terça-feira, 21 de março de 2017

Futebol 2017/2018 - A equipa B

De tragédia quase anunciada a equipa sensação da prova, eis o percurso da equipa B do Sporting Clube de Portugal.
Durante a campanha para o último acto eleitoral, ouviram-se as mais mirabolantes ideias para a nossa equipa B, sendo a mais arrojada aquela que propunha o fim da mesma, caso se consumasse (ou não) a descida de divisão. Salvo um ou outro sound-byte, discutiu-se pouco a nossa equipa B na campanha. PMR usou-a sobretudo como arma de arremesso contra BdC, surfando assim os seus sucessivos maus resultados. BdC, por sua vez, não apresentou nenhuma novidade sobre a gestão da nossa segunda equipa, pelo que se deduz não não irá ser alvo de nenhuma intervenção de fundo. O lugar mais desafogado que agora ocupa parece finalmente afastar os fantasmas que sobre ela pairavam, nomeadamente a sua extinção. O que, diga-se em abono da verdade, nunca foi tema assumido ou sequer tocado pelo nosso presidente.
As pessoas da minha geração certamente se recordarão dos campeonatos nacionais de reservas. Era uma prova que decorria paralelamente aos campeonatos principais, onde pontificavam os jogadores que, fazendo parte do plantel principal de futebol, raramente jogavam na primeira equipa. Uma vez que as equipas de reservas não eram rentáveis, pois implicavam custos com quase nenhum retorno (as assistências eram baixas e, creio eu, nem pagavam bilhete), o campeonato acabou por ser extinto, salvo erro em princípios da década de 90.
Por essa altura, os campeonatos portugueses sofreram uma alteração substancial. O caso Bosman e o fim à limitação de utilização de jogadores não-comunitários provocou uma enchente de jogadores estrangeiros nos planteis das equipas portuguesas. O jogador português, que até então estava protegido, passou a ter de enfrentar a concorrência directa do jogador Sul-Americano ou da Europa do Leste. Os clubes preferiam ir buscar jogadores medianos mas já feitos a mercados baratos, como o brasileiro, a ter de apostar em jovens acabados de formar. Alguns visionários, apercebendo-se de que esta dificuldade poderia, a prazo, por em causa a formação de jogadores portugueses (Portugal havia sido campeão do mundo em 1989 e 1991), trataram de começar a criar mecanismos de defesa do nosso jogador. O Sporting, clube de formação por excelência, lançou-se na pioneira tarefa de constituir clubes satélites onde os seus jogadores recém saídos dos Juniores pudessem contactar com o futebol Sénior. Primeiro o Atlético, depois o Lourinhanense, estes clubes serviam de rampa de lançamento dos leõezinhos. Por fim, e após uma longa luta junto dos órgãos federativos, pode-se por fim implementar o uso das Equipas B. O objectivo da criação das equipas B, e da nossa em particular, era o de servir de etapa de transição dos jogadores juniores nas competições seniores. Uma vez que, decorrente do mercado livre dos jogadores de futebol, os jovens jogadores veriam diminuir as suas oportunidades de jogar ao mais alto nível, tomou-se esta medida como forma de os proteger, bem como garantir que a nossa formação continuaria a carburar a todo o gás. Se hoje temos selecções nacionais competitivas nos vários escalões etários, muito se deve aos visionários que permitiram a criação das equipas B.
Após esta longa introdução, chego agora ao ponto que aqui me trouxe. A nossa equipa B teve um objectivo quando foi criada, que não é o de servir como equipa de reservas. Enquanto primeiro palco sénior da nossa formação, a equipa B tem cumprido o seu papel na íntegra: todos os nossas jovens promessas deram ali os seus primeiros pontapés como seniores. Podence, Palhinha, Matheus, Geraldes, João Mário, Rúben Semedo, Hugo Viana, João Moutinho, Quaresma, Cristiano Ronaldo... Por aqui se comprova a utilidade da nossa equipa B. Agora, se usamos a equipa B para contratar jogadores estrangeiros já feitos, usando-a como uma espécie de "ante-câmara" para a equipa principal, então estaremos no caminho certo para a sua extinção. Vejamos os jogadores comprados por BdC no mandado anterior e que foram direitos para a equipa B. De Dramé, Piris, Rabia, Sacko, Sambinha, etc., quem é que nós aproveitámos para a equipa principal?
Uma das principais críticas que PMR fez a BdC durante a campanha eleitoral foi precisamente a excessiva compra de jogadores de qualidade duvidosa, que acabaram invariavelmente na equipa B. É certo que foram jogadores baratos e sem impacto negativo nas nossas contas, mas por causa deles quantos nossos jogadores terão visto a sua entrada tapada na equipa B? Casos como o de William Carvalho, que após sair de júnior andou a rodar no Fátima e na Bélgica sem passar na equipa B, é a excepção que confirma esta regra de ouro: os nossos jovens tem de começar pela equipa B.
Abandonando-se em definitivo o paradigma de que a equipa B poderia ser uma espécie de equipa de reservas do Sporting, estaremos em boas condições de aproveitar as próximas fornadas que agora brilham nas nossas camadas jovens. E manter Luís Martins, que fez nestas últimas semanas um trabalho admirável à frente da equipa.

2 comentários:

  1. Ronaldo Quaresma Moutinhi e Viana não passaram pela B.
    WCarvalho quando foi lançado não existia B.
    Piris foi contratado por Jardim por empréstimo e fez a época toda na equipa A.
    Sacko e Drame foram contratados como jovens promessas internacionais franceses nas camadas jovens, Sacko pode ficar no Leeds por 5milhoes.
    Enfim podemos criticar escrever ao calhas é que não fica bem.

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    1. - Ricardo Quaresma fez 15 jogos pela equipa B na época de 2000/2001 e um jogo na época 2001/2002.
      http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=771&search=1&search_string=ricardo+quaresma&searchdb=1

      - João Moutinho fez 23 jogos na equipa B em 2003/2004;
      http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=7608&search=1&search_string=jo%E3o+moutinho&searchdb=1

      - Hugo Viana fez 1 jogo na equipa B em 2000/2001 e 3 jogos na 2001/2002. Aqui é o único caso ponde podemos dizer que "não passou" pela B, pois em 2001/2002 fez logo 35 jogos na equipa principal;
      http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=1663&search=1

      - William Carvalho poderia ter-se facilmente perdido algures entre Fátima e a Bélgica, se na altura houvesse equipa B (esteve interrompida entre 2004 e 2012) teria estado mais protegido. Neste caso a história escreveu-se certa por linhas tortas;

      - Ivan Piris participou em 11 jogos da equipa B e 8 da equipa principal;
      http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=85298&search=1

      - Sacko, Dramé, seriam certamente promessas francesas, mas aqui está o cerne da minha crítica: a equipa B deveria servir para potenciar exclusivamente as nossas promessas.

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