quarta-feira, 1 de maio de 2019

De manhã começa o dia...

Foram dois grandes jogos. Primeiro contra a nossa besta negra do futsal, o Inter Movistar. Não nos debatíamos só contra o campeão europeu, também lutávamos contra aquela fatalidade que atinge sempre o nosso clube nos momentos decisivos. Ou "À terceira era de vez" ou "Não há duas sem três". E nisto dos adágios populares, sai-nos sempre o pior na rifa. Quis a História (e o empenho dos jogadores e equipa técnica) que passássemos esse Bojador que é a equipa de Ricardinho. Faltava-nos passar o cabo das Tormentas e transformá-lo na nossa Boa Esperança. E se há clube no mundo que consegue passar o difícil para se estatelar no fácil, esse clube é o Sporting. Mas os nossos não tremeram. Mandaram às malvas todo o fatalismo e maus presságios que nestas alturas se levantam e arrancaram para uma vitória épica e histórica.
A festa no Cazaquistão foi bonita, assim como foi a sua continuação em Lisboa, mesmo sem espera no aeroporto. Foi uma tremenda manifestação de sportinguismo, que não se via desde sei lá quando. Numa altura em que o clube vive uma guerra fratricida, a falta que faz uma festa destas. Foi bonita, linda, espetacular e tantos outros adjectivos que me faltam para caracterizar aquela grande festa.
Parece no entanto que no meio de tanta hora de festa, algures no turbilhão de alegria e excitação que estas celebrações demonstram, alguém decidiu cantar uma música que fala de foder lampiões logo pela manhã. Foi o suficiente para lá termos de levar com aquela até então silenciosa mas ressabiada mancha negra do nosso vizinho da segunda circular. Lampiões indignados com aquele cântico, rasgavam as suas vestes como o Macaco em Vila do Conde. Clamavam por ouvir uma condenação da nossa parte, ao mesmo tempo que nos chamavam pequeninos por não nos esquecermos deles no momento dos festejos.
Se há coisa que os nossos vizinhos detestam, é ver os outros festejar seja o que for. O episódio de ligar o sistema de rega do relvado enquanto o porto festejava a vitória é paradigmático. As capas dos jornais desportivos afectos ao benfica, no dia seguinte a vitórias europeias de outros clubes, também é disso um bom exemplo. No final de contas, a sua postura não é muito diferente dos adversários, que também ficam azeados quando é o benfica que ganha. A diferença é que uns assumem a rivalidade, enquanto outros atiram-nos com a treta dos dois clubes de Portugal, o benfica e o anti-benfica, preferindo vomitar a sua bílis escondidos, ficando à espera de uma qualquer pretexto para sair do seu esconderijo e impingir-nos a sua pseudo-moralidade falsa e arrogante.
O clube cujos adeptos imitam constantemente o som do very-light, cantam com alegria "a cabeça do Ficcini" ou "deixem a lagarta morrer", está indignado por uns minutos de música numa festa só nossa. Dizem-me que é diferente, que o very-light ou a cabeça do Ficcini só são entoados nos jogos contra nós, enquanto nós cantamos "quem não salta é lampião" até quando jogamos contra o Oleiros. Como se fosse atenuante cuspir-nos na nossa cara, em vez de nas nossas costas. Ou, mais gritante ainda, se "foder lampiões pela manhã" fosse tão grave como cantar sobre mortes que ocorreram. "Ah e tal, mas foi o vosso speaker que começou, logo é uma posição oficial do clube!". Perante este argumento lampiónico, digo apenas que João Gabriel e o Folclore se estarão a rir às gargalhadas.
Fico incomodado quando oiço cânticos a chamar macaco ao Eusébio ou quando vieram com a Chapecoense num jogo de hóquei contra o porto, porque estamos a insultar uma pessoa directamente de forma ignóbil ou porque estamos a trazer à baila uma tragédia que aconteceu. Agora, num meio onde é usual ouvir-se e gritar-se palavrões, ter de levar com gente indignada por causa duma música onde está um "foder", é caso para se dizer: Bardamerda para vocês todos.
Quanto ao facto de cantarmos "quem não salta é lampião" ou "de manhã começa o dia, a foder os lampiões", tenham paciência. Vocês são nossos rivais e não gostamos de vocês. Assumimos isso há muito tempo. Rivalidade é isto, é picarmos os outros, sem termos de ser rasteiros. Porque depois, ao final do dia, lá estaremos todos juntos a beber minis no café da esquina. 
Não somos hipócritas para dizer que não falamos dos outros. Somos sinceros.
Não somos sobranceiros para dizer que estamos acima das rivalidades. Assumimos essa rivalidade.
Não somos arrogantes ao ponto de afirmarmos que não ligamos aos rivais. Sem rivalidades o futebol teria tanta paixão como o campeonato nacional de mini-golf.
Somos nós. Somos sportinguistas.

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