra preferência clubística.
No que toca às eleições de 08 de Setembro, aguardo com expectativa o aparecimento de mais candidaturas, além das intervenções públicas que os candidatos levarão a cabo nos próximos meses. Varandas por enquanto não me entusiasma, mas acredito que possa evoluir nos próximos tempos.

domingo, 24 de junho de 2018

Dias de Sporting

Ultimamente, falar sobre o Sporting revela-se um exercício digno de uma pintura de Miró. Olhamos para um amontoado de formas e cores e quando pensamos que já desvendamos o seu significado, eis que de repente algo se revela e voltamos novamente ao inicio do nosso exercício.
Primeiro era a AG que não se sabia quando (nem qual delas) se ia realizar, depois qual seria a pergunta, a seguir era saber se o Bruno lá ia ou não, depois era o discurso do Bruno, a destituição do Bruno, o Bruno que deixava de ser sportinguista, o Bruno, o Bruno... Pelo meio, a comissão de gestão nomeou Sousa Cintra presidente da SAD e temos o título de futsal para conquistar. Ah, e a nossa pré-época arrancou.
Tanta coisa tem surgido nas últimas horas que nem sei se no final desta prosa não teremos mais alguma novidade. Quando a comecei, Bruno de Carvalho tinha "deixado de ser" sportinguista. Agora parece que até candidato às novas eleições já é. Bom, como não quero voltar a ser surpreendido por nenhuma notícia de última hora, vou tentar resumir as últimas horas ASAP.

AG de dia 23 de Junho

Queríamos que os sócios falassem e os sócios falaram. Setenta e tal porcento de votos a pedir a destituição é muito voto. Estive no pavilhão, ouvi as gritarias e espreitei um ou outro boletim de voto. Tinha o feeling de que a destituição venceria, mas apontei sempre para uma diferença de votos inferior a 10%. Confesso que os números finais surpreenderam-me, mas não mais do que isso. Uma coisa é aldrabar uma votação onde a vitória é conquistada com escassas dezenas de votos. Trinta e tal mil votos (mais de quatro mil sócios) é demasiado para pensarmos, sequer, que houve marosca. O Sporting não é a Venezuela. O argumento do "barulho" é falacioso, pois quem já teve em reuniões deste género, como plenários ou até reuniões de condomínio, sabe perfeitamente que por detrás de quem faz barulho, há uma imensa maioria silenciosa que prefere manifestar-se pelo voto, pela deliberação. Ontem foi mais um dia assim.
Perante a resposta inequívoca dos sócios, Bruno de Carvalho retirou-se de cena (não por muito tempo). A comissão de gestão encheu-se de moral e tratou logo de ir ao principal: tomar conta da SAD. 

Sousa Cintra: As voltas que a história dá

Sobre a comissão de gestão, mais concretamente sobre a pessoa que escolheram para presidir a SAD do Sporting, confesso que o nome deixou-me com tanto de espanto como de entusiasmo. Acredito que para quem nasceu depois dos anos 90 do século passado, Sousa Cintra não passe de mais uma personagem a cheirar a fritos que agora surge em frente às câmaras. Para quem tem mais de 35 anos e não deixou de tomar Memofante nos últimos dias, Sousa Cintra é o sportinguista que, enquanto presidente do clube, mais se aproximou de Bruno de Carvalho na nossa história recente.
Sousa Cintra chegou a presidente após uma época conturbada por graves problemas financeiros do clube, tinha um discurso muito crítico sobre a arbitragem, instituiu uma política de apoio das modalidades (aqui a situação não era tão grave pois as modalidades não tinham sido extintas), procurou promover jovens jogadores nas suas equipas principais, sempre muito competitivas, entrou em guerra com o benfica, desentendeu-se com vários treinadores e teve a feroz oposição da "elite". Era gozado pelos adeptos rivais devido à sua forma genuína de comunicar. Alguém reconhece aqui um padrão? Quis a história, que como dizia aquele nosso avozinho "dá muitas voltas", que Sousa Cintra, depois de ter sido "convidado" a sair do clube em 1995, agora regressasse pela mão e aprovação (não do apoio, creio) dos mesmos que o convidaram a sair.  
Sousa Cintra foi uma espécie de Bruno de Carvalho num tempo sem redes sociais, TV por cabo ou jornais desportivos diários. Se há alguém naquela comissão em quem confio que defenderá intransigentemente os superiores interesses do Sporting, é Sousa Cintra. É uma ironia do destino, mas lembrando-me da forma como ele foi corrido da presidência, a sua chegada a presidente da SAD (uma criação daqueles que o depuseram) é um daqueles casos onde podemos dizer que, por vezes, a história escreve-se direita por linhas tortas.

