Não tenhamos
dúvidas. O benfica será, muito provavelmente, tetracampeão já nesta época. E se
não acontecer algo extraordinário, como a implementação do vídeo-árbitro ou o
avião com a equipa encarnada cair no mar, chegarão ao penta, hexa ou septa.
Quem se lembra
do futebol português entre 1990 e 2011, associará a palavra “Sistema” à
consagração portista. O Sistema dependia em grande parte do controlo que o
porto impunha nos órgãos federativos e da liga, nomeadamente no conselho de
arbitragem. Mas o Sistema nunca conseguiu ultrapassar os limites físicos do
clube que lhe deu corpo. O Sistema dependia em grande parte dos árbitros
recrutados nas associações de futebol do Norte, como Soares Dias (pai), Miranda
de Sousa, José Guímaro, Martins dos Santos, os manos Calheiros, etc. Nessa
época ainda existiam bons árbitros, principalmente a Sul, que garantiam alguma
fé na arbitragem, como Rosa Santos, Veiga Trigo, Alder Dante, Vitor Correia ou
até Jorge Coroado (quando não tinha azia). Também a comunicação social,
esmagadoramente sedeada em Lisboa e consumida por não-portistas, era um entrave
ao Sistema. Eram os tempos em que os telejornais abriam com as roubalheiras
perpetradas pelos andrades, a SIC e a TVI promoviam debates pela verdade
desportiva, etc.
O estado
lampiânico teve como grande mérito ultrapassar os limites do Sistema. Enquanto
o Sistema não conseguia recrutar árbitros a sul do Mondego, pois eram raros os
portistas aí, o estado lampiânico recruta apitadores com a mesma facilidade em
Lisboa, Faro, Porto ou Braga, ou seja, não estão limitados por factores
geográficos. Os árbitros desta nova geração estão tão confortavelmente
protegidos que já não escondem as suas preferências clubísticas encarnadas,
brindando-nos com roubalheiras escandalosas, como esta recente do
Sporting-Braga em “Bês”. Mas se antes ainda tínhamos um Rosa Santos ou um Veiga
Trigo onde depositar esperanças, hoje agarramo-nos a quê? Artur Soares Dias?
Jorge Sousa? Mau, muito mau. E tudo isto se passa com a complacência da
comunicação social, que apesar de dispor de meios de análise que não dispunha
há 10 ou 20 anos, prefere assobiar para o ar e agradar à nação lampiónica que
lhe compra os jornais. Não fosse alguma blogosfera, o estado lampiânico
passaria incólume.
Com a actual
fornada de árbitros e esta comunicação social conivente, não vislumbro hipóteses
para os adversários do benfica. A base da nossa super-equipa da época passada
foi suficiente para Portugal ganhar um inédito título de campeão europeu, mas
não chega para sermos campeões de clubes em Portugal, contra uma equipa de
jogadores medianos, treinados por uma personagem com o carisma de uma alface.
Renovar esta
geração medíocre de árbitros demorará alguns anos, pelo que ainda teremos
muitas épocas de ferraris vermelhos de apito na boca. A esperança poderá residir
na implementação do vídeo-árbitro, mas o braço do estado lampiânico na
comunicação social já começou a campanha para o desacreditar. E ao nosso
Sporting, que nos bastará?
Quando Santana
Lopes chegou ao Sporting, em 1995, tentou despertar as consciências sobre o
estado do futebol, mas a política levou-o para outros voos. Dias da Cunha, com
o seu tom de voz arrastado, enrolado e pouco entendível, tentou no inicio do
século desmascarar o Sistema (foi ele que criou a denominação). Foi humilhado
dentro e fora do clube e corrido do Sporting. Quem lhe seguiu preferiu
conformar-se com a evidência de que era impossível superar o Sistema, o que
resultou no que todos sabemos.
O próximo acto
eleitoral será determinante, pois entre tantas escolhas, iremos decidir a forma
de combater o estado lampiânico nos próximos tempos. Se ficaremos conformados,
como no pós-Dias da Cunha, ou se continuaremos a berrar para nos fazermos
ouvir, nem que seja ao pontapé e à cabeçada como disse o Manuel Moura dos
Santos, mas sempre dependentes do habilidoso de apito na boca.
(*) - Texto originalmente publicado na Tasca do Cherba, a 12-01-2017