terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Prenúncio para o futuro (*)

Não tenhamos dúvidas. O benfica será, muito provavelmente, tetracampeão já nesta época. E se não acontecer algo extraordinário, como a implementação do vídeo-árbitro ou o avião com a equipa encarnada cair no mar, chegarão ao penta, hexa ou septa.

Quem se lembra do futebol português entre 1990 e 2011, associará a palavra “Sistema” à consagração portista. O Sistema dependia em grande parte do controlo que o porto impunha nos órgãos federativos e da liga, nomeadamente no conselho de arbitragem. Mas o Sistema nunca conseguiu ultrapassar os limites físicos do clube que lhe deu corpo. O Sistema dependia em grande parte dos árbitros recrutados nas associações de futebol do Norte, como Soares Dias (pai), Miranda de Sousa, José Guímaro, Martins dos Santos, os manos Calheiros, etc. Nessa época ainda existiam bons árbitros, principalmente a Sul, que garantiam alguma fé na arbitragem, como Rosa Santos, Veiga Trigo, Alder Dante, Vitor Correia ou até Jorge Coroado (quando não tinha azia). Também a comunicação social, esmagadoramente sedeada em Lisboa e consumida por não-portistas, era um entrave ao Sistema. Eram os tempos em que os telejornais abriam com as roubalheiras perpetradas pelos andrades, a SIC e a TVI promoviam debates pela verdade desportiva, etc.

O estado lampiânico teve como grande mérito ultrapassar os limites do Sistema. Enquanto o Sistema não conseguia recrutar árbitros a sul do Mondego, pois eram raros os portistas aí, o estado lampiânico recruta apitadores com a mesma facilidade em Lisboa, Faro, Porto ou Braga, ou seja, não estão limitados por factores geográficos. Os árbitros desta nova geração estão tão confortavelmente protegidos que já não escondem as suas preferências clubísticas encarnadas, brindando-nos com roubalheiras escandalosas, como esta recente do Sporting-Braga em “Bês”. Mas se antes ainda tínhamos um Rosa Santos ou um Veiga Trigo onde depositar esperanças, hoje agarramo-nos a quê? Artur Soares Dias? Jorge Sousa? Mau, muito mau. E tudo isto se passa com a complacência da comunicação social, que apesar de dispor de meios de análise que não dispunha há 10 ou 20 anos, prefere assobiar para o ar e agradar à nação lampiónica que lhe compra os jornais. Não fosse alguma blogosfera, o estado lampiânico passaria incólume.

Com a actual fornada de árbitros e esta comunicação social conivente, não vislumbro hipóteses para os adversários do benfica. A base da nossa super-equipa da época passada foi suficiente para Portugal ganhar um inédito título de campeão europeu, mas não chega para sermos campeões de clubes em Portugal, contra uma equipa de jogadores medianos, treinados por uma personagem com o carisma de uma alface. 

Renovar esta geração medíocre de árbitros demorará alguns anos, pelo que ainda teremos muitas épocas de ferraris vermelhos de apito na boca. A esperança poderá residir na implementação do vídeo-árbitro, mas o braço do estado lampiânico na comunicação social já começou a campanha para o desacreditar. E ao nosso Sporting, que nos bastará?

Quando Santana Lopes chegou ao Sporting, em 1995, tentou despertar as consciências sobre o estado do futebol, mas a política levou-o para outros voos. Dias da Cunha, com o seu tom de voz arrastado, enrolado e pouco entendível, tentou no inicio do século desmascarar o Sistema (foi ele que criou a denominação). Foi humilhado dentro e fora do clube e corrido do Sporting. Quem lhe seguiu preferiu conformar-se com a evidência de que era impossível superar o Sistema, o que resultou no que todos sabemos.


O próximo acto eleitoral será determinante, pois entre tantas escolhas, iremos decidir a forma de combater o estado lampiânico nos próximos tempos. Se ficaremos conformados, como no pós-Dias da Cunha, ou se continuaremos a berrar para nos fazermos ouvir, nem que seja ao pontapé e à cabeçada como disse o Manuel Moura dos Santos, mas sempre dependentes do habilidoso de apito na boca.