Bruno de Carvalho: E agora?

Como não poderia deixar de ser, que melhor reacção do presidente adepto ao resultado da AG do que uma reacção... como adepto? Bruno de Carvalho reagiu como nós reagimos quando empatamos ou perdemos um jogo em cima da hora. Azia, vontade em desligar do futebol, queimar o cachecol e o cartão de sócio, insultar todos à nossa volta. É assim à segunda-feira, mas à terça-feira já andamos a perguntar pelo dia do próximo jogo do Sporting. É assim a vida de adepto e é assim Bruno de Carvalho, o presidente adepto.
O anúncio de que vai a eleições a 08 de Setembro é, para mim, uma excelente notícia. E por vários motivos. Primeiro, obriga a comissão de gestão, cujos membros certamente não quererão proporcionar o regresso de BdC à presidência do clube, a fazer tudo, MAS TUDO MESMO, para que os nosso interesses sejam acerrimamente defendidos. E até dia 08 de Setembro há muita coisa para ser defendida. Desde logo a postura a tomar face às rescisões. Livrem-se de "acordos" com rivais, por exemplo. Segundo, vai obrigar a que a corrente moderada, dita de terceira via, onde pululam antigos apoiantes de BdC que não se revêem no croquetismo, como Daniel Oliveira, José de Pina, Eduardo Barroso, Daniel Sampaio, etc., a avançar com uma candidatura própria e forte. É que ontem já comecei a ouvir aquele discurso tipicamente sportinguense (ou sportinguista de antigamente) a reclamar o aparecimento de uma candidatura (única, claro) "abrangente" e de "consenso", que mais não é do que voltarmos aos tempos dos presidentes cooptados pela elite do costume. 
É preciso que não se enganem pelos resultados de ontem. O que se votou ontem, mais até do que a destituição, foi a marcação de eleições, não do regresso ao "pré-Bruno". Se há coisa que estes últimos cinco anos revelaram, é que os sportinguistas são hoje uma massa associativa muito interventiva, atenta à vida do seu clube, com bastante massa crítica e com grande actividade. Qualquer tentativa de voltar a algo que cheire a "antigamente" merecerá dos sócios uma reacção peremptória. Nem que isso implique a voltar a por Bruno de Carvalho na presidência do clube.

E os próximos dias, como serão?

Por tudo aquilo que disse atrás, creio que poderemos ter algum optimismo nos tempos que se aproximam. Entretanto a bola começará a rolar e salvo alguma mudança brusca de orientações, o nosso plantel que vai iniciar a época será um plantel jovem, com muitos miúdos da casa, certamente ambicioso, que lembra muito aquela época de reset de Leonardo Jardim.
Uma coisa é certa, o Sporting não acabou antes de Bruno de Carvalho e não irá acabar depois dele. 
Viva o Sporting!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Os sócios, a oposição e o "salto para o desconhecido"

