quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Os equívocos de Jorge Jesus. Os laterais. A segurança defensiva.

Após uma noite de sono bem dormida, passadas que estão 12 horas do final do jogo entre Sporting e Steaua, sinto-me mais capaz e com a cabeça mais fria para escrever sobre o embate de ontem. Sim, porque se tenho escrito isto logo após o final do jogo, corria o risco de me encerrarem o blog por excessivo uso de linguagem obscena.
Sejamos claros, directos e francos: a 15 de Agosto de 2017, o Sporting não tem equipa e futebol para ganhar ao Steaua de Bucareste, campeão em título da Roménia, antiga glória europeia do século passado, e uma das mais fracas (senão mesmo a mais fraca) equipas deste play-off. O que é que isto significa? Simplesmente que não temos estofo, cabedal, arcaboiço, para jogar numa prova como a Liga dos Campeões. Atenção que daqui a uma semana a coisa pode já ser diferente, e podemos já estar a praticar um futebol de nivel mais elevado. Mas hoje (ontem) não é assim. E temos de refletir sobre isso.
O Steaua de Bucareste apresentou-se em Alvalade como se apresentou o Vitória de Setúbal na passada sexta-feira e como se irão apresentar 99% das equipas que esta época ali forem jogar. Linhas baixas, meio campo a jogar compacto com o bloco defensivo e na frente um ou dois corredores para apanhar os chutões vindos de trás. Enquanto não percebermos isso, de que estamos destinados a jogar quase a totalidade da época com equipas assim, não vale a pena termos muitas esperanças sobre a presente época.
Jorge Jesus continua a ser Jorge Jesus. Mas não aquele que imprimia nas suas equipas características de rolo compressor, como se viu na primeira época que fez em Alvalade. Salvo um ou outra melhoria face à época transacta, continua a cair nos mesmos equívocos que resultam do seu autismo de não mudar o que só ele acha que está bem. Veja-se o caso de Adrien. O nosso capitão é uma das pedras fundamentais da equipa, quando está em forma. E nesta altura não está. Nota-se perfeitamente que no inicio das segundas partes já joga fatigado e ainda lhe falta clareza na maior parte dos movimentos. Parte da nossa incapacidade em construir jogo interior deriva da desinspiração actual do nosso capitão. E quando temos no banco um dos jogadores mais caros da história do clube, que na pré-época e nos jogos oficiais quando entra tem demonstrado capacidade para jogar naquela posição, pergunto-me porque razão JJ insiste tão sofregamente em Adrien?
Além da idiotice que significa usar os jogos oficiais para dar ritmo a Adrien, pois tal reflete-se no rendimento da equipa, JJ coleciona outros equívocos neste inicio de época. Jogar com Podence, neste momento, não se justifica. Podence simplemente não rende a jogar de costas para a baliza. Continuo a achar que nesta fase da época deveria ser utilizado em fases mais adiantadas do jogo, aproveitando o cansaço dos nossos adversários. Doumbia, além de ser um jogador já feito, tem melhores características para jogar no lugar de Podence. Tem mais presença na área e fisicamente é forte. Gostava de o ver jogar de inicio já em Guimarães.
Battaglia, não sendo mau, também não é muito bom. É "jeitozinho", desenrasca. Corre, luta, transporta, mas depois falta-lhe algo. Ontem, na fase final do jogo quando precisávamos de encostar o adversário às cordas, notou-se prefeitamente a sua incapacidade para acelerar o jogo. Com equipas de bloco baixo, jogar com um trinco clássico é um desperdício. E aqui, JJ tinha uma boa alternativa (isto se William não sair), que era pôr Adrien a jogar recuado, deixando Battaglia reservado para fases do jogo onde fosse necessário jogar mais em contenção. E Bruno Fernandes poderia assim assumir naturalmente a sua posição em campo onde rende mais, a 8 a distribuir jogo.
Fora da área dos equívocos, pois aqui ainda não há muitas alternativas, a questão dos laterais. Coentrão mesmo sem ritmo competitivo empresta mais qualidade ao jogo que Jonathan. Aqui todos esperamos que dentro de algumas semanas, Coentrão esteja finalmente pronto para jogar a todo o gás. Se não se lesionar. Quanto a Piccini, só desejo que Ristovski ganhe as rotinas de jogo tão cedo quanto possível. Ontem houve uma jogada sintomática daquilo que vale o jogador, aos 34 minutos. Gelson Martins está no lado direito do ataque, driblando 2 ou 3 adversários, no espaço entre a quina da área e a linha de fundo. O nosso prodígio, que mesmo sem fulgor físico é de longe o melhor do meio-campo para a frente, consegue no meio de tanta perna romena soltar para Piccini, que estava solto na quina da área. Piccini podia centrar de primeira, ajeitar a bola com o pé esquerdo e centrar logo com o direito, ou até rematar de primeira ou segunda à baliza. Mas não, recebeu a bola e congelou durante uma fracção de segundos, como quem pensa "o que é que eu vou fazer com esta coisa redonda, que me está a queimar os pés?". Não fez nada, recebeu a bola, parou, olhou e perdeu a bola. Piccini é isto, um lateral direito sem classe, que a atacar raramente sabe o que fazer à bola, senão soltá-la para Gelson ou enviar de biqueirada para dentro da área. A sua sorte é que como tem Gelson ao seu lado, que vai resolvendo despiques contra um ou dois adversários, acaba por disfarçar a sua clara falta de jeito para jogar em ataque. Tivesse Gelson a sorte de ter Cedric a jogar ao seu lado e outro galo cantaria naquele flanco. E Gelson não só tem de atacar sozinho contra 2 ou 3 adversários com ainda tem de vir atrás a correr para safar o seu colega de lateral. Não admira por isso que o nosso extremo chegue aos 70 minutos completamente estoirado.
Palavra final para a melhor coisa que se tem visto nestes primeiros jogos a doer, que é a segurança defensiva. Sem dúvida fruto do acrescento de Mathieu, bem como das características defensivas de Battaglia, além do trabalho colectivo de posicionamento em campo quando se defende. Apesar de não termos ainda enfrentado adversários que joguem em ataque continuado, jogos como estes correram-nos muito mal no ano passado. Mas em três jogos deveremos ter consentido tantas oportunidades de golo como ano passado num só jogo, o que é positivo. Ainda estamos na fase inicial da época e no ano passado por esta altura também tínhamos a nossa baliza a zeros. As próximas deslocações a Guimarães e Bucareste serão testes de fogo ao nosso jogo defensivo. Mas, neste momento, é onde eu e a maior parte dos sportinguistas se tem agarrado. A esperança de que a segurança defensiva consiga empurrar a equipa para exibições mais fulgorantes no ataque.

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