Escrevo este
texto no dia seguinte à derrota com o Braga. Presenciei incrédulo o que se ia
passando no relvado. Jogadores que aos 15 minutos já demonstravam claro
cansaço, físico e mental, completamente incapazes de agitar o jogo, diante dum
adversário que entrou medroso em campo, mas cedo percebeu que tinha diante de
si a sombra de uma equipa.
Não sei o que
mais nos espera nesta época. Arredados prematuramente das competições
europeias, só um milagre nos levará a ganhar 8 pontos ao líder. Quando acabou o
último campeonato, em Maio, ninguém estaria à espera deste descalabro. Sabíamos
que ia ser difícil, os nossos melhores jogadores cansados do Europeu, a máquina
lampiânica bem oleada a comandar os colinhos, o clube da fruta desesperado em
recuperar protagonismo. Fizemos o que na altura considerei o correto: dar carta
branca ao treinador, aumentar o orçamento, encher o plantel de jogadores
rotulados de “experientes” e opções válidas aos titulares da época passada.
Enfim, apostar tudo o que podíamos, até porque estávamos com os cofres cheios
com as vendas de João Mário e Slimani.
Aqui chegados
não nos resta outra coisa senão constatar o óbvio: foi um fiasco. Salvo alguns
(bons) acrescentos, continuamos com o grande problema que se arrasta desde
tempo do Leonardo Jardim, que é a falta de alternativas viáveis. Adrien e
William Carvalho continuam sem substituto à altura, mesmo depois de gastarmos
milhões de euros em Magrões, Vitores, Paulistas, Petrovics, Melis, Ruizes,
Slavchevs, etc. Os nossos laterais são sofríveis, os centrais insuficientes
face à incapacidade geral da equipa em defender bem, não temos um segundo
avançado competente, apesar de termos despachado o que melhor se portou nessa
posição (Montero). Mais golos sofridos, menos golos marcados, posse e troca de
bola em demasia, pouca bola em zona de finalização, inexistência de golos
marcados em contra-ataque. Afinal o que nos resta?
Nos últimos anos
a nossa fé tem assentado no facto de irmos mantendo o onze base, pois
acreditamos que será desta que conseguiremos construir o tal plantel
equilibrado e competente para enfrentarmos 10 meses de futebol intensivo. Se no
final desta época virmos partir Adrien, William ou Rui Patrício, onde assentará
a nossa fé? No voluntarismo do presidente?
O voluntarismo
do presidente deu-nos coisas boas nos últimos anos, como assistir a um jogo de
futebol domingo à noite, em Dezembro, ao lado de 42 mil adeptos. Deu-nos o
pavilhão desportivo. E se a equipa ainda tem um núcleo duro, deve-se à sua
resistência em vende-lo ao primeiro clube que acene com uns euros. Contudo,
esta direcção fracassou num ponto que me parece crucial: o scouting.
Infelizmente não conseguiu apetrechar a equipa de jogadores competentes,
condizentes com as nossas necessidades. Pelo contrário, ficou sempre a sensação
de algum amadorismo na forma como a política de contratações foi sendo
conduzida.
Em 2017 teremos
eleições. Apesar de globalmente estar satisfeito com a actual presidência,
estou expectante para ver as alternativas que concorrerão consigo. Esperemos
que quem vier nos próximos 3 anos traga a solução milagrosa para o nosso
departamento de scouting. E, já agora, que não estrague o que de bom se fez.
(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 22-12-2016
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