Indissociável à decisão de voto contra ou a favor da destituição de Bruno de Carvalho, há outra questão que logo se levanta: caindo o actual CD, quem deverá sucede-lo?
Redundantemente podemos responder que é possível BdC ser destituído e ganhar as eleições seguintes. Creio que tal cenário muito dificilmente se irá pôr, pois não acredito que os sócios que votarem a 23 pela destituição venham depois a votar numa lista encabeçada pelo actual presidente. Pode até fazer sentido em algumas cabeças esse cenário, que seria uma espécie de "cartão amarelo" a Bruno de Carvalho. Mas seria algo estúpido que só iria fazer incorrer o clube numa despesa desnecessária, sem falar no tempo desportivo que se iria perder pelo meio, pelo que acredito que tal coisa só passe pela cabeça de um número ínfimo de sócios. Por outro lado, tenho sérias dúvidas que Bruno de Carvalho consiga concorrer a umas hipotéticas eleições antecipadas. Isto porque me parece claro que o CFeD transitório tem claras indicações para "infernizar" a vida ao actual presidente, para o afastar dos destinos do clube. Bastou ouvir Artur Torres Pereira para se perceber que a comissão de gestão é tudo menos isenta em relação a Bruno de Carvalho, em linha com o que Henrique Monteiro e Rita Garcia Pereira já disseram sobre o nosso actual (e suspenso) presidente.
Assim sendo, creio que para a grande maioria dos sócios que votarão pela destituição de Bruno de Carvalho, tal apenas fará sentido se posteriormente tiverem a oportunidade de escolher um novo presidente por via eleitoral. A grande questão que lhes estará de momento a pesar na cabeça é precisamente essa: a quem irão abrir a porta do clube no próximo dia 23, caso votem pela destituição? Nas AGs de Fevereiro e Março os sócios fizeram um raciocínio semelhante. Apesar de muitos não se reverem no timing ou no teor das alterações estatutárias pedias, acabaram por ceder a uma espécie de chantagem que o presidente fez, quando deparados com o "Bruno ou o caos". Aí as coisas precipitaram-se muito rapidamente e acredito que a oposição não tivesse tido tempo para se organizar. Já nesta crise directiva, se há coisa que a oposição não se poderá queixar é de falta de tempo. Desde 5 de Abril que a "crise" se tem estado a arrastar, apesar da precipitação de há um mês após o ataque a Alcochete.
E a 5 dias da AG decisiva de destituição, que oposição temos nós? Para já, muita parra e pouca uva. Tirando Francisco Varandas, que se assumiu logo com alternativa a Bruno de Carvalho, temos apenas muitas declarações de "notáveis", quase todas de circunstância, expressando vontade em participar numa alternativa a BdC mas sem as liderar. Ou como Rogério Alves, preferem jogar com as palavras e tentam esconder o jogo até - presumo eu - sair a decisão da AG destituitiva. Outros nomes que amiúde surgem também como possíveis candidatos da oposição, como Couceiro ou Benedito, estão neste momento remetidos a um silêncio que não parece indicar que se estejam a posicionar, para já, como possíveis candidatos. 
Se excluirmos Francisco Varandas, cujo anúncio de "disponibilidade" para se assumir como candidato se revelou precipitado e pouco preparado, a verdade é que neste momento apenas temos nuvens no nosso horizonte pós-Bruno de Carvalho. Rogério Alves agrada a alguns sportinguistas, mas parece-me evidente quem é que o apoiará numa putativa candidatura a presidente. E quanto a Couceiro, Benedito, até mesmo Varandas, ou outros que se venham a assumir, é uma incógnita que "Sporting" procurarão defender: se o regresso ao passado pré-Bruno, se a continuação das melhores políticas do actual CD, incluindo a reestruturação da SAD ou algo mais que agora não vislumbro.
Por fim, outro cenário que pode ocorrer dia 23 é o de "logo se vê, desde que se corra com o Bruno". Aqui, a única nuance, é saber se os sócios do Sporting atingiram já o tal estado de saturação com Bruno de Carvalho que, basicamente, se estejam já nas tintas para o que vier depois, desde que seja diferente. Sendo que aqui muito dificilmente terão nas eleições uma hipótese de assistirem a um contraditório entre BdC e a oposição, pois como já o disse, não acredito que permitam que BdC possa concorrer à reeleição. 
Como facilmente se percebe, até dia 23 pode acontecer muita coisa com implicações directas no resultado da AG de destituição. A oposição tem de correr atrás do tempo, mas parece-me que é quem tem mais a ganhar nos próximos dias, se apresentar uma boa alternativa a BdC. Não aparecendo essa tal "alternativa", resta saber até que ponto os sportinguistas estão fartos e dispostos a saltar para o desconhecido pós-Bruno.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Punhadela nas costas

