segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A união é uma treta

No Sporting já se tornou um cliché. Cada vez que há um acto eleitoral, uma mudança directiva, uma troca na hierarquia, lá vem a conversa da "união". Mas afinal que união vem a ser esta?
Dizem-nos à boca cheia que nos últimos anos se assistiu a uma fractura no Sporting. Que o último conselho directivo, com Bruno de Carvalho à cabeça, lançou sportinguistas contra sportinguistas e expurgou do clube quem não concordava com a sua liderança. Em contrapartida, os arautos do "unionismo" propõe um modelo de gestão do clube que, despido dos lugares-comuns e da conversa de chacha de ocasião, nada mais é do que um seguidismo "salazarento" ao novo lider. E, não menos importante, esse seguidismo também se estende à elite que o rodeia e que basicamente é a mesma se sempre rodeou os nossos anteriores presidentes.
Fazendo um pouco de arqueologia, lembremo-nos todos de como o Sporting "unido" estava em 2013. O clube precisava de um abanão e era unânime a ideia de uma ruptura com o passado. Bruno de Carvalho executou esse corte e a coisa não lhe correu mal, sendo mais ou menos consensual que o seu primeiro mandato foi positivo. O anterior presidente acabou por cair porque os sócios estavam saturados do seu estilo frenético, não por causa das "desuniões".
Chegados a Maio de 2018, começamos a levar com a narrativa da "união" sportinguista. Essa narrativa parte do princípio errado de que o "Universo sportinguista" entrou com colapso por estar fraccionado, ou numa linguagem mais ortopédica, "fracturado". Fatalmente, a narrativa unionista resvala para a ideia do poder do clube ser entregue a uma elite que mais não é do que um conjunto de velhos conhecidos nossos, onde se destacam antigos presidentes e dirigentes, banqueiros, políticos e os grupos e grupelhos de gente "ilustre" do nosso clube. Basicamente, torna quase blasfemo discutir soluções e caminhos diferentes a serem tomados pelo Sporting, porque toda essa discussão é classificada de fracturante, e os tempos não estão para fracturas....
Felizmente, se há coisa que as sucessivas crises directivas fizeram de bom ao Sporting, uma delas é que incutiu na massa associativa um inédito espírito de participação cívica e activa na vida do clube. Todos os actos importantes, como eleições ou assembleias gerais, trazem consigo milhares de sócios ávidos de dar a sua voz e os seus votos em prol do clube. Longe vão os tempos onde a criação da SAD foi votada numa AG do clube em pleno verão, com uma mísera participação de centena e meia de sócios. Esses eram os tempos de união, onde ninguém questionava as decisões dos sábios dirigentes leoninos. Hoje temos debate e confronto de ideias, projectos para o clube personificados pelos seus defensores e caminhos diferentes a percorrer. 
Um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Reino Unido, assentou a sua liderança há cerca de três séculos, quando o parlamento inglês assumiu o controlo da sua nação. Ao contrário dos demais reinos, cuja vontade do monarca era a vontade do estado, no Reino Unido era no debate e confronto de ideias entre conservadores e progressistas que se traçavam as linhas orientadoras do seu país. E ainda hoje o Reino Unido é uma referência quando falamos de nações desenvolvidas e com alto índice de participação democrática.
É por isso que toda a conversa de "união" em torno do Sporting me causa urticárias. Primeiro, porque a ideia de progresso assente em unanimismo é uma falácia, como o Reino Unido muito bem exemplifica. Depois, porque a conversa da "união" traz subjacente aquela ideia tão tipicamente portuguesa, de que só a "elite", os "ilustres" e os "ungidos" é que sabem o que é bom para o "povinho". A união é uma treta.
No desporto, o que cria as "uniões" em torno do seu presidente são o seu trabalho e o seu resultado. Bruno de Carvalho, mesmo sem ter sido campeão de futebol, conseguiu agregar os sportinguistas em seu torno porque projectou o nosso clube num patamar de onde já tínhamos sido arredados. Mas foi a falta de um título de campeão nacional que iniciou o desgaste da sua imagem junto dos sócios. Frederico Varandas, mais do que apelos de ocasião, terá de trilhar o mesmo caminho, como o Cherba tão bem expôs. E esse caminho também passa por escutar as críticas ao seu trabalho, ouvir quem pensa diferente de si e ter a coragem de tomar as decisões que são as que melhor servem os interesses do Sporting Clube de Portugal, não as da elite "unionista" que pululando por aí.
Quero é que o meu clube seja bem dirigido, bem defendido e bem representado. Quanto à "união", podem ir metê-la num certo sítio.

