domingo, 24 de junho de 2018

Dias de Sporting

Ultimamente, falar sobre o Sporting revela-se um exercício digno de uma pintura de Miró. Olhamos para um amontoado de formas e cores e quando pensamos que já desvendamos o seu significado, eis que de repente algo se revela e voltamos novamente ao inicio do nosso exercício.
Primeiro era a AG que não se sabia quando (nem qual delas) se ia realizar, depois qual seria a pergunta, a seguir era saber se o Bruno lá ia ou não, depois era o discurso do Bruno, a destituição do Bruno, o Bruno que deixava de ser sportinguista, o Bruno, o Bruno... Pelo meio, a comissão de gestão nomeou Sousa Cintra presidente da SAD e temos o título de futsal para conquistar. Ah, e a nossa pré-época arrancou.
Tanta coisa tem surgido nas últimas horas que nem sei se no final desta prosa não teremos mais alguma novidade. Quando a comecei, Bruno de Carvalho tinha "deixado de ser" sportinguista. Agora parece que até candidato às novas eleições já é. Bom, como não quero voltar a ser surpreendido por nenhuma notícia de última hora, vou tentar resumir as últimas horas ASAP.

AG de dia 23 de Junho

Queríamos que os sócios falassem e os sócios falaram. Setenta e tal porcento de votos a pedir a destituição é muito voto. Estive no pavilhão, ouvi as gritarias e espreitei um ou outro boletim de voto. Tinha o feeling de que a destituição venceria, mas apontei sempre para uma diferença de votos inferior a 10%. Confesso que os números finais surpreenderam-me, mas não mais do que isso. Uma coisa é aldrabar uma votação onde a vitória é conquistada com escassas dezenas de votos. Trinta e tal mil votos (mais de quatro mil sócios) é demasiado para pensarmos, sequer, que houve marosca. O Sporting não é a Venezuela. O argumento do "barulho" é falacioso, pois quem já teve em reuniões deste género, como plenários ou até reuniões de condomínio, sabe perfeitamente que por detrás de quem faz barulho, há uma imensa maioria silenciosa que prefere manifestar-se pelo voto, pela deliberação. Ontem foi mais um dia assim.
Perante a resposta inequívoca dos sócios, Bruno de Carvalho retirou-se de cena (não por muito tempo). A comissão de gestão encheu-se de moral e tratou logo de ir ao principal: tomar conta da SAD. 

Sousa Cintra: As voltas que a história dá

Sobre a comissão de gestão, mais concretamente sobre a pessoa que escolheram para presidir a SAD do Sporting, confesso que o nome deixou-me com tanto de espanto como de entusiasmo. Acredito que para quem nasceu depois dos anos 90 do século passado, Sousa Cintra não passe de mais uma personagem a cheirar a fritos que agora surge em frente às câmaras. Para quem tem mais de 35 anos e não deixou de tomar Memofante nos últimos dias, Sousa Cintra é o sportinguista que, enquanto presidente do clube, mais se aproximou de Bruno de Carvalho na nossa história recente.
Sousa Cintra chegou a presidente após uma época conturbada por graves problemas financeiros do clube, tinha um discurso muito crítico sobre a arbitragem, instituiu uma política de apoio das modalidades (aqui a situação não era tão grave pois as modalidades não tinham sido extintas), procurou promover jovens jogadores nas suas equipas principais, sempre muito competitivas, entrou em guerra com o benfica, desentendeu-se com vários treinadores e teve a feroz oposição da "elite". Era gozado pelos adeptos rivais devido à sua forma genuína de comunicar. Alguém reconhece aqui um padrão? Quis a história, que como dizia aquele nosso avozinho "dá muitas voltas", que Sousa Cintra, depois de ter sido "convidado" a sair do clube em 1995, agora regressasse pela mão e aprovação (não do apoio, creio) dos mesmos que o convidaram a sair.  
Sousa Cintra foi uma espécie de Bruno de Carvalho num tempo sem redes sociais, TV por cabo ou jornais desportivos diários. Se há alguém naquela comissão em quem confio que defenderá intransigentemente os superiores interesses do Sporting, é Sousa Cintra. É uma ironia do destino, mas lembrando-me da forma como ele foi corrido da presidência, a sua chegada a presidente da SAD (uma criação daqueles que o depuseram) é um daqueles casos onde podemos dizer que, por vezes, a história escreve-se direita por linhas tortas.

Bruno de Carvalho: E agora?

