segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A estranha ironia do destino de William Carvalho

Certamente que muitos já não se recordarão, mas no final da época de 2012-2013, quem era o nosso trinco titular era um argentino de seu nome Fito Rinaudo. E era um dos jogadores mais queridos da massa adepta.
Foi por isso com algum espanto, eu incluído, que os sportinguistas se deram conta que o novo treinador do Sporting, Leonardo Jardim, se preparava para lançar um trinco desconhecido na época seguinte.
Oriundo das nossas escolas, William Carvalho passou por um curto desterro na Bélgica, num clube com quem tínhamos então um protocolo de colaboração, o Circle de Brugges. Não era dos nomes mais sonantes da nossa academia, como o eram na altura Mané, Dier ou Esgaio. Mas o luso-angolano franzino impressionou na pré-época e confirmou aquela velha máxima de que por vezes o melhor é mesmo estar no local certo à hora certa. O Sporting estava em risco de falência e não podia gastar euros em contratações, pelo que tinha-se de jogar com o que havia em casa. O nosso treinador era alguém a quem não lhe fez confusão esse tipo de contingências, pelo que apostou sem receio no desconhecido William Carvalho. Fosse uns anos atrás ou à frente, e muito provavelmente WC teria sido recambiado para outras paragens europeias ou para algum Rio Ave ou Boavista desta Liga, sendo hoje um jogador pouco mais que caceteiro. Mas as estrelas assim não o quiseram.
Lembro-me de logo na época de 2013-2014 recebermos o benfica em Alvalade, ainda no inicio da época, talvez Agosto ou Setembro. Muitos duvidavam que Leonardo Jardim desse ao miúdo a responsabilidade de ser titular num jogo dessa envergadura, apostando num regresso de Rinaudo ao lugar 6. Mas o miúdo não só foi titular como fez uma belíssima exibição, estancando o ataque encarnado e aproveitando para ir saindo de bola jogada ou em passe, já com aquele rodopio tão típico que ainda tem.
William acabou esse campeonato como uma das revelações da época, e foi premiado com uma justa convocatória para o Mundial de selecções no Brasil. Como é hábito nos jovens jogadores deste clube, a sua afirmação nas selecções foi muito a custo, pois teve de ombrear com esse grande jogador que era Miguel Veloso. Ou até André Almeida, de quem se dizia que era tão bom, tão bom, que até fazia uma perninha naquela posição. William não jogou muito, creio que só foi titular no último jogo, mas a experiência foi-lhe decisiva. No europeu de sub-21, disputado no ano seguinte, a sua qualidade e futebol impressionou todo o mundo desportivo, acabando por ser justamente eleito o melhor jogador do certame. A forma como, ao contrário de outros, não se encolheu quando lhe coube a tarefa de marcar o penalti decisivo na final, demonstra o grande carácter que tem. E nem mesmo o facto de ter falhado esse penalti abanou esse carácter.
Amado lá fora, odiado cá dentro. Não pelos sportinguistas, que o veneram, mas por todos os outros. Desde a lentidão, a lateralização, e outros "ãos" que lhe quiseram colar, a forma como levou Portugal à vitória do Europeu de 2016 acabou por ser a melhor resposta de WC aos críticos. Hoje, se bem que ainda muito a custo, já quase todos admitem o óbvio: William Carvalho é actualmente o melhor jogador português daquela posição. E do campeonato, pois se Fejsa também é bom, se calhar passa lesionado metade dos jogos que William Carvalho faz. 
Escrevo esta espécie de texto de despedida ainda sem saber se o nosso "Sir" sempre se vai mudar para o West Ham. Enquanto sportinguista fico triste, pois isso significa perdermos um dos nossos melhores jogadores de futebol, um dos nosso capitães, um exemplo de carácter e profissionalismo para as nossas cores e um grande desportista que ajuda sempre a enriquecer um campeonato como o nosso. Enquanto adepto do futebol português também fico triste pela sua saída. Mas fico ainda mais triste quando vejo que um dos melhores jogadores do nosso campeonato e da nossa selecção, um dos melhores do mundo naquela posição, irá, tudo indica, para um clube mediano de Inglaterra.
Penso que William Carvalho mereceria mais, mas talvez seja aqui que se costuma dizer que o "Karma é fodido". Da mesma forma que lhe caiu do céu aquela oportunidade para ser titular do Sporting, hoje William acaba por ser prejudicado por o Sporting não ter relações com Jorge Mendes ou fundos manhosos de jogadores. É a ironia do estranho destino de William Carvalho. O Sporting vende o jogador, e bem, por 30 e tal milhões de euros (a cláusula é de 45 M€, pelo que não sendo um grande negócio, não deixa de ser um bom valor). O jogador irá para um clube mediano, onde terá de dar muita corda às pernas para conseguir aí dar o salto para um grande de Inglaterra ou outro grande europeu. 
A William Carvalho desejo-lhe tudo de bom, e que o seu estranho destino o coloque novamente na rota de Alvalade, daqui a uns anos.

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