8 comentários:

  1. Sim tens razão,Bruno de Carvalho projectou o Sporting para um patamar onde nunca tinha estado.....O patamar do ridículo,da mal criadagem ,do anedotário da paródia e por aí fora.....

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    1. Não sei o que será pior: não conseguir ver ou não querer ver. Seja como for o padrão aproxima-se da cegueira. Até as toupeiras, pelos vistos(!), querendo, conseguem ver qualquer coisita ...

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  2. Claro, os Sportingados, aziados, ratos e outros mimos dirigidos para dentro eram afinal o fortalecer dos laços entre a malta. Para não falar noutras questões que se reportam a fomentar a crispação de ânimos.

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    1. Fernando Gonçalves e AJSSB, se só conseguem vislumbrar isso dos mandatos de BdC, se é esse o único patamar que acham que alcançou, ficamos conversados sobre ridículo, anedotário da paródia, mimos dirigidos para dentro, fortalecer de laços entre a malta e outras coisas mais.
      O discernimento é a qualidade que permite reconhecer os defeitos como as virtudes, os insucessos como os sucessos.
      E é o discernimento que facilita a credibilidade dos nossos actos e das nossas opiniões.
      Saudações leoninas

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Álvaro Dias Antunes a honestidade intelectual do seu comentário é deveras demonstrativa, de um simplismo de raciocínio. Partindo de um comentário ao tema da União dentro do Clube, consegue vislumbrar e extrapolar para uma análise crítica dos mandatos de BdC. Votei, em Bruno de Carvalho, logo não posso reduzir os mandatos ao que você pensa, pois manifestei confiança e esperança no seu trabalho, não sendo contudo acérrimo defensor do modo como era feita a sua comunicação.
      O constante arregimentar de inimigos ao clube, os ex-dirigentes. Num segundo momento, como se estes não chegassem, passou a encontrar os adversários dentro do Sporting: os jogadores da equipa de futebol; os treinadores da equipa de futebol; os sócios e adeptos que discordavam de si. Nos tempos mais próximos já pairava sobre nós a teoria da conspiração. Isto, de uma maneira curta, é um pouco que no meu entender contribui para a separação, e é visível, basta “andar pelas redes sociais, falar com alguns adeptos. Por outro lado e fora da sua análise simplista, poderia aqui abordar aspetos positivos dos mandatos de BdC, mas tal não é o propósito deste post e comentário.
      Assim Álvaro Dias Antunes, partilhando pensamentos dir-lhe-ei que o discernimento é a qualidade que permite reconhecer os defeitos como as virtudes, os insucessos como os sucessos. E é o discernimento que facilita a credibilidade dos nossos atos e das nossas opiniões.

      SL Sempre

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    4. AJSSB a única coisa que procurei salientar (num tema que até não é o da União dentro do Clube mas sim o da "constatação" pelo autor da fragilidade e da hipocrisia dessa União) foi que, apenas olhar para o lado negativo de qualquer face da moeda, não contribui em nada para "fortalecer os laços entre a malta".
      Do mesmo modo que não tolero os mimos de Sportingados, aziados, ratos, croquetes e outros também não compactuo com os epítetos de brunistas , brunettes, tresloucados e afins.
      Reconheço o pleno direito ao espírito e à opinião crítica de QUALQUER SPORTINGUISTA! Não reconheço o direito à constituição de facções, grupinhos, grupelhos, o que quer que seja que constitua apena a organização da cíclica maledicência que eternamente mina este Clube. (E nem me venham com a história de BdC, porque a existência deste clima de cisma interno permanente já tem, no mínimo 40 anos).
      Se preferem eternizar essa discussão de quem chama o quê a quem ou de diabolizar dirigentes e/ou associados atribuindo-lhes a apternidade de todas as maleitas do Clube, permitam-me que ache isso um exercício cada vez mais fútil e inconsequente. O tempo é de todos nós procuramos encontrar e aglutinar ideias e acções que permitam o sucesso do Clube.
      Saudações leoninas

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