segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Sobre as toupeiras

Devido às inúmeras vicissitudes que afectaram o nosso clube nos últimos meses, faltou-me tempo e vontade para falar das toupeiras. Mas agora, quando parece que o foco mediático finalmente largou o nosso clube, parece-me ser a altura ideal para pegar num assunto que tem tudo para marcar o futebol português.
Enquanto cidadão português, fico pasmado com a facilidade com que um mero funcionário judiciário consegue aceder a um qualquer processo a tramitar na nossa Justiça. Numa era onde uma das maiores preocupações que assola a humanidade é a da segurança cibernética, fiquei a saber que em Portugal é possível uma pessoa pesquisar na base de dados dos inquéritos, utilizando para o efeito um login de um funcionário já aposentado. Ou, igualmente grave, também é possível alguém pesquisar horas a fio sobre um determinado processo que não lhe diz respeito, sem que o próprio sistema alerte os seus administradores sobre tal anomalia. É uma tremenda fraqueza daquele que é um dos pilares da nossa democracia, portanto deveria merecer uma séria reflexão das mais altas entidades do Estado.
Já enquanto adepto de futebol, não posso dizer que fiquei surpreendido com o que até agora se soube. O currículo de Paulo Gonçalves é extenso. Esteve ligado ao porto nos anos noventa do século passado e convenientemente passou-se para o Boavista a tempo de montar a "estrutura" que levou à conquista do campeonato por parte dos axadrezados. Sem dúvida que estamos perante alguém com know-how dos meandros obscuros do futebol português, com vasta experiência na arte da manigância e da marosca. E como bem diz o povo português, "diz-me com quem andas que eu digo-te as manhas que tens".
O comum dos lampiões olha para tudo isto e aborda o assunto de variados ângulos, desde a incredulidade total até ao mais puro conformismo de que para se ganhar algo em Portugal, tem de se jogar sujo nos bastidores. Os incrédulos, que ainda há muitos, são aqueles que papam tudo o que a cartilha lhes mete á frente. Desde as considerações morais sobre a personalidade de Paulo Gonçalves, católico praticamente que jamais praticaria actos de tal natureza, ou então preferindo pegar naquela parte da cartilha que prefere atacar o mensageiro - o famoso hacker de Budapeste - transformando-o em fonte de todo o mal que assola o clube da Luz. A forma como os e-mails do benfica foram postos na praça pública revestem-se de evidente ilicitude, mas que foi ofuscada perante a gravidade do que veio a público. Meter tudo no mesmo saco é como considerarmos ser tão grave o carocho que vende ganza na rua como o cartel de Medellin. Não há comparação possível.
De resto, a narrativa que diaboliza o hacker acaba por cair por terra quando nos lembramos que a SAD lampiónica já foi alvo de várias diligências da PJ e do Ministério Público, logo é redutor pensarmos que a única prova que a investigação possui advém exclusivamente dos emails "hackeados". Nem eu acredito que uma investigação criminal com esta mediatização, cujo alvo é o benfica, se suportasse em exclusivo nessa fonte. A tese da cabala portista-brunista de que tudo foi manipulado pelo eixo do mal "dragarto" é conversa para boi dormir.
Não vi a mesma preocupação sobre as fontes ilícitas quando o alvo das mesmas era o Sporting. Lembram-se do "draft" do contrato de Mitroglu com o Sporting? Lembram-se dos contratos de Coates ou Bruno Paulista com o Sporting? Lembram-se também de quem veiculou essa informação? Eu lembro-me: Pedro Guerra e o Rascord farinácio. O karma é tramado.
Se o lampião incrédulo acaba por dar pena, tal é forma como se deixa manipular pela cartilha do seu clube, já o lampião conformista é para mim o mais perigoso. Para o conformista, não há volta a dar. Para cabrão, puta e meia. Convenceram-se de que para destronar o Sistema, teriam de jogar no mesmo território. Não basta o mérito desportivo, é também necessário dominar tudo e todos. A táctica da terra queimada no seu esplendor. Segundo o lampião conformista, afinal o porto dos anos 90 e da primeira década deste século tinha uma grande equipa e aquilo das escutas da "fruta" é lana caprina, pois "todos o fazem". Quando defendemos exacerbadamente a ideia de que os fins justificam os meios, acabamos por criar monstrinhos que um dia nos devoram. No caso do benfica, esse dia está a chegar. 
Tudo o que reconhecíamos no Sistema, está hoje no Estado Lampiânico: a coopção da oposição interna, o aproveitamento do clube por parte da sua direcção, o encobrimento do trabalho sujo das claques, o domínio sobre os clubes mais pequenos, a cativação de árbitros e observadores com recurso a prostitutas, a parceria com o poder político, o conluio dos jornalistas amigos. Tudo com a bênção do lampião conformista, que mesmo sabendo de tudo isto, prefere que assim seja pois de outra forma não conseguiria ganhar nada.
Quando confrontados com o que surgiu nestas últimas semanas contra o seu clube, a lampionagem abandonou a velha cassete de Paulo Pereira Cristóvão e passou a pegar noutra: o Cashball. Não são casos comparáveis, pois um já está em fase de acusação enquanto que o outro ainda está em inquérito. Pelo que se soube na altura em que o Cashball rebentou, não me parece que a prova contra o Sporting seja sólida. A participação do César das malas na denúncia é, por si só, de desconfiar. Mas uma coisa é certa, se chegarmos à fase de acusação e continuarem de pé as suspeitas de corrupção por parte do meu clube, mesmo que estejamos a falar de andebol, cá estarei na primeira fila para o criticar. 

3 comentários:

  1. O mais "engraçado" na "acusação" do "delator pago" do Cashball é que acusou André Geraldes de: 1- enquanto Dir. p/ Modalidades "corromper o árbitro de um jogo de andebol para fazer o Porto perder" e o SCP ser campeão; de "enquanto Team Manager p/ o Futebol" corromper jogadores do Chaves em 2 jogos de Janeiro de 2017. Acontece que:
    1 - a) André Geraldes NUNCA foi Dir. Modalidades; b) na data do jogo era Team Manager do Futebol c) o jogo em causa era SLBvsFCP e o fifica não só cai no ridículo de insinuar que o Sporting pagou para as toupeiras ganharem como "admitem" que não ganhariam ao FCP sem "ajuda" do árbitro; d) mesmo com essa ALEGADA "ajuda", para o Sporting ser campeão, ainda precisou de ganhar ao Benfica.
    2 - a) à data dos jogos de Chaves André Geraldes ainda era Coord. do Gab. de Apoio ao Atleta Prof.; os resultados desses jogos foram um empate para a Liga (que nos deixou a 10 pontos das lideranças e arredados do título) e uma derrota que nos eliminou da Taça de Portugal.
    Se aliarmos à "credibiladade" do conteúdo das "acusações" o facto de estas terem sido proferidas por um "delator" que confessou ter sido principiscamente pago pelo Correio da Manhã para dar a entrevista de "delação" … está tudo dito.
    Saudações leoninas

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    1. Daí ter a convicção que o Cashball não vai dar em nada. A não ser que a investigação tenha por lá alguma "bomba" escondida...
      SL

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  2. Vamos ver se o poder político tem a "determinação" (para não chamar outro nome)de actuar.


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