(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 12-01-2017

A anatomia de uma época e o futuro que aí vem (*)

Escrevo este texto no dia seguinte à derrota com o Braga. Presenciei incrédulo o que se ia passando no relvado. Jogadores que aos 15 minutos já demonstravam claro cansaço, físico e mental, completamente incapazes de agitar o jogo, diante dum adversário que entrou medroso em campo, mas cedo percebeu que tinha diante de si a sombra de uma equipa.

Não sei o que mais nos espera nesta época. Arredados prematuramente das competições europeias, só um milagre nos levará a ganhar 8 pontos ao líder. Quando acabou o último campeonato, em Maio, ninguém estaria à espera deste descalabro. Sabíamos que ia ser difícil, os nossos melhores jogadores cansados do Europeu, a máquina lampiânica bem oleada a comandar os colinhos, o clube da fruta desesperado em recuperar protagonismo. Fizemos o que na altura considerei o correto: dar carta branca ao treinador, aumentar o orçamento, encher o plantel de jogadores rotulados de “experientes” e opções válidas aos titulares da época passada. Enfim, apostar tudo o que podíamos, até porque estávamos com os cofres cheios com as vendas de João Mário e Slimani.

Aqui chegados não nos resta outra coisa senão constatar o óbvio: foi um fiasco. Salvo alguns (bons) acrescentos, continuamos com o grande problema que se arrasta desde tempo do Leonardo Jardim, que é a falta de alternativas viáveis. Adrien e William Carvalho continuam sem substituto à altura, mesmo depois de gastarmos milhões de euros em Magrões, Vitores, Paulistas, Petrovics, Melis, Ruizes, Slavchevs, etc. Os nossos laterais são sofríveis, os centrais insuficientes face à incapacidade geral da equipa em defender bem, não temos um segundo avançado competente, apesar de termos despachado o que melhor se portou nessa posição (Montero). Mais golos sofridos, menos golos marcados, posse e troca de bola em demasia, pouca bola em zona de finalização, inexistência de golos marcados em contra-ataque. Afinal o que nos resta?

Nos últimos anos a nossa fé tem assentado no facto de irmos mantendo o onze base, pois acreditamos que será desta que conseguiremos construir o tal plantel equilibrado e competente para enfrentarmos 10 meses de futebol intensivo. Se no final desta época virmos partir Adrien, William ou Rui Patrício, onde assentará a nossa fé? No voluntarismo do presidente?

O voluntarismo do presidente deu-nos coisas boas nos últimos anos, como assistir a um jogo de futebol domingo à noite, em Dezembro, ao lado de 42 mil adeptos. Deu-nos o pavilhão desportivo. E se a equipa ainda tem um núcleo duro, deve-se à sua resistência em vende-lo ao primeiro clube que acene com uns euros. Contudo, esta direcção fracassou num ponto que me parece crucial: o scouting. Infelizmente não conseguiu apetrechar a equipa de jogadores competentes, condizentes com as nossas necessidades. Pelo contrário, ficou sempre a sensação de algum amadorismo na forma como a política de contratações foi sendo conduzida.


Em 2017 teremos eleições. Apesar de globalmente estar satisfeito com a actual presidência, estou expectante para ver as alternativas que concorrerão consigo. Esperemos que quem vier nos próximos 3 anos traga a solução milagrosa para o nosso departamento de scouting. E, já agora, que não estrague o que de bom se fez.

(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 22-12-2016

O campeonato de Portugal e o palmarés oficial (*)

Ponto prévio: considero despropositado o Sporting vir agora, passados quase 80 anos desde a mudança de formato da competição, reivindicar a contabilização dos 4 campeonatos de Portugal conquistados, somando-os ao palmarés oficial de campeão nacional. Como também considerei despropositado a revisão que foi aplicada há uns anos, quando a FPF incluiu a conquista de 4 ligas experimentais no palmarés de campeão nacional. E porque a FPF abriu a “caixa de Pandora”, passou então a ser legítimo que, passado estes anos todos, possamos reivindicar algo que por lapso, inacção ou comodismo, deixámos que se perdesse.