Ontem os sportinguistas sofreram uma punhadela nas costas.
Todos nós que defendemos a atitude irrefelectida de Gelson quando por amizade com Rúben Semedo se auto-excluiu do clássico do Dragão. Quem cantava a música dos AC/DC cada vez que Bas Dost marcava um golo. Quem defendia "sir" William cada vez que rabolhos e andrades vinham com a conversa de que "Ah e tal, William a tartaruga" ou "o Danilo é melhor". Quem viu num jovem desconhecido acabado de chegar de Itália talento suficiente para ser nosso titular, enquanto comentadores e jornaleiros desportivos criticavam o valor excessivo pago por um jogador da Sampdória. Juntemos a história de um "frangueiro" sempre acarinhado em Alvalade e de um rapaz que jogava com as nossas cores desde os seus 10 anos. 
Soco no estômago, punhadela nas costas, tiro na cabeça... chamem-lhe de tudo. Certo é que ontem foi mais uma de muitas noites perdidas de sono, tal o sobressalto que o Sporting me prega nestes últimos tempos. Longe vão os tempos em que tal acontecia por um mau resultado, como o empate em Setúbal. Hoje acontece porque já não reconheço o meu clube. Não reconheço quem o dirige e quem o representa no relvado. Não reconheço porque não tiveram à altura da importância das decisões a ser tomadas. E porque cagaram de alto naquela que deveria ser a sua maior prioridade: os sportinguistas.
Romanticamente, apetecia-me mandar tudo para a valente p*ta que os pariu. O presidente, que insiste no seu exercício suicida de autismo e negação da realidade, sem a mínima capacidade de fazer uma simples gestão de danos. A direcção que o acompanha, que permite com o seu silêncio o caos onde o presidente se afunda. Os jogadores, que ainda há semanas diziam "ser Sporting" e davam voltas olímpicas ao estádio, que fogem do barco sem dizer um adeus a quem ontem lhes batia palmas. Mas a realidade não é assim. Há uma dinâmica de compromisso entre adeptos e clube que entretanto se esfumaçou. Há uma equipa que, com mais ou menos rescisões, precisa de alguém minimamente competente que a treine, sabendo que neste momento é mais fácil viver na Terra de Ninguém entre as Coreias do que treinar em Alvalade. E depois há um presidente e uma direcção que desperdiçaram nos últimos dias todo um capital de confiança acumulado desde 2013. Um presidente cuja única forma de "negociar" é pedir o tudo ou nada, nem que tal implique afundar um clube na incerta esperança que o consiga reerguer "à sua imagem". Mesmo o próprio universo de sportinguistas está hoje profundamente dividido e extremado no caminho que temos de percorrer. Leio com espanto e consternação os comentários que muitos publicam, onde se prontificam para seguir com o seu líder em toda a velocidade em direcção à parede. Muitos nem se coíbem de dizer que preferem o Sporting nas distritais a ter de jogar com "mercenários" no seu plantel. Não foi para fugir às distritais, para onde seriamos remetidos em caso de falência da SAD, que em 2013 votámos todos em Bruno de Carvalho?
Se quem ainda está no Sporting tem um mínimo de amor ao clube, por favor façam uma coisa simples como esta: devolvam a palavra aos sócios do Sporting. Sem rodriguinhos, segundas intenções ou outro tipo de subterfúgios sonsos. Deixem-nos a nós, sócios do Sporting, decidir. 
Devolvam o Sporting aos sócios.

sábado, 9 de junho de 2018

Sobre a providência cautelar

Depois de ter lido tanto tweet, post, comentário ou insulto sobre a providência cautelar de ontem, decidi pegar nela e lê-la com os meus próprios olhos. Não sou nenhum especialista em Direito (longe disso) mas sei ler e compreender textos em língua portuguesa. E basta isto para perceber o que o juíz quis dizer no seu despacho.

O que pede a providência cautelar

Ao contrário do muito que li por aí, esta providência cautelar não servia para pedir o reconhecimento de Jaime Marta Soares como (ainda) presidente da MAG ou para decidir se a AG de 23 de Junho deveria ou não realizar-se. O que JMS veio pedir ao tribunal foi só e apenas condições humanas, materiais, financeiras e de segurança para a realização da AG, as quais deveriam ser asseguradas pelo Conselho Directivo do Sporting, que estaria a boicotar a sua realização. 

