quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pontapear o destino

O destino continua a pregar-nos partidas. Algumas são mais maldosas do que outras e a de ontem até foi benévola. Aconteceu tudo de uma maneira tão certinha, são clarividente e com um final tão cheio de moral, que até parece ter saído da pena de um Homero. Esta meia-final foi como que uma Odisseia para nós. Mas que não acabou ontem. Ainda mal começou.
No meu post de ontem falei de como o destino é especialmente irónico para o nosso lado. De repente chegávamos à meia-final da competição que sempre desprezámos e amaldiçoámos e vimo-la como uma tábua de salvação. Precisávamos desesperadamente de uma vitória ontem, para exorcizar os medos que temem em nos perseguir. E tal como uma tragédia grega, o jogo de ontem decorreu seguindo hipnoticamente aquele compasso angustiante e de suspense que todos os sportinguistas conhecem e sabem como acaba: ou muito bem ou muito mal.
O prólogo do drama de ontem começou logo pela manhã, quando Francisco J. Marques resolveu meter-se em mindgames e vociferou algo como "verdade desportiva ferida". E disse-o sem se rir. Tempos houve em que o nosso clube cedia facilmente a estes "joguinhos" psicológicos e os jogadores visados entravam em campo a tremer. FJM tentou mexer-nos em dois pontos sensíveis: lembrou-nos Setúbal e atacou o actual símbolo da garra sportinguista, Fábio Coentrão.
Começa o jogo e logo no seu inicio um daqueles lances que de tão óbvio que foi apenas nos fez rir, quando Bas Dost foi "abraçado" por Danilo. O árbitro não o quis ver, o VAR também não. E não venham com a treta do fora-do-jogo, pois ainda a bola não tinha sido chutada já o portista tentava acasalar com o holandês voador. O primeiro lance do desafio resultava na primeira ironia do destino: o jogo começou mesmo com a verdade desportiva ferida, mas do nosso lado.
Depois o desenrolar do drama, cheio de clímax e anti-clímax: lesiona-se Danilo, lesiona-se Gelson. Felipe lavrava impunemente o campo e tornava-se óbvio que o primeiro amarelado teria de ser um jogador nosso. E até isso decorreu como costume. Não faltaram as invenções de JJ, ao encostar Bruno Fernandes à direita. Felipe continuava a lavrar o campo. Coates acerta no poste, lembrando-nos que ficar a ganhar 1-0 naquela fase do jogo era muito fácil para nós. Rui Patrício faz uma defesa quase à entrada da grande área, depois de um disparate de Mathieu. O porto marca um golo em fora-do-jogo mas o VAR anula-o bem, como que premiando o clube cujo presidente mais se bateu pela sua adopção. No final da partida o assalto dos portistas fazia-se perante a contemplação do "Ferrari vermelho", que decidiu não marcar mais nenhuma falta a nosso favor do meio-campo para a frente. Pelo meio a entrada de Montero e Brian Ruiz em campo, que ninguém compreendeu bem para quê, excepto o destino, claro está.
O êxodo - ou conclusão - do drama fez-se ao mais alto nível e como já todos esperávamos. Por penáltis. Decidir um jogo desta natureza por penáltis seria algo demasiado fácil por si só. Temos bons executantes e um dos maiores especialistas do mundo a defendê-los. Ganhar assim não teria graça nenhuma. E o Sporting não seria Sporting se Coates e William Carvalho não tivessem falhado aqueles penáltis. Até acho que foi por isso que WC sorria enquanto caminhava até ao local da cobrança do pontapé. Ele sabia que ia falhar e que tinha de o falhar, então que o falhasse com estilo.
O drama terminou quando Brian Ruiz caminhou para bater o penálti decisivo. Quem melhor senão o "pé frio", o "patinha feio" da Costa Rica para desenvencilhar todo aquele novelo em que a eliminatória parecia manietada?
Infelizmente o drama ainda não acabou. Só agora começou. Este foi o primeiro episódio de um final de temporada que será necessariamente como o jogo de ontem: conduzida em altos e baixos, curvas e contra-curvas, solavancos. Teremos de ser fortes, muito fortes. Temos de ter raiva, temos de jogar furiosos, temos de saber sofrer, temos de saber jogar doridos, temos de correr, temos, temos, temos.... 
De que serviu aquele sofrimento todo em Alkmaar se na final, no nosso estádio, soçobrámos daquela maneira tão inglória? Um dia temos de dar um pontapé no destino. Este é o momento.

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