No passado domingo li uma entrevista que o DN fez a alguns “historiadores” desportivos e reparei que um deles deixou-nos a seguinte pérola:
«O Campeonato de Portugal era uma prova em sistema de eliminatórias, em que os participantes eram apurados pelos campeonatos regionais", razão pela qual defende que "pode ser considerado como antecessor da Taça de Portugal" e nesse sentido admite que "eventualmente, o seu palmarés podia ser incluído no da actual Taça de Portugal", que começa a ser disputada na época seguinte (1938/39) à extinção do Campeonato de Portugal.». Ora, visto assim, a coisa até pode fazer sentido. Era uma prova a eliminar que acabou, tendo na época seguinte sido criada outra com igual formato, chamada Taça de Portugal. O “problema” é que o vencedor do Campeonato de Portugal era aclamado como campeão de Portugal, enquanto o vencedor da Taça de Portugal era…o vencedor da Taça de Portugal. Portanto, estamos a comparar alhos com batatas.

E nos outros países? Será que os respectivos palmarés também descriminam os campeões apurados em eliminatórias e em ligas? Olhemos então para a forma como é contabilizado o palmarés de campeão nacional noutros países (a fonte é a Wikipédia):
- Em Itália, o campeonato de futebol disputa-se desde 1898. Até 1905 era disputado através de jogos a eliminar. A partir desse ano começou a ser disputado sob a forma de liga, onde todos jogavam contra todos. O palmarés oficial contabiliza os campeões de Itália desde o primeiro campeonato, em 1898;
- Na Alemanha, o campeonato de futebol disputa-se desde 1903. Até 1933 era a eliminar, passando depois deste ano a ser disputado em forma de liga. O palmarés oficial contabiliza os campeões da Alemanha desde 1903;
- Em Espanha e Inglaterra, as competições a eliminar não se chamavam campeonatos mas sim Taças (Taça do Rei e Taça de Inglaterra) e mantiveram sempre esse formato e nome até hoje. Os respectivos campeonatos não substituíram essas competições;

A teoria dos historiadores ouvidos pelo DN é facilmente desmontada, por analogia a outros países. A reivindicação do Sporting, mesmo com oito décadas de atraso, é legítima. Será necessário recorrer à UEFA ou à FIFA para obrigarmos a FPF a fazer o mesmo que as suas congéneres europeias?

(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 12-10-2016

ONDE É QUE JÁ VI ISTO? (*)

Quem nasceu no final dos anos setenta, início de oitenta, terá certamente assistido à ascensão do porto de terceiro grande a detentor da hegemonia do futebol português, entre 1994-2013. No espaço de 19 anos, o clube da fruta ganhou o campeonato por 14 vezes, a que juntou uma liga dos campeões, uma taça UEFA e uma Liga Europa.

A forma como os portistas atingiram o patamar mais alto do nosso futebol recente deveu-se a um conjunto de circunstâncias que foram resumidas na palavra “sistema”. O “sistema” consistia, grosso modo, em dois tipos de controlo: directo, através do domínio de sectores-chave do dirigismo futebolístico, como o conselho de arbitragem e de disciplina. Indirecto, através do poder económico, plasmado no aparecimento e ascensão meteórica da OLIVEDESPORTOS, que monopolizou a gestão dos direitos televisivos de todos os clubes profissionais de futebol, do qual dependiam para gerir os seus orçamentos deficitários. A eficácia do sistema ficou demonstrada ao longo dos vários anos em que funcionou: arbitragens parciais e tendenciosas em jogos-chave do campeonato, nomeadamente no início da época, quando as equipas ainda não estão a jogar a 100%, e nos jogos grandes, ainda sem a cobertura mediática dos dias de hoje. Jogos absurdamente fáceis contra a maioria dos clubes ditos “pequenos” do nosso campeonato, cujo maior exemplo era o Salgueiros, equipa que fazia a vida negra a benfica e Sporting mas acabava sistematicamente goleada pelo porto. Com a competição caseira completamente controlada, os portistas podiam-se virar para as provas europeias, bem folgados, o que em parte explicava o seu sucesso na Europa, com o respectivo retorno financeiro.

O apito dourado pôs a nu as engrenagens do sistema portista, devidamente esmiuçadas pela comunicação social, criando um vazio no poder. Mas em vez de assistirmos à moralização do futebol português, o que vimos foi o assalto lampião ao poder, completamente branqueado pela comunicação social, transformada em máquina de propaganda encarnada.