Sobre a Assembleia Geral de 23 de Junho

Basicamente o Dr. Juíz reconheceu o requerente da providência cautelar, Jaime Marta Soares, bem como o órgão que este preside, como competente para convocar a dita AG, além de reconhecer a sua existência. É certo que não era sobre isto que a providência cautelar iria decidir, mas a premissa para a decisão final está lá. JMS "é" o presidente da MAG, esta MAG "é" competente para convocar a AG e a AG de 23 de Junho "é" legítima para o fim a que se destina.  
Já a decisão da providência cautelar, que, repito, não incidia sobre a legitimidade da MAG e AG convocada mas sim sobre a obrigação do CD facultar os meios necessários à MAG para a sua realização, foi no sentido de indeferir liminarmente o pedido de JMS. Tal foi justificado pelo juíz porque a) esta não é a forma de acautelar que a AG não se transforme num risco para a integridade física dos seus participantes e b) o que pede JMS não é mais do que o cumprimento das formalidades necessárias para a sua integral realização. A primeira justificação é um "lavar de mãos" do tribunal que chuta a questão da segurança da AG para o foro da manutenção da ordem pública. Já a segunda, que para mim é a mais interessante, o tribunal entende que sendo a AG legitima, o CD só tem de proceder como é da sua obrigação. 
Ora, como o requerido (o CD) não foi ouvido nesta decisão, objectivamente o tribunal não sabe, porque também não pode fazer futurologia, qual será a posição do CD na preparação e realização da AG. Quem lê os jornais e vê televisão obviamente que já constatou que o CD não irá dar nenhuma condição à MAG para realizar a AG de 23 de Junho. Mas aqui a Justiça limitou-se a ser "cega", e por muito absurda que possa ter sido a decisão do Juíz, ela foi a mais isenta possível.
Contudo, chamo a atenção de um aspecto importante que ainda não foi lembrado por nenhum sportinguista. O juiz, quando indefere a PC, descrimina ponto a ponto o requerido por JMS. Contudo ele não refere a alínea g) no indeferimento. Nesta alínea g), o requerente pede que o «REQUERIDO seja expressamente advertido de que incorre na pena do crime de desobediência qualificada todo aquele que infrinja a providência cautelar decretada, sem prejuízo das medidas adequadas à sua execução coerciva.». Ao não incluir esta alínea na sua decisão de indeferimento, o Juíz estaria a dar uma indirecta ao Conselho Directivo do Sporting?

O que vai mesmo acontecer a 23 de Junho

Apesar de não estar em causa a legitimidade da AG de 23 de Junho, esta na prática não irá ter meios para se realizar. Não acredito que a posição do CD se altere, pelo que a MAG não terá forma de assegurar coisas básicas como a lista de sócios actualmente com capacidade de voto numa AG. Sem essa "burocracia", a MAG não terá forma de conduzir os trabalhos, pelo que a AG terá de ser cancelada e adiada. 
Aqui, perante a recusa do CD cooperar, e atendendo ao alegado por JMS na alínea g) da providência cautelar, haverá matéria para outras instâncias judiciais actuarem. 
De qualquer forma, a crise directiva do Sporting está para durar. Veremos o que nos trazem os próximos episódios desta telenovela.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Desejos para os próximos dias

