segunda-feira, 5 de março de 2018

Jorge Jesus: Problema ou solução?

Ainda é cedo para fazermos um balanço da temporada, pois ainda temos objectivos não negligenciáveis para alcançar, mas no que toca ao campeonato podemos já afirmar que foi um fiasco. Até podemos reduzir a actual margem de distância para o primeiro lugar ou acabar em segundo. Mas o que fica na nossa cabeça é que no início de Março estamos fora da discussão pelo título. E nada fazia prever isto quando terminámos a primeira volta lideres do campeonato. 
Esta será a terceira época de Jorge Jesus à frente do Sporting, pelo que será a terceira vez que falha o objectivo principal da equipa. A primeira época atingimos a notável marca de 86 pontos, que foram insuficientes para sermos campeões por diversos motivos, alguns dos quais estão a ser investigados pela PJ. A época seguinte prometia bastante, pois entretanto Portugal foi campeão da Europa com alguns dos nossos jogadores e havia uma clara vontade de vingar a injustiça da época anterior. As coisas não nos correram de feição, pois começámos a perder terreno logo no início do campeonato, além de termos falhado outras metas numa fase ainda precoce das provas. Por esta altura jogávamos apenas para o terceiro lugar, nada mais. Esta época, portanto, muito dificilmente seria igual ou pior do que a anterior. No entanto, nesta fase, o que a está a marcar é o afastamento prematuro da luta pelo título, num inicio de segunda volta tenebroso. Ainda é cedo para decidirmos se JJ é problema ou solução para o Sporting, mas basta uma volta pelas redes sociais para percebermos que é um assunto que já começou a ser discutido pelos sportinguistas.
Antes de mais, convém dizer que não acredito que JJ saia no final (ou até durante) da presente temporada. Nem acredito igualmente que BdC o despeça. JJ já no passado demonstrou que não é pessoa para abandonar o barco, até em situações mais difíceis que a actual. Já Bruno de Carvalho também não acredito que o despeça pois para o fazer terá de pagar uma indemnização choruda. O nosso presidente acaba por ficar refém da ambição de ter querido trazer o melhor treinador para o Sporting. Pessoalmente também prefiro que JJ fique e cumpra o seu contrato até ao fim. Primeiro, porque não acredito que o futebol da nossa equipa se deteriore até ao fim desta época. Segundo, porque tenho boas expectativas para a próxima temporada. Estarei a ser demasiado optimista? 
Quando Jorge Jesus chegou em 2015, pegou numa equipa que estava rotinada há já duas temporadas. Na temporada anterior, com Marco Silva, também ficámos prematuramente afastados da luta pelo título, mas conseguimos conquistar a taça de Portugal no fim. Perdemos Nani e Cedric, mas mantivemos João Mário, William, Adrien, Slimani. Com uma maior intensidade de jogo, atingimos a tal marca dos 86 pontos, que por pouco não chegou para sermos campeões.
Em 2016, apesar das expectativas altas, perdemos jogadores influentes como Slimani e João Mário. Bas Dost entrou bem na equipa mas outras outros jogadores não. Markovic, Elias, André, Castaignos ou Campbell, não acrescentaram valor suficiente ao plantel, o que aliado a uma má forma de Adrien e William no pós-Europeu, resultou numa época sem conquistas.
Para a presente temporada, o Sporting teve de refazer outra vez o plantel, repetindo a renovação que havia falhado no ano anterior. Aqui as coisas pareceram correr melhor, pois Piscinni, Coentrão, Mathieu, Bataglia e Bruno Fernandes revelaram-se melhores do que as contratações de 2016. Estamos melhor em todas as frentes em relação à época passada. E mesmo estando fora da discussão pelo título, na generalidade também estamos melhor face a 2015, onde nesta altura já só lutávamos pelo campeonato. A médio prazo, este plantel dá-me mais conforto, pois acredito que os erros desta temporada poderão ser sanados na próxima.
Atendendo ao que tem sido a política de entradas e saídas do Sporting, não acredito que no final desta época venham a sair muitos jogadores nucleares. Em ano de mundial, algumas dessas vendas estarão também dependentes da forma como a nossa selecção enfrentará a prova, bem como dos minutos que jogarão na selecção. Aqui, muito provavelmente os focos incidirão sobre Rui Patrício, William e Gélson, sendo o "Sir" o mais provável a ser vendido. Não acredito que Bruno Fernandes se mostrará ao mundo na Rússia, pois não é uma primeira opção para Fernando Santos. A saída provável de William poderá juntar-se a de Fábio Coentrão, que regressará a Madrid. 
Podemos assim esperar um Sporting 2018/19 onde Rui Patrício, Piscinni, Mathieu, Coates, Bataglia, Bruno Fernandes, Bas Dost e Rafael Leão continuem no plantel, a que se juntarão um defesa esquerdo (era tão bom renovar o empréstimo com Coentrão...) e um trinco para colmatar a saída de William (Misic será suficiente?). Teremos entretanto Wendel já "europeizado", o regresso de Geraldes e Matheus Pereira. Tudo jogadores que nessa altura já conhecerão bem a "ideia de jogo" de JJ. Mas que conhecerão outra coisa tão ou mais fundamental do que a tal "ideia de jogo": saberão que é tão importante entrar com tudo nos jogos contra Estoril, Tondela, Setúbal, etc., como nos jogos grandes.
Como se viu na passada sexta-feira, o problema do Sporting não é de falta de qualidade do seu plantel. Fizemos um bom jogo no terreno de um rival, sem dois dos nossos melhores jogadores. Mas sem esses mesmos dois jogadores, fizemos um jogo miserável no Estoril. Estou profundamente convicto de que o actual problema do Sporting é sobretudo um problema de motivação. Tirando o jogo de Setúbal, onde jogámos o suficiente para golear, entrámos em campo com Tondela, Moreirense ou Estoril, sem a motivação necessária para esmagarmos adversários que dão tudo em campo contra nós. Na próxima temporada, Mathieu, Piscinni, Bruno Fernandes, Bataglia, etc., já saberão o que terão de fazer quando jogarem contra esse tipo de adversários. 
Jorge Jesus também saberá tão bem como nós qual é a realidade do futebol português. Ele também ouviu falar das malas e de certeza que sente a diferença do que é treinar o Sporting e fazer o mesmo com o benfica. Não acredito por isso que ele não encontre diariamente motivação melhor para ser campeão. É um facto que nesta época, em determinados jogos, ele não conseguiu transmitir essa motivação à equipa. Se não o fez por incapacidade sua ou por incapacidade dos jogadores em interiorizarem o que é o futebol português, desconheço. Mas estou disposto a dar-lhe o benefício da dúvida, até porque é a última oportunidade para o fazer. 

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