O déjà vu que hoje passa diante dos meus olhos é este: uma equipa que continua a ser beneficiada em momentos chave da época, graças ao domínio que hoje tem nas instituições, como o conselho de arbitragem. Uma equipa que passeia nos jogos contra as equipas “pequenas”, obtendo vitórias fáceis onde outros têm de correr 90 minutos para segurar uma vitória pela margem mínima. O facto de alguns destes clubes “pequenos” terem assinado o seu acordo de venda dos direitos televisivos no gabinete do presidente do benfica, não será mera coincidência. A boa campanha europeia benfiquista nesta época, em parte devida à sorte de não ter defrontado equipas fortes, também se deve à folga obtida nas competições internas, ajudando a reconstruir o mito portista de “se somos beneficiados cá dentro, como é que estamos entre os melhores lá fora?”

Ao controlo das instituições futebolísticas e do poder económico sobre os clubes pequenos, este novo sistema benfiquista – inspiradamente baptizado como “estado lampiânico” – juntou um outro, que o portista nunca conseguiu dominar: o da manipulação da opinião pública, manifestado pela forma sincronizada como os seus painéis de comentadores cantam o coro do são gabriel ou, mais maquiavelicamente, como os jornaleiros “isentos” defendem o benfica e atacam os seus rivais directos, em especial o Sporting. Juntem a isto os porcos giles que proliferam nas redes sociais, a coberto da falsa capa de “adepto isolado”, e temos o anel de ferro encerrado em torno do futebol português.


O sucesso portista entre 1994 e 2012 também se deveu à falta de combatividade, cobardia e mesquinhez que grassava dentro das direcções dos seus rivais. Assim se explica como o mais pequeno dos grandes clubes portugueses teve sucesso durante tanto tempo seguido. O sucesso benfiquista dependerá igualmente da forma como os seus rivais reagirão à sua ascensão. Do lado do porto, a tendência parece ser de declínio, entre um presidente já em decadência, rodeado de uma clique belicosa e sedenta de poder, mas com um défice orçamental galopante, lembrando o benfica dos anos 90. E do nosso lado como será? Esta é a questão que temos de colocar a todos nós, enquanto adeptos e sócios sportinguistas. Se queremos voltar a ver um filme que já vimos. Ou não.

(*) - Texto publicado na Tasca do Cherba, a 18-03-2016

05 de Janeiro de 2013 – Lembra-te SEMPRE deste dia (*)

No dia 5 de Janeiro de 2013, fez há dias 3 míseros anos, perdíamos no nosso estádio por 1-0 contra o Paços de Ferreira. No final da jornada estávamos em 12.º lugar, apenas um ponto acima da linha de água. Em treze jogos tínhamos 2 vitórias, 6 empates e 5 derrotas, 11 golos marcados e 16 sofridos.

No nosso plantel pontificavam estrelas como Xandão, Boulahrouz, Pranjic, Jeffren, Viola ou Labyad, orientados por um tal de Franky Vercauteren. Rui Patrício era sistematicamente humilhado nas conferências de imprensa com o seu “vamos levantar a cabeça”. Adrien Silva era olhado como mais uma aposta perdida na prata da casa. Rinaudo e Capel remavam, sem grande êxito, contra uma enxurrada que nos empurrava para o precipício. Uma assistência de 20 mil adeptos em Alvalade era uma boa casa. “Ao futebol português faz falta um Sporting forte”, diziam hipocritamente os nossos rivais, enquanto esfregavam as mãos perante a iminência da bipolarização. A “belenização” do Sporting era um fantasma que já não pairava sobre nós, estava ali mesmo sentado ao nosso lado, a rir-se na nossa cara. Nos programas desportivos eram já os vários “notáveis” sportinguistas que falavam da inevitável falência e encerramento do clube, perspectivado a fundação de um “Sporting 2013” ou “Sporting XXI” a começar nos distritais.

Quando fores ao estádio e estiveres a segurar o teu cachecol por cima da cabeça, enquanto cantas a plenos pulmões o “Mundo sabe que” ao lado de mais 40 mil como tu, quando estiveres a gritar o nosso golo da nossa vitória aos 90 minutos, sim daquela vitória que nos continua a assegurar a liderança, quando abrires o jornal desportivo e vires que o teu clube está no topo da classificação, quando no trabalho ou no café algum aziado se queixar que “os lagartos estão todos eufóricos” ou “que parecem sapos inchados”, lembra-te sempre do dia 05 de Janeiro de 2013. Ri-te porque hoje estás aqui, mas lembra-te que foi há três anos que batemos no fundo e que foi por uma unha do Patrício ou por um cabelo do Slimani que hoje não estaríamos a ver o “Sporting XXI” a jogar com o Sacavenense pela subida à 2.ª Liga.