Já perdi a conta ao número de vezes que tentei fazer aqui futurologia, usando de raciocínio lógico e daquele velho optimismo que acha que "pior não pode ficar". Já dei por várias vezes o nosso actual presidente como demissionário, a crise como acabada e o clube novamente unido. Mas o Sporting tem essa velha peculariedade, de nos conseguir sempre surpreender mesmo quando achamos que já vimos de tudo no nosso clube.
Não sou jurista, mas apesar de saber ler português não vou arriscar dar aqui a minha opinião sobre o que dizem os estatutos. Basta uma volta pelas redes sociais para descobrirmos como é fácil criarem-se tremendas discussões em torno de questões tão simples como a legitimidade da Comissão Transitória da MAG. E como já estou farto de discussões inúteis que mais não servem do que justificar insultos a quem pensa diferente de nós, além de contribuir para o arrastar o nosso clube pela lama, recuso-me a entrar aqui por esse caminho.
Como em tempos escrevi por aqui, os tempos reclamam por serenidade e observação atenta ao que se vai passando em nosso redor. Por exemplo, fiquei feliz por saber que as autoridades deste país finalmente começaram a pegar nas pontas soltas do título conquistado pelo Estado Lampiânico em 2016. O jogo da Madeira foi vergonhoso, mas não foi o único. Esperem pelo jogo de Belém, por exemplo. Poderá Bruno de Carvalho arriscar-se a ser o presidente do Sporting que ganhou postumamente campeonatos? A ser comprovada a marosca lampiã, creio que será da mais elementar justiça. Mas se há algo neste país onde não podemos meter as mãos pelo fogo, é precisamente pela justiça. O "apito dourado" que o diga.
Voltando novamente ao Sporting, e sendo impossível vaticinar o que se irá passar nos próximos dias, não me resta outra alternativa senão cruzar os dedos e desejar com muita força que a actual crise directiva não faça mais mossa do que aquela que já fez. Por isso, na qualidade de sócio deste clube há mais de 30 anos, peço humildemente:
1) Que a AG de 23 de Junho decorra da forma mais ordeira possível, para que a decisão de destituir ou não o CD seja tomada de forma serena, consciente, democrática e livre de pressões;
2) Que o CD reconheça a legitimidade da AG convocada para dia 23 de junho, bem como o seu (único?) ponto de ordem. E que Bruno de Carvalho não tenha medo de (mais uma vez) se pôr nas mãos dos associados do Sporting Clube de Portugal;
3) Para que não aconteça o mesmo que aconteceu na AG de Março, onde um dos principais argumentos a favor do CD era "ou o Bruno ou a croquetada", que surja uma alternativa coerente, conciliadora, dinâmica e capaz de a) não negar o estado caótico do clube e da SAD em 2013, b) reconhecer o mérito das direcções de Bruno de Carvalho na reconstrução financeira do clube, c) manter intacta a capacidade agregadora dos adeptos em torno do clube, manifestado no aumento recente da média de assistências em Alvalade, bem como do número de sócios, d) seja distante das direcções anteriores a 2013, bem como de outras personalidades que pairava em torno dessas mesmas direcções, e) leve por diante a reestruturação da SAD já alinhavada pelo actual CD, nomeadamente o aumento da participação do clube na SAD;
4) Que os sportinguistas não rotulem todos aqueles que actualmente criticam Bruno de Carvalho com o genérico "croquete" ou "croquetada". Peço desculpa, mas este blogue não é o Camarote Leonino ou o Dia de Clube, como o Daniel Oliveira não é o Pedro Madeira Rodrigues, o Sousa Cintra não é o Soares Franco, o Dias Ferreira não é o João Pedro Rodrigues ou o Eduardo Barroso também não é como o Abrantes Mendes. Uma das razões pela qual ainda não surgiu uma alternativa a Bruno de Carvalho fora da redoma "Ricciardi & Rogério Alves" deve-se precisamente a isso, a meterem no mesmo saco coisas que são muito diferentes;
5) Por fim, um desejo que o dia 23 de Junho não seja o fim mas sim o inicio de uma nova página deste centenário clube, com ou sem Bruno de Carvalho. É que nesse dia faltará pouco mais de um mês para começar a nova época e eu, todos nós, queremos muito que esta decorra da melhor forma possível.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Capitulação