Como não poderia deixar de ser, que melhor reacção do presidente adepto ao resultado da AG do que uma reacção... como adepto? Bruno de Carvalho reagiu como nós reagimos quando empatamos ou perdemos um jogo em cima da hora. Azia, vontade em desligar do futebol, queimar o cachecol e o cartão de sócio, insultar todos à nossa volta. É assim à segunda-feira, mas à terça-feira já andamos a perguntar pelo dia do próximo jogo do Sporting. É assim a vida de adepto e é assim Bruno de Carvalho, o presidente adepto.
O anúncio de que vai a eleições a 08 de Setembro é, para mim, uma excelente notícia. E por vários motivos. Primeiro, obriga a comissão de gestão, cujos membros certamente não quererão proporcionar o regresso de BdC à presidência do clube, a fazer tudo, MAS TUDO MESMO, para que os nosso interesses sejam acerrimamente defendidos. E até dia 08 de Setembro há muita coisa para ser defendida. Desde logo a postura a tomar face às rescisões. Livrem-se de "acordos" com rivais, por exemplo. Segundo, vai obrigar a que a corrente moderada, dita de terceira via, onde pululam antigos apoiantes de BdC que não se revêem no croquetismo, como Daniel Oliveira, José de Pina, Eduardo Barroso, Daniel Sampaio, etc., a avançar com uma candidatura própria e forte. É que ontem já comecei a ouvir aquele discurso tipicamente sportinguense (ou sportinguista de antigamente) a reclamar o aparecimento de uma candidatura (única, claro) "abrangente" e de "consenso", que mais não é do que voltarmos aos tempos dos presidentes cooptados pela elite do costume. 
É preciso que não se enganem pelos resultados de ontem. O que se votou ontem, mais até do que a destituição, foi a marcação de eleições, não do regresso ao "pré-Bruno". Se há coisa que estes últimos cinco anos revelaram, é que os sportinguistas são hoje uma massa associativa muito interventiva, atenta à vida do seu clube, com bastante massa crítica e com grande actividade. Qualquer tentativa de voltar a algo que cheire a "antigamente" merecerá dos sócios uma reacção peremptória. Nem que isso implique a voltar a por Bruno de Carvalho na presidência do clube.

E os próximos dias, como serão?

Por tudo aquilo que disse atrás, creio que poderemos ter algum optimismo nos tempos que se aproximam. Entretanto a bola começará a rolar e salvo alguma mudança brusca de orientações, o nosso plantel que vai iniciar a época será um plantel jovem, com muitos miúdos da casa, certamente ambicioso, que lembra muito aquela época de reset de Leonardo Jardim.
Uma coisa é certa, o Sporting não acabou antes de Bruno de Carvalho e não irá acabar depois dele. 
Viva o Sporting!

4 comentários:

  1. É bom ver algum optimismo por aqui. Acho que BdC está gasto e era importante para o Clube aparecer alguém com vontade de dar seguimento ao que de bom foi feito anteriormente, mas fiquei extremamente desiludido com o resultado da AG, mais porque tenho muito receio que não se dê o melhor seguimento a 2 assuntos cruciais, que é as rescisões e a possibilidade de reaver as VMOCS a preços muito interessantes e com isso ficar com a grande fatia da SAD.

    Mesmo com o regresso de BdC, não estou a vê-lo ganhar as eleições. Os 60% que votaram contra ele que apresentem um projeto interessante. (retirei de cena os 10% que já na ultima AG tinham votado contra).

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    1. Obviamente que não falei com todos os sócios que votaram contra a destituição, mas dos poucos com quem troquei ideias, o pensamento dominante é que 1) correr com o Bruno, pois já não há pachorra para o aturar e 2) o Sporting tem hoje sócios mais atentos e interventivos, pelo que é expectável que surja uma alternativa eletoral que tente prosseguir com o que de melhor foi feito desde 2013. Não acredito num regresso ao pré-Bruno, assim sem mais nem menos.

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    2. Ja estive para lhe responder na altura, mas foi passando... entretanto se calhar já não faz sentido a minha resposta. De qualquer forma quando estava a passar os olhos pelos comentários da tasca, lembrei-me de um detalhe que tinha colocado neste comentário.

      "2) o Sporting tem hoje sócios mais atentos e interventivos" Completamente de acordo, mas que poder efetivo é que os sócios terão para a eventualidade das coisas correrem mal.

      Dou um exemplo concreto, caso esta comissão, ou até o próximo presidente eleito, à revelia do seu programa eleitoral. preparar as coisas para fazer acordos lesivos para o Sporting no caso destas rescisões.

      Que poder efetivo (diria mais a nível de organização e mobilização) para se marcar uma AG extraordinária com a ordem de trabalho a dar ordens claras ao CD para agir no melhor interesse do Sporting?

      Claro que isto não é nada linear, pois decisões mal tomadas podem ter impacto muito significativo no desenrolar das ações.

      Confesso que estou a tentar manter uma mente aberta para estas eleições e até não desgostei do discurso do Varandas, mas o que se sabe nos períodos eleitorais regra geral é apenas o assessória e só quando a bolha rebenta é que acontece alguma coisa. Diria mais, se formos campeões até conseguem vender a maioria da SAd e os adeptos ainda fazem festa.

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  2. Pelo passado não acredito que venha a liderar o clube mas as críticas que vai fazer e os epitetos que vai pregar darão uma ajuda.

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