terça-feira, 1 de agosto de 2017

O Facebook do Bruno

Ontem dei por mim estarrecido, quando li num qualquer post de uma qualquer rede social, que o Bruno tinha voltado a publicar no Facebook. Procurei imediatamente pela conta do nosso presidente, e após ter visitado as 400 páginas do FB cujo título contêm qualquer coisa como "Bruno de Carvalho" ou "Presidente do Sporting" sem ter encontrado porra de post algum, vim afinal a saber que essa publicação saiu no seu perfil privado, "aparentemente" usado por causa do Spotify, e cujo acesso e leitura está vedado aos seus amigos. Ou seja, um perfil que não é acessível ao público em geral, como são os perfis das celebridades ou como o próprio em tempos já teve.
Aquela velha falácia da pessoa que fala ou age enquanto cidadão e não do cargo que ocupa, ainda hoje é utilizada como desculpa ou subterfúgio para se dizer ou fazer asneiras e coisas parvas, que de outra forma eram inaceitáveis. Lembro-me que Mourinho dizia sempre aos seus jogadores para nunca fumarem em público, mesmo quando estavam fora do âmbito desportivo. Primeiro, porque os jogadores, enquanto desportistas, tem um papel exemplar a desempenhar na sociedade. Segundo, porque mesmo numa noite de copos no Urban ou num jantar romântico no Gambrinus, a figura dao cidadão anónima.o é indissociável do jogador de futebol que todos conhecem. Essa lição, que nos parece básica, aplica-se a Bruno de Carvalho e ao cargo que ocupa. Em 2017, Bruno de Carvalho e Presidente do Sporting são ambas a mesma pessoa, não há volta a dar. Seja no Facebook, seja quando em off-the-record diz que o João Mário é feio ou quando está sentado no banco de suplentes em dia de jogo, Bruno de Carvalho é sempre o presidente do Sporting. 
Dai que mesmo que tenha falado "apenas" para as poucas centenas de amigos que tem no Facebook, as suas palavras tiveram o eco que tiveram porque foram proferidas pela pessoa que ocupa o cargo que ocupa. E não, eu não gostei de o ter ouvido falar em "sportinguenses". Não é bonito referir-se assim a sócios e adeptos do clube que preside, por muita razão que tenha e por muito residual que aqueles sejam.
Disse aqui há já alguns posts atrás que esperava e desejava que o nosso presidente estivesse mais low-profile durante a próxima temporada. Os sinais estão a ser positivos, mesmo após o episódio Octávio Machado. BdC tem-se comedido nas intervenções públicas, a pré-temporada (histerias à parte) tem corrido bem, com contratações atempadas e aparentemente de melhor qualidade face aos anos anteriores, o regresso do voleibol, etc. Em sentido oposto, o nosso rival do outro lado da estrada tem passado tempos difíceis, dentro e fora do relvado. Se as coisas dentro do relvado ainda podem ser desculpadas porque ainda não são a doer, já fora a coisa não tem sido fácil. O #benficagate tem posto a nu as engrenagens do Estado Lampiânico, tendo o mais recente capítulo sido particularmente deprimente. Seja porque a narrativa das "claques que são sócios organizados" é má demais para ser sequer ponderada, seja porque finalmente o Kadafi dos pneus veio a público falar e estampou-se ao comprido (não sei o que foi pior, os pontapés no português ou a t-shirt preta), seja porque toda a história cheira claramente a protecção dos poderes públicos ao clube do povo, ninguém levou a sério a posição oficial do benfica. E estava meio-mundo entretido a "malhar" no presidente do clube do povo, quando de repente o nosso Bruno resolveu vir a público em modo privado e... lá ficou meio daquele meio mundo a discutir o que o presidente do Sporting disse e como o disse.
Tirando a parte final do primeiro parágrafo, creio que qualquer sportinguista se revê completamente no que o nosso presidente escreveu. Como se revê na sua luta contra o Estado Lampiânico, o Sistema, os fundos ou a nossa dívida. Assim como se revê na sua luta para mobilizar a onda verde, que voltou a invadir todos os estádios de Portugal. Já na forma como o faz, por vezes, começam a duvidar da sua eficácia. O discurso das nádegas, do Belfodil, da Bardamerda, da terceira escolha... Poderão-me argumentar que os fins justificam os meios, que o homem é pragmático e focado e eu até posso aceitar isso. Agora o problema é que cada vez que BdC resolve utilizar os seus meios para atingir os fins que pretende, é precisamente para esses meios que todo o foco é apontado, por mais nobres e altos que sejam os fins a que se destinam. Nicolau Santos foi infeliz ao escrever aquela patetice no Expresso? Foi. Isso justifica que o presidente do seu clube o rotule de "sportinguense", logo pondo em causa a sua qualidade enquanto sócio e adepto do nosso clube? Não! E pronto, quando todo o Portugal futebolístico deveria estar empenhado em desmascarar a hipocrisia lampiónica da relação do benfica com as suas claques, eis que o Bruno lá arranja mais outro factor de diversão para os Fernandos Guerras e Delgados desta vida explorarem.
O nosso clube tem um director de comunicação, que no caso em concreto das claques ilegais do benfica esteve muitíssimo bem (aquela foto do LFV com o cachecol...). No episódio do Nicolau Santos também reagiu, e a meu ver bem. Se temos uma voz autorizada a falar pelo clube, não compreendo porque motivo o presidente insiste em mandar a sua "posta de pescada". A cacofonia em que por vezes o meu clube cai, é de todo evitável. Vejam por exemplo a política de comunicação do porto. Creio que não estou enganado quando digo que todos os seus comunicados ou tomadas de posição são feitas de forma impessoal, não assinadas por uma pessoa em concreto. Tirando a divulgação os e-mails, onde Francisco J. Marques foi a cara visível da denuncia portista, raramente as tomadas de posição do porto são personalizadas. E compreendo hoje a sua razão: tal não desgasta os dirigentes. Da mesma forma que os dirigentes do benfica não falam, mandam falar. Era bom que puséssemos todos os olhos nisto. Especialmente tu, Bruno!

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