Estava à espera que as notícias dos últimos dias relacionadas com o benfica desviassem definitivamente o foco mediático do nosso clube para outras paragens. Não que a nossa situação não continuasse a ser desesperante, mas sim porque outros escândalos mais gravosos mereceriam melhores atenções. Mas como tem sido costume, quando pensávamos que íamos assistir de "cadeirinha" a mais um escândalo criminal do nosso rival, eis que nova bomba cai em Alvalade. E que bomba!
O que ainda dava alguma margem de manobra a Bruno de Carvalho para conseguir aguentar o barco até, pelo menos, o inicio da próxima época, era precisamente a expectativa desta ser iniciada com a maior tranquilidade possível (ou melhor dizendo, com a menor intranquilidade possível). Comprava-se quem se tinha de comprar e vendia-se quem se tinha de vender. O treinador, fosse ele quem fosse, deveria começar os primeiros jogos oficiais apenas com quem quisesse verdadeiramente continuar a vestir as nossas cores. E a questão directiva arrumar-se-ia logo que possível. Os tempos previam-se agitados, pelo que era necessário muita calma, serenidade e foco no essencial: os supremos interesses do Sporting Clube de Portugal.
Ora, ao rescindir unilateralmente, Rui Patrício abriu a caixa de Pandora que todos nós temíamos que fosse aberta. Era a impossibilidade de tal ser feito que ainda colava a Bruno de Carvalho alguma réstia de esperança que fosse ele a solução para os nossos problemas. A partir de agora, é impossível prever com exactidão o que acontecerá nos próximos dias. Mais alguém se juntará ao Rui e ao Podence? E serão jogadores nucleares ou marginais? E como ficará o plantel para atacar 2018/19?
Não vou agora tecer considerações sobre a moralidade ou a ética desta tomada de posição de dois jogadores que são "da casa". Não vou igualmente opinar sobre a oportunidade com que estas coisas caiem sobre nós, dando sempre a ideia que é para esconder coisas piores noutras casas. Não o vou fazer porque estou farto, farto, fartinho, de crises, de comunicados, de birras, de meninos mimados, de dirigentes desportivos autistas... farto de não ser respeitado enquanto sócio e adepto do Sporting. Só queria fechar os olhos e esquecer os últimos dias e acordar no dia seguinte, pensando que tudo não passou de um pesadelo. Enquanto carpia todas estas mágoas, escutava a sessão de esclarecimento que o nosso presidente dava hoje em Santa Maria da Feira. E ouvi algo que me chamou a atenção. 
Durante a dita sessão, quando comentava o fracasso da venda de Rui Patrício, Bruno de Carvalho disse algo como isto, que seria fácil resolver tudo com os jogadores, bastando ceder ao poder dos empresários e enveredar pelo caminho das luvas e comissões. Só que esse caminho não o iria trilhar por uma questão de princípio e de amor ao clube.
O que é trágico em tudo isto que tem afectado o nosso clube, é que já não se trata de uma questão de quem é o bom ou o mau da fita, quem tem ou não tem razão e de que lado está ou não a moral. Neste momento o nosso clube está a ser completamente engolido por uma enxurrada de acontecimentos que vão desde uma invasão a um treino, um clube com órgãos demissionários em auto-gestão, a rescisão unilateral do capitão de equipa, os movimentos de bastidores de investidores-chave da SAD, da contra-informação lampiânica, bem como da incapacidade de Bruno de Carvalho lidar fria e adequadamente com tudo isto. E é preciso que deixemos de negar o óbvio, que não conseguimos estancar a enxurrada. Bruno de Carvalho já não o consegue. Estamos fartos e cansados. E por muita razão que tenhamos, não vejo outra alternativa senão capitular diante a crua realidade dos factos.
Por muita razão e moral que assistia à França, ela não deixou de capitular diante a invasão nazi de 1941. Por muito certos que estivéssemos em 1807, não tivemos outro remédio senão capitularmos diante as tropas invasoras de Napoleão. Por muitos bons motivos que nos poderiam assistir, em 1581 não pudemos evitar que Filipe II de Espanha tomasse a coroa portuguesa. Estes e outros exemplos da nossa História ensinam-nos os vencedores não são os que tem mais razão, mas sim os que tem mais força. E neste momento, por muita razão que Bruno de Carvalho possa arrogar de ter, já não tem força para alterar o rumo dos acontecimentos. Sobra-lhe (sobra-nos) uma capitulação honrosa.
Sinto muito se estas minhas palavras soam a fraqueza ou até traição. Não são mais do que palavras de um sportinguista cansado. E farto.