Tenho seguido
atentamente a pré-campanha em torno das próximas eleições presidenciais do
Sporting. Enquanto não surgem mais candidaturas oficiais, debruçar-me-ei, por
agora, pela única oponente à actual direcção.
Independentemente
do currículo profissional de Pedro Madeira Rodrigues, que me parece
interessante, creio que para ser presidente do Sporting ainda faltam outro tipo
de características que PMR não tem revelado nestes dias. Falo de um discurso arrebatador,
carismático, de líder. Mas, sobretudo, de coerência. E o assunto do treinador
esbarra precisamente nesse aspecto: coerência.
Inicialmente PMR
revelou que, caso fosse eleito, trabalharia de bom grado com Jorge Jesus. Após o anúncio de
que o treinador fazia parte da comissão de honra de BdC, o candidato optou por excluir
JJ dos seus planos. Questionado sobre como arranjará dinheiro para despedir JJ, PMR tem apostado num ingénuo“acredito que ele se demitirá”, coisa que o próprio treinador já afirmou que não fará. PMR aproveitou um fait-diver para justificar correr do clube o actual melhor treinador no nosso
campeonato, quando uns dias antes estava entusiasmado para trabalhar com ele.
E o que levou PMR a mudar em poucos dias a sua posição, numa decisão a quente (ele que tanto critica as decisões a quente de BdC)? Como diria
Jack-O-Estripador, vamos por partes.
I – Qual a
opinião que PMR tem sobre JJ?
Uma das
perguntas que deveria ser feita a PMR é se é ele o “Citylion” do Camarote
Leonino. Creio que a pergunta apenas foi feita no “Sporting160” e não obteve
uma resposta clara. É uma pergunta importante, porque uma coisa é ter uma
opinião sobre alguém ontem, mas alterá-la hoje por despeito a algo que se
passou. Outra coisa é nunca ter gostado dessa pessoa, mas em público passar
inicialmente uma ideia contrária para dar uma imagem conciliadora, para à
primeira ocasião descartá-la. Basta consultar o arquivo do Camarote Leonino
para sabermos o que pensava o “Citylion” de JJ e concluirmos que era uma
questão de tempo, ou oportunidade, até JJ ser descartado por PMR.
II – Mas JJ tem
lugar no Sporting nos próximos meses?
A partir do
momento que a actual direcção decidiu renovar com o actual treinador, creio que
é uma pergunta redundante. Temos de verificar os seguintes factos: a rescisão
com Jorge Jesus é milionária. Fala-se em 15 milhões, mas também já li 20
milhões com a equipa técnica. Mas também estamos a falar no melhor treinador
actualmente a treinar em Portugal. Creio que antes se deveria perguntar se
faria sentido despedir JJ nesta altura. E pensar que JJ simplesmente diz “adeus
e um queijo” ao Sporting em caso de vitória do PMR é demasiado ingénuo para ser
levado a sério.
III – Que
sentido faz despedir JJ em Março?
Faz tanto
sentido como o Barcelona despedir Messi, que também está a passar por uma fase
menos boa. A não ser que no dia seguinte apresentassem CR7 como reforço do
plantel. O que mesmo assim não poderia ser visto como um bom negócio, pese
embora o actual grande momento de CR7.
Quando o
Sporting rescindiu com Marco Silva, pagou algumas dezenas de milhares de euros
para despedir um treinador que, por muito bom que fosse, ainda não era mais do
que promissor. E para o seu lugar veio um treinador tarimbado e consagrado.
A não ser que
PMR anuncie Capello, Guardiola ou Simeone como treinador do Sporting, quem vier
será necessariamente pior que JJ.
IV – O que é que
PMR tem a ganhar com isto tudo?
Parece um
paradoxo, mas ganha coerência. Coerência com aquilo que escreveu durante os
últimos meses no Camarote. Mas aquela coerência que procura agora mostrar na
campanha eleitoral perdeu-a. Não pode anunciar “princípios” em cortar com JJ
mas depois esquecer-se deles e falar em reatar relações com os “agentes
desportivos” (Doyens, Gestifutes, etc.). Ou falar em “exigência” mas depois esbanjar
milhões em despedir o melhor treinador que passou pelo Sporting desde, digamos
assim, Bobby Robson…
No final talvez
ganhe os votos daqueles sócios que, por exemplo, em 2001 acharam bem que não tivéssemos
contratado José Mourinho para ser o nosso treinador.
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