terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A anatomia de uma época e o futuro que aí vem (*)

Escrevo este texto no dia seguinte à derrota com o Braga. Presenciei incrédulo o que se ia passando no relvado. Jogadores que aos 15 minutos já demonstravam claro cansaço, físico e mental, completamente incapazes de agitar o jogo, diante dum adversário que entrou medroso em campo, mas cedo percebeu que tinha diante de si a sombra de uma equipa.

Não sei o que mais nos espera nesta época. Arredados prematuramente das competições europeias, só um milagre nos levará a ganhar 8 pontos ao líder. Quando acabou o último campeonato, em Maio, ninguém estaria à espera deste descalabro. Sabíamos que ia ser difícil, os nossos melhores jogadores cansados do Europeu, a máquina lampiânica bem oleada a comandar os colinhos, o clube da fruta desesperado em recuperar protagonismo. Fizemos o que na altura considerei o correto: dar carta branca ao treinador, aumentar o orçamento, encher o plantel de jogadores rotulados de “experientes” e opções válidas aos titulares da época passada. Enfim, apostar tudo o que podíamos, até porque estávamos com os cofres cheios com as vendas de João Mário e Slimani.

Aqui chegados não nos resta outra coisa senão constatar o óbvio: foi um fiasco. Salvo alguns (bons) acrescentos, continuamos com o grande problema que se arrasta desde tempo do Leonardo Jardim, que é a falta de alternativas viáveis. Adrien e William Carvalho continuam sem substituto à altura, mesmo depois de gastarmos milhões de euros em Magrões, Vitores, Paulistas, Petrovics, Melis, Ruizes, Slavchevs, etc. Os nossos laterais são sofríveis, os centrais insuficientes face à incapacidade geral da equipa em defender bem, não temos um segundo avançado competente, apesar de termos despachado o que melhor se portou nessa posição (Montero). Mais golos sofridos, menos golos marcados, posse e troca de bola em demasia, pouca bola em zona de finalização, inexistência de golos marcados em contra-ataque. Afinal o que nos resta?

Nos últimos anos a nossa fé tem assentado no facto de irmos mantendo o onze base, pois acreditamos que será desta que conseguiremos construir o tal plantel equilibrado e competente para enfrentarmos 10 meses de futebol intensivo. Se no final desta época virmos partir Adrien, William ou Rui Patrício, onde assentará a nossa fé? No voluntarismo do presidente?

O voluntarismo do presidente deu-nos coisas boas nos últimos anos, como assistir a um jogo de futebol domingo à noite, em Dezembro, ao lado de 42 mil adeptos. Deu-nos o pavilhão desportivo. E se a equipa ainda tem um núcleo duro, deve-se à sua resistência em vende-lo ao primeiro clube que acene com uns euros. Contudo, esta direcção fracassou num ponto que me parece crucial: o scouting. Infelizmente não conseguiu apetrechar a equipa de jogadores competentes, condizentes com as nossas necessidades. Pelo contrário, ficou sempre a sensação de algum amadorismo na forma como a política de contratações foi sendo conduzida.


Em 2017 teremos eleições. Apesar de globalmente estar satisfeito com a actual presidência, estou expectante para ver as alternativas que concorrerão consigo. Esperemos que quem vier nos próximos 3 anos traga a solução milagrosa para o nosso departamento de scouting. E, já agora, que não estrague o que de bom se fez.

(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 22-12-2016

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