Por isso grita, grita muito, bem alto, não te preocupes se amanhã estamos ali ou acolá, grita porque hoje estamos aqui, aqui mesmo, no nosso lugar, de onde nunca devíamos ter saído, de onde nos tentaram tirar, empurrar, mas não conseguiram. Grita, grita, grita, grita “Sporting! Sporting! Sporting!”. Sempre!!!!

(*) - Texto publicado na Tasca do Cherba, a 13-01-2016

A confusão que vai naquelas cabecinhas (*)

Aqui há dias, num famoso blog de sportinguistas que tem como missão criticar a actual direcção do SCP, vi o blogueiro de serviço transcrever, com pompa e circunstância, o “eloquente” comentário de um dos seus utilizadores.

Dizia o comentário, escrito por um sportinguista de mais de sessenta anos, que já tinha conhecido várias direcções, umas piores, outras melhores, mas que todas haviam estado ao serviço do clube com espírito de missão. É e continua a ser sportinguista, mas confessa que este presidente lhe tirou o gosto de ver futebol, uma estranha sensação que não consegue explicar. O blogueiro completa o ramalhete dizendo que sentiu o mesmo ao ver o derby (sim, o de domingo passado).

Ao contrário do eloquente comentador, não tenho sessenta mas quase quarenta anos de vida, dos quais mais de trinta foram a apoiar o Sporting, como sócio e assíduo adepto no estádio. Atravessei a famosa seca dos 18 anos, antes de atravessar a actual. Vi o meu ídolo de infância – Futre – ir para o Fruta. Vi uma época nossa (1986/87) começar com um plantel de 13 jogadores. Vi Jorge Gonçalves a afundar o nosso clube. Vi Bobby Robson, que nos treinava em 1993 quando estávamos em primeiro lugar, ser despedido. Vi como terminou a guerra de 1993 entre Sporting e o Carnide, e quanto tivemos de pagar ao nosso rival pela brincadeira. Lembro-me dos treinadores de futuro que contratámos, como Waseige, Materazzi, Jozic, Cantatore, Carlos Manuel, etc., onde apenas o terceiro conseguiu acabar uma época. Neste século vi… bem, todos sabem o que aconteceu na época de 2012/13. E ai sim, confesso-vos, a minha falha de sportinguista: não foi uma sensação estranha, foi mesmo vergonha. Nem tive coragem de fazer sócia do clube a minha filha recém-nascida. Entretanto, logo em maio desse ano tudo mudou… e a minha filha já é sócia.

Já não é do meu tempo, mas sê-lo-á do eloquente comentador de sessenta anos, a história do nosso clube nos anos 60 e 70 do século passado. Espanta-me que não te tenha indignado, envergonhado ou sentido estranho, quando o nosso clube se promiscuia com o poder político então vigente, humilhando algumas das nossas figuras históricas (vide Carlos Gomes e Cândido de Oliveira).

São muitas as histórias do nosso clube centenário, umas mais felizes, outras nem por isso. Uma coisa nos une, enquanto sportinguistas: a paixão pelo clube e pelo futebol. A rivalidade com os nossos “ódios de estimação”, o formigueiro na barriga antes de cada jogo, o golo do Miguel Garcia gritado pelo falecido Perestrelo… quando nesses momentos de explosão de alegria, o melhor que temos para dizer é que não exuberamos porque não gostamos do presidente… A sério? Um prato de croquetes vale mais do que espetar três batatas ao benfica na Luz? O que interessa é o “respeitinho ser muito bonito” e depois andamos a lutar com o Braga e o Belenenses pelo 3.º lugar ou ponderar a falência da SAD? Paixão pelo clube é sinónimo de “lampionização” do Sporting? 40 anos após o 25 de Abril ainda há quem tenha prurido pelo presidente dizer que “O Sporting é dos sportinguistas” e não de uma elite? É este o Sporting que queremos?

Tenho dito.

(*) - Texto Publicado na Tasca do Cherba, a